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Diagnóstico por Imagem

Dermatoscopia das lesões pigmentadas na face: um desafio diagnóstico

Mauricio Mendonça do Nascimento1; Danielle Ioshimoto Shitara2; Sergio Yamada1

Data de recebimento: 08/12/2013
Data de publicação: 10/12/2013
Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito de Interesses: Nenhum

Abstract

A dermatoscopia do lentigo maligno na face tem parâmetros confiáveis e bem testados para sua diagnose. Algumas lesões benignas, como as queratoses actínicas pigmentadas, apresentam, contudo, aspectos dermatoscópicos comuns aos lentigos malignos, dificultando a correta diagnose. Isso muitas vezes leva a excisões desnecessárias de lesões benignas. Este artigo discute esses parâmetros morfológicos no escopo de analisar os pontos em comum entre lentigo maligno e queratose actínica pigmentada com a dermatoscopia, assim como coteja os aspectos já descritos para a diagnose das queratoses actínicas pigmentadas.

Keywords: DERMOSCOPIA; SARDA MELANÓTICA DE HUTCHINSON; CERATOSE ACTÍNICA; FACE.


INTRODUÇÃO

A análise dermatoscópica das lesões pigmentadas na face difere da dermatoscopia usual devido à ausência de rede pigmentada nessa localização. Em vez disso, descreve-se uma pseudorrede e há alguns parâmetros bem estabelecidos para a diagnose do lentigo maligno (LM) na face.1 (Quadro 1). Queratoses actínicas pigmentadas (QAP) na face normalmente são uma armadilha diagnóstica na diferenciação dos LM. Apresentamos alguns casos de imagens dermatoscópicas de QAP duvidosas, com achados de LM, bem como os achados típicos do LM e da QAP, que podem ser de auxilio na diagnose diferencial dermatoscópica.

 

COMENTÁRIOS

Tanto o LM (Figura 1) quanto a QAP (Figura 2) podem apresentar aspectos iguais, excetuando-se os borrões negros.2 A literatura tem descrito parâmetros dermatoscópicos que sugerem o diagnóstico de QAP em vez de LM, como uma superfície mais áspera, devida à hiperqueratose associada a esse tipo de lesão, presença de múltiplas lesões (sinal da vizinhança), arquitetura mais regular dos pontos, buracos hipodensos na pseudorrede ou o padrão "em morango" (Figura 3).3-5 Esses aspectos das QAP já foram testados para sua validade diagnóstica contra LM.4,5 e um padrão "em morango" proeminente foi achado em QAP, mas não em LM.4 Como o consenso de dermatoscopia define que parâmetro dermatoscópico único não permite diagnose, seu potencial é o de auxilio diagnóstico apenas.

Os exemplos de QAP (Figura 2) apresentados indicam que nem sempre a superfície rugosa está presente. O sinal da vizinhança leva em conta o fato de que em face com dano actínico outras lesões queratósicas possam ser vistas, ajudando na definição da lesão suspeita, embora em pele actínica lentigos malignos possam ser encontrados. Quando a QAP apresenta áreas não pigmentadas (Figura 2) a presença dos aspectos clássicos de queratose actínica podem ser de auxílio (hiperqueratose, áreas avermelhadas e aspecto em morango), porém as áreas avermelhadas fazendo um aspecto romboidal vermelho ao redor do folículo devem levantar suspeição do diagnóstico de LM, como foi mais recentemente descrito.4

Os padrões pigmentares descritos para diagnose dermatóscopica de LM1 (Quadro 1) têm nos estudos publicados acurácia diagnóstica,3-5 e portanto podem guiar a escolha do local a ser biopsiado em caso de suspeita de malignidade, mas esses padrões podem ser encontrados em QAP (Figura 2). Os exemplos apresentados demonstram que o padrão anular-granular é possível na QAP, bem como os pontos e glóbulos cinza-ardósia (Figuras 2 e 3). Assim, são parâmetros de auxílio na definição de QAP uma distribuição mais regular dos pontos e a ausência de aberturas foliculares assimetricamente pigmentadas.5 A presença das aberturas assimétricas, porém, não exclui a possibilidade de QAP, e nesse caso a biópsia definirá a diagnose.

 

CONCLUSÕES

Lesões pigmentadas na face apresentam uma armadilha diagnóstica quando temos que excluir a possibilidade diagnóstica de LM, principalmente porque essa diagnose tem aspectos dermatoscópicos comuns com as QAP, levando a biópsias desnecessárias. Ambas as lesões podem ser encontradas em todas as áreas da face,e sua distribuição é similar para LM e PAQ.5 Assim, mais estudos são necessários para validar os parâmetros de diferenciação entre QAP e LM. Até o presente, nesses casos, uma biópsia cutânea permanece o padrão ouro e é mandatória a fim de excluir malignidade.

 

Referências

1. Schiffner R, Schiffner-Rohe J, Vogt T, Landthaler M, Wlotzke U, Cognetta AB, et al. Improvment of early recognition of lentigo maligna using dermatoscopy. J Am Acad Dermatol. 2000;42(1 pt 1):25-32.

2. Akay BN, Kocyigit P, Heper AO, Erdem C. Dermatoscopy of flat pigmented facial lesions: diagnostic challenge between pigmented actinic keratosis and lentigo maligna. Br J Dermatol. 2010;163(6): 1212-7

3. Zalaudek I, Ferrara G, Leinweber B, Mercogliano A, D'Ambrosio A, Argenziano G. Pitfalls in the clinical and dermoscopic diagnosis of pigmented actinic keratosis. J Am Acad Dermatol. 2005;53(6):1071-4.

4. Goncharova Y, Attia EA, Souid K et al. Dermoscopic features of facial pigmented skin lesions. ISRN Dermatology. 2013; 2013: 546813. [Epub ahead of print]

5. Nascimento MM, Yamada,S. Almeida, F. New Dermoscopic features for the diagnosis of pigmented actinic keratosis. Dermatology 2006; 212(3): 290.

 

Trabalho realizado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) - São Paulo (SP), Brasil.


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