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Artigo Original

Tratamento de unha em pinça pela técnica de Fanti

Guilherme Bueno de Oliveira1; Natalia Cristina Pires Rossi2; Doramarcia de Oliveira Cury2; Julia Maria Avelino Ballavenuto3; Carlos Roberto Antonio4; João Roberto Antonio5

Data de recebimento: 23/03/2014
Data de aprovação: 13/06/2014
Suporte financeiro: Nenhum
Conflitos de interesse: Nenhum

Abstract

Introdução: A unha em pinça caracteriza-se pela hipercurvatura da unha no eixo transversal, o que provoca o pinçamento do leito ungueal em sua porção distal. Acomete mais comumente os dedos dos pés, podendo ocorrer, mais raramente, nos dedos das mãos. Objetivo: Demonstrar a técnica de Fanti para tratamento de unha em pinça. Métodos: Onze pacientes com unha em pinça do Ambulatório de Cabelos e Unhas se submeterem a cirurgia para correção dessa patologia pela técnica de Fanti. Resultados: Todos os pacientes apresentaram melhora completa do quadro clínico no período de seguimento de 14 meses. Conclusões: Este trabalho demonstra a técnica cirúrgica de Fanti para correção da unha em pinça, podendo-se observar melhora anatômica e funcional das unhas operadas.

Keywords: DOENÇAS DA UNHA; UNHAS; UNHAS ENCRAVADAS.


INTRODUÇÃO

A hipercurvatura transversa da unha é classificada clinicamente em três tipos: 1.Unha em pinça, em que a hipercurvatura é aumentada ao longo do eixo, no sentido proximal para o distal (mais comum); 2. Unha em telha, em que há a hipercurvatura transversa, porém com as margens laterais permanecendo paralelas; e 3. Unha plicata, que mostra convexidade moderada de um ou de ambos os lados das margens laterais, que alteram abruptamente a angulação, penetrando, de forma cortante, nas porções laterais do leito ungueal.1-3

A unha em pinça acomete mais comumente os dedos dos pés, podendo ocorrer, mais raramente, nos dedos das mãos.2,3 Sua etiologia ainda não foi totalmente elucidada, sendo atribuída a vários fatores e doenças. À medida que evolui, a hipercurvatura pode ocasionar dor, desconforto quando do uso de calçados fechados, além de infecções secundárias.3-5

Diversas técnicas cirúrgicas têm sido propostas para a correção das deformidades ungueais, que variam de acordo com a finalidade do tratamento.6-8 A técnica de Fanti é alternativa proposta para a abordagem da unha em pinça, embora ainda não seja técnica consagrada pela literatura.

 

MÉTODOS

Foram selecionados 11 pacientes com unha em pinça do Ambulatório de Cabelos e Unhas. Todos os pacientes passaram por avaliação cirúrgica e radiológica com raio-X antes de se submeter à cirurgia. O estudo foi conduzido segundo as normas emanadas pela declaração de Helsinque de 2000.

Na técnica cirúrgica de Fanti, o objetivo é o alargamento do leito ungueal, diminuindo a constrição existente. A técnica completa consiste nos seguinte passos: (1) assepsia do dedo; (2) anestesia troncular com lidocaína a 2% sem vasoconstritor; (3) colocação de garrote; (4) remoção total da placa ungueal (Figura 1A); (5) fenolização da matriz ungueal (bilateral); (6) Incisão mediana longitudinal do leito até o plano ósseo, desde a borda livre, não atingindo a lúnula e excisão das bordas laterais e distal em "U" (Figuras 1B, 1C e 1D); (7) descolamento do leito (justaósseo) criando-se dois retalhos; (8) osteotomia da superfície ventral da falange distal se necessária e diagnosticada na avaliação radiológica (Figura 2); (9) sutura da ponta dos retalhos com fio mononáilon 4.0, lateralmente, na dobra ungueal (Figura 1E); (10) sutura hemostática em chuleio nas dobras laterais e distal com fio mononáilon 4.0 (Figura 1F); (11) remoção do garrote; (12) curativo. O curativo é mantido durante 48 horas e depois trocado diariamente. Os pontos são retirados no prazo de sete a 14 dias depois.

 

RESULTADOS

Os pacientes submetidos à cirurgia de Fanti apresentaram lâmina ungueal espessada, pinçamento em todo o eixo longitudinal, principalmente distal, e atrofia com queratinização do leito ungueal.(Figuras 3 e 4). Após 14 meses de observação apresentaram melhora importante da função da unha, com ausência de sintomas e normalização da aparência local, com retificação da lâmina e alongamento do leito (Figuras 5 e 6).

