2952
Views
Open Access Peer-Reviewed
Educação médica continuada

Tratamentos estéticos e cuidados dos cabelos: uma visão médica (parte 1)

Leonardo Spagnol Abraham1, Andreia Mateus Moreira1, Larissa Hanauer de Moura1, Gavazzoni Dias1

Recebido em 13/06/2009. Aprovado
em 10/09/2009. Declaramos a inexistência de conflitos de interesse.

Abstract

Dúvidas sobre a ação dos cosméticos capilares sobre a saúde do corpo e dos cabelos são cada vez mais frequentes nas consultas dermatológicas. Os médicos dermatologistas necessitam enriquecer o conhecimento a respeito, não somente, das doenças do couro cabeludo, como também das interações moleculares dos cosméticos usados na fibra capilar, incluindo a influência de tais produtos quando absorvidos pelo epitélio do couro cabeludo. A cada dia, aumentam as consultas médicas para esclarecimento de quais técnicas e produtos químicos são mais indicados para permitir que os cabelos sofram as alterações desejadas de seu aspecto natural e, ao mesmo tempo, mantenhamse saudáveis e belos. Neste artigo, dividido em duas partes, abordamos a fisiologia dos cabelos, sua estrutura e natureza química, os agentes usados para seu alisamento, sua coloração, higiene e seu tratamento estético e as consequências que tais procedimentos podem ter na saúde em geral, incluindo sua segurança no uso durante a gravidez e lactação.

Keywords: COSMÉTICOS PARA CABELO, CABELO, TINTURAS PARA CABELO


INTRODUÇÃO

Mudanças na forma e cor dos cabelos têm sido, desde o início das civilizações, um dos indicadores de beleza. A moda não se restringe às vestimentas, mas expande-se aos cabelos, gerando uma busca incessante por uma aparência diferenciada. O alisamento dos cabelos teve seu auge registrado em meados do ano 1900 com a técnica para alisamento de cabelos afroétnicos que utilizava vaselina sólida e pente de metal quente a uma temperatura entre 150 e 260°C denominada hot comb. Ao longo dos anos subsequentes, foram desenvolvidas substâncias químicas que possibilitaram alisar ou enrolar os cabelos de forma permanente e mais segura. Atualmente, observa-se uma tendência à busca pelos cabelos extremamente lisos de modo definitivo. Dúvidas sobre a ação dos cosméticos capilares sobre a saúde do corpo e dos cabelos são cada vez mais abordadas nas consultas dermatológicas. Somando-se a isso o já tradicional uso de agentes que modificam a cor natural do cabelo ou escondem os indesejáveis fios brancos, temos uma associação que pode realmente ser perigosa para a saúde dos fi os. A cada dia, aumentam as consultas médicas para esclarecimento de quais técnicas e produtos químicos são mais indicados para permitir que os cabelos sofram as alterações desejadas de seu aspecto natural e, ao mesmo tempo, mantenham-se saudáveis e belos. Neste artigo dividido em duas partes, abordamos a fisiologia dos cabelos, sua estrutura e natureza química, os agentes usados para seu alisamento, sua coloração, higiene e seu tratamento estético e as consequências que tais procedimentos podem ter na saúde em geral, incluindo sua segurança no uso durante a gravidez e lactação.

Anatomia funcional: o folículo que gera a haste A pele humana contém aproximadamente 5 milhões de folículos pilosos, com cerca de 100.000 folículos presentes no couro cabeludo. Este número pode variar conforme a cor dos cabelos (Tabela 1). A maioria dos pelos se encontra em locais visíveis, com conotação psicossocial importante.1,2 Embora os três tipos principais de folículos pilosos (lanugo, vellus e terminal) tenham diferenças na sua estrutