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Cartas

Hipercromia periorbital

Paula Yoshiko Masuda1; Ana Luiza Grizzo Peres Martins1; Patrick Alexander Wachholz2

Data de recebimento: 09/03/2014
Data de aprovação: 13/06/2014

Abstract

Com a intenção de contribuir com o artigo de Lüdtke et al.(2013) publicado neste periódico, enviamos esta carta aos editores com considerações e comentários ao texto, que versa sobre o perfil de amostra de pacientes com hipercromia periorbital assistidos em unidade ambulatorial no Sul do país. Apresentamos nossas considerações e sugestões aos autores, bem como adicionamos comentários pertinentes ao trabalho publicado.

Keywords: HIPERPIGMENTAÇÃO; OLHO; DERMATOLOGIA.


Prezados Editores,

Com muito interesse analisamos o artigo de Lüdtke et al.,1 que descreve o perfil de amostra de pacientes com hipercromia periorbital (HPO) assistidos em unidade ambulatorial no Sul do país. Os autores introduziram o texto elegantemente, apresentando didática classificação da condição, complementando-a com informações pertinentes ao manejo diagnóstico e preventivo.

Contribuindo com essa seção introdutória, destacaríamos a interessante classificação das HPO proposta por Ranu et al.,2 que consideram outros possíveis fatores etiológicos em sua descrição: vascular; por hiperpigmentação pós-inflamatória; por efeito de sombra; constitucional (secundária à presença constitucional excessiva de pigmentação); e por outras causas.

Apesar da originalidade e relevante contribuição que os resultados apresentados por Lüdtke et al.1 oferecem, algumas considerações merecem destaque. Primeiramente, ao apresentar seus objetivos, os autores propõem-se a avaliar a prevalência da HPO na amostra estudada. De fato, estudos populacionais com delineamento transversal podem ser utilizados para o cálculo de medidas de frequência de agravos, como a prevalência de uma condição.

Sem informar, porém, qual foi a população total assistida no serviço de dermatologia no período do estudo, e com base no método de amostragem empregado, nenhuma medida de frequência poderia ser calculada. Causou confusão, pois, o fato de os autores informarem nos objetivos e também no resumo ser a avaliação da prevalência uma das metas do estudo e não apresentarem esses dados nos resultados ou na conclusão.

Ainda nos métodos, os critérios de exclusão apresentados pelos autores são contraditórios. Em teoria, esses critérios não deveriam ater-se ao oposto dos critérios de inclusão. Pelo contrário, recomenda-se que os critérios de exclusão sejam utilizados para excluir colaboradores que, tendo sido incluídos, manifestem voluntariamente o desejo de se retirar da pesquisa, ou sejam excluídos porque sua permanência causaria algum tipo de viés à análise dos dados ou riscos ao paciente (uso de medicamentos potencialmente teratogênicos em gestantes, por exemplo).

Ao empregar o teste de Kolmogorov-Smirnov para avaliar a simetria das variáveis contínuas, os autores deveriam ter descrito quais variáveis se apresentaram com distribuição normal segundo o teste, empregando nas tabelas apenas as medidas de tendência central compatíveis com o resultado desse teste (paramétricas ou não paramétricas), em vez de apresentar médias e medianas para todas as variáveis.

Por tratar-se de pesquisa descritiva, sentimos a ausência de referências a estudos que permitissem aos autores comparar seus achados com os resultados de inquéritos semelhantes. Em rápida busca na literatura, encontramos pelo menos dois estudos,2,3 publicados nos últimos três anos, que enriqueceriam sobremaneira a discussão desse artigo, especialmente no que tange à avaliação do perfil sociodemográfico e clínico da amostra.

Quando Lüdtke et al.1 afirmam que o predomínio de mulheres encontrado em sua amostra é condizente com a literatura, não informam a quais estudos se estão referindo. Ranu et al.,2 por exemplo, encontrou predomínio de homens (62.5%), em estudo transversal com prevalência de 20% de HPO (N=1000). Em relação à descrição de antecedentes familiares de HPO, os dados encontrados também foram bastante contraditórios: Verschoore et al.3 descreveram frequência de 21,2%, enquanto Ranu et al.2 encontraram 42,2% e Lüdtke et al.,1 63,7% de respostas afirmativas a essa questão.

Interessante análise realizada por Ranu et al.2 mediante a aplicação do teste de múltiplas comparações de Tukey entre as proporções dos diferentes tipos de HPO não evidenciou nenhuma correlação estatisticamente significativa com privação do sono, porém a presença de história familiar positiva evidenciou associação com a HPO por hiperpigmentação pós-inflamatória.

Em resumo, gostaríamos de parabenizar os autores pela originalidade da pesquisa, esperando que nossas contribuições possam enriquecer futuros desdobramentos de seu estudo.

 

Referências

1. Lüdtke, C. Souza, D.M., Weber, M.B., Ascoli, A., Swarowski, F., Pessin, C.. Perfil epidemiológico dos pacientes com hipercromia periorbital em um centro de referência de dermatologia do Sul do Brasil. Surg Comestic Dermatol. 2013;5(4):302-8.

2. Ranu H, Thng S, Goh BK, Burger A, Goh CL. Periorbital hyperpigmentation in Asians: an epidemiologic study and a proposed classification. Dermatol. Surg.2011;37(9):1297-303.

3. Verschoore M., Gupta S, Sharma V K, Ortonne J-P. Determination of Melanin and Haemoglobin in the Skin of Idiopathic Cutaneous Hyperchromia of the Orbital region (ICHOR): A Study of Indian Patients. J Cutan Aesthetic Surg.2012;5(3):176-82.

 

Trabalho realizado no Instituto Lauro de Souza Lima (ILSL) - Bauru (SP), Brasil.


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