No pós-operatório, todos os pacientes apresentaram dor moderada durante uma semana, sendo mais intensa nas primeiras 24 horas. Após a retirada dos pontos, de sete a 14 dias após a cirurgia, nenhum relatou dor. Essa retirada é autorizada quando o aspecto ungueal for de crosta hemática aderente (Figura 7).

A função e estética ungueal têm início após 21 dias e se completam em três meses. Na terceira semana os pacientes foram autorizados a utilizar sapatos fechados com curativos umedecidos com óleos, e nenhum relatou dor.

 

DISCUSSÃO

A unha em pinça pode ser hereditária ou adquirida. A hereditária, em que encontramos simetria, além da história de antecedentes familiares; acomete geralmente o hálux, mas pode acometer quaisquer outros dedos.1,2,6 A adquirida, em que encontramos principalmente assimetria, pode ainda ser subdivida em: (a) secundária a defeito ortopédico, em que se apresenta frequentemente causada pelo desvio das falanges subsequente ao uso de sapatos apertados e inadequados; (b) secundária a dermatose crônica, como psoríase, exostose subungueal, cisto epidérmico e mixoide, onicomicose, implantação de fistulas arteriovenosas nos antebraços (hemodiálise), medicamentos (beta-bloqueadores), associação com metástase de adenocarcinoma de colo sigmoide (marcador), doenca de Kawasaki, além da associação com epidermólise bolhosa simples; (c) secundária à osteoartrite degenerativa da articulação interfalangeana distal dos dedos das mãos.2,3 A paquioníquia congênita faz diagnóstico diferencial com a unha em pinça, dela se distinguindo por normalmente não provocar dor, e acometer os dedos das mãos e dos pés.3

Para realizar o tratamento cirúrgico, tem-se como principais indicações pacientes acometidos por dor e inflamação. Pacientes que já foram submetidos a tratamento conservadores, sem sucesso, também apresentam indicações para a realização do procedimento. Outra queixa importante referida pelos pacientes é o prejuízo na qualidade de vida: há o constrangimento estético, além do impedimento do uso de certos tipos de calçados, principalmente os fechados.4,6,7

Como tratamento cirúrgico, várias técnicas foram relatadas na literatura para o tratamento da unha em pinça.8 Como opções mais importantes para o tratamento cirúrgico da hipercurvatura, temos as técnicas que visam reduzir a largura da matriz e da lâmina ungueal proximal: a fenolização dos cornos laterais hipercurvados, que elimina a dor causada pelo pinçamento do leito, trazendo, portanto, melhora imediata da dor; a técnica descrita por Haneke, que combina a fenolização com incisão mediana do leito ungueal; descolamento, diminuindo a tração do periósteo sobre o mesmo; remoção de osteófitos, se necessária; e sutura reversa, buscando a retificação do leito.3,6,7

 

CONCLUSÃO

Este trabalho demonstra a técnica cirúrgica de Fanti para correção da unha em pinça, podendo-se observar melhora anatômica e funcional das unhas operadas.

 

Referências

1. Zook EG1, Chalekson CP, Brown RE, Neumeister MW. Correction of pincer-nail deformities with autograft or homograft dermis:modified surgical technique. J Hand Surg. 2005;30(2):400-3.

2. Richert B, Di Chicchio N, Haneke E. Cirurgia da unha. Rio de Janeiro: Di Livros; 2012.

3. Baran R, Haneke E, Richert B. Pincer nails: definition and surgical treatment. Dermatol Surg. 2001;27(3):261-6.

4. Plusjé LG. Pincer Nails: a new surgical treatment. Dermatol Surg. 2001;27(1):41-3.

5. Tosti A, Piraccini BM, Di Chiacchio N. Doenças das Unhas. São Paulo: Editora Luana; 2007.

6. Tavares GT, Di Chiacchio N, Loureiro WR, Di Chiacchio NG, Bet dl. Correção de hipercurvatura transversa da unha utilizando enxerto de derme autóloga. Surg Cosmet Dermatol. 2011;3(2):160-2.

7. Tassara G, PINTO JM, Gualberto GV, Ribeiro BS. Tratamento de unha em telha pela técnica de Zook: relato de cinco casos. An Bras Dermatol 2008;83(3):83-6.

8. Di Chiacchio NG, Ferreira FR, Mandelbaum SH, Di Chiacchio N, Haneke E. Cirurgia das unhas. Seguimento de casos operados em curso prático realizado em Congresso Dermatológico. Surg Cosmet Dermatol 2013;5(2):134-¬6.

 

Trabalho realizado na Faculdade de Medicina Estadual de São José do Rio Preto (Famerp) - São José do Rio Preto (SP), Brasil.


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