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Relato de casos

Líquen plano pigmentoso: tratamento cirúrgico com dermoabrasão

Letícia Arsie Contin1; Daniela Menezes Costa2; Diego Leonardo Bet1; Lucas Bezerra Moura3; Alexandre Ozores Michalany4; Nilton Di Chiacchio5

Data de recebimento: 24/01/2014
Data de aprovação: 04/09/2014
Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito de Interesses: Nenhum

Abstract

O líquen plano pigmentoso é uma variante incomum de líquen plano e representa um desafio terapêutico. Foi realizada a dermoabrasão com boa resposta clínica para o tratamento dessa patologia na face em paciente do sexo feminino, portadora também de alopecia frontal fibrosante.

Keywords: DERMOABRASÃO; ERUPÇÕES LIQUENOIDES; ALOPECIA.


INTRODUÇÃO

Líquen plano pigmentoso (LPPig) é uma variante incomum de líquen plano (LP). É representado clinicamente por máculas acastanhadas reticulares, assintomáticas ou pruriginosas, geralmente encontradas em áreas expostas à luz solar e flexuras.1

Representa um desafio terapêutico, devido à pobre resposta a tratamentos tópicos e sistêmicos.2

 

RELATO DE CASO

Paciente do sexo feminino, de 38 anos, branca apresentando há quatro anos máculas eritematosas, que se tornaram acastanhadas, na região zigomática associada à rarefação dos supercílios (Figura 1). Foi tratada inicialmente com fórmula clareadora tríplice (hidroquinona 4%, tretinoína 0,05%, acetonido de fluocinolona 0,01%) e fotoproteção. Apesar do tratamento houve aumento na intensidade da coloração das lesões e uma biópsia foi indicada com hipóteses diagnósticas de melasma, ocronose e líquen plano pigmentoso (LPPig). O exame anatomopatológico mostrou dermatite de interface com incontinência pigmentar (Figura 2), compatível com LPPig.3 Devido à pouca resposta ao tratamento clínico e pelo impacto na qualidade de vida da paciente optamos pela dermoabrasão em pequena área de teste, com bom resultado. Realizamos então o tratamento de toda área afetada utilizando anestesia combinando bloqueio do nervo infraorbitário (lidocaína 2% sem vasoconstrictor) e infiltração de solução de lidocaína 0,5% nas áreas que mantinham sensibilidade. Para a dermoabrasão manual utilizamos lixas d'água com granulação 100 esterilizadas até formação de orvalho sangrante e remoção visual de todo o pigmento. Lixas com granulações de 400 e 600 também foram usadas para alcançar aspecto mais homogêneo e gradual nas bordas da lesão. A área abrasada foi ocluída com filme de poliuretano transparente estéril (Tegaderm®) durante cinco dias. Administrou-se profilaticamnete aciclovir oral durante dois dias antes e três dias após procedimento. Após a retirada do curativo (Figura 3) a paciente utilizou vaselina sólida até completa cicatrização, quando passou a utilizar clobetasol 0,05% creme ao longo de 30 dias, seguido por hidroquinona 4% creme durante três meses. Finalizando esse período introduzimos hidroxicloroquina 400mg/dia associado a tacrolimus 0,1% creme, após avaliação oftalmológica e de enzimas hepáticas.

O resultado cosmético satisfatório foi atingido e se manteve com leve eritema local aos seis e nove meses após procedimento (Figuras 4 e 5). Após 12 meses do procedimento, notamos recidiva em pequenas áreas, quando foi indicada nova dermoabrasão localizada; a paciente, entretanto, optou por continuar apenas com tratamento clínico por estar satisfeita com sua aparência (Figura 6).

 

DISCUSSÃO

O tratamento do LPPig é difícil e com poucos dados na literatura, que mostram resistência a corticoides tópicos e inibidores de calcineurina.4 Há relatos de resultados favoráveis com laser Nd:YAG,5 luz intensa pulsada6 e, apesar da controvérsia, com tacrolimus tópico.7

A dermoabrasão é descrita para o tratamento do LPPig e do melasma, patologias que compartilham a característica de ativação melanocítica e derrame pigmentar.8 O mecanismo proposto é a remoção física do pigmento existente pela abrasão. Contudo faltam relatos de caso mostrando os resultados e seguimento de longo prazo desse procedimento.

Nossa paciente apresentou melhora quase completa do quadro mantendo resultados até um ano de seguimento quando notamos pequenas áreas de recidiva. Destacamos a melhora da qualidade de vida da paciente após uma sessão de dermoabrasão, encontrando-se satisfeita com aspecto estético até o momento, mantendo-se apenas tratamento clínico (hidroxicloroquina e tacrolimus).

O LPPig foi recentemente relacionada à alopecia frontal fibrosante (AFF), podendo anteceder seu aparecimento.9 Isso pode sugerir acometimento sistêmico e necessidade de abordagem mais ampla da patologia. Nossa paciente foi diagnosticada com AFF pela perda de supercílios e recuo discreto de linha frontal capilar; a biópsia de couro cabeludo mostrou infiltrado liquenoide perifolicular, o que justifica nossa opção pelo uso concomitante da hidroxicloroquina .

Neste relato observamos que a dermoabrasão foi fundamental para remoção do pigmento facial associado ao LPPig. Apesar da boa evolução e satisfação da paciente com mínima recidiva no seguimento de 12 meses, entendemos serem necessários mais estudos para determinar o papel e as indicações da dermoabrasão no tratamento do LPpig.

 

Referências

1. Namazi MR. Lichen planus pigmentosus presenting as diffuse facial melanosis. J Drugs Dermatol. 2004;3(4):436-7.

2. Khanna N, Rasool S. Facial melanoses: Indian perspective. Indian J Dermatol Venereol Leprol. 2011;77(5):552-64.

3. Kanwar AJ, Dogra S, Handa S, Parsad D, Radotra BD. A study of 124 Indian patients with lichen planus pigmentosus. Clin Exp Dermatol. 2003;28(5):481-5.

4. Kim BS, Aum JA, Kim HS, Kim SJ, Kim MB, Oh CK, et al. Coexistence of classic lichen planus and lichen planus pigmentosus-inversus: resistant to both tacrolimus and clobetasol propionate ointments. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2008;22(1):106-7.

5. Kim J-E, Won C-H, Chang S, Lee MW, Jee-Ho, Choi JH, et al. Linear lichen planus pigmentosus of the forehead treated by neodymium:yttrium-aluminum-garnet laser and topical tacrolimus. J Dermatol. 2012;39(2):189-91.

6. Parada MB, Yarak S, Michalany NS. Tratamento do liquen plano pigmentoso com luz intensa pulsada. Surg Cosmet Dermatol. 2009;1(4):193-5.

7. Al Mutairi N, El-Khalawany M. Clinicopathological characteristics of lichen planus pigmentosus and its response to tacrolimus ointment: an open label, non-randomized, prospective study. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2010;24(5):535-40.

8. Kunachak S, Leelaudomlipi P, Wongwaisayawan S. Dermabrasion: A Curative Treatment for Melasma. Aesth Plast Surg. 2001;25(2):114-7.

9. Dovla NC. Frontal fibrosing alopecia and lichen planus pigmentosus: Is there a link? Br J Dermatol. 2013;168(2):439-42.

 

Trabalho realizado no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo - São Paulo (SP), Brasil.


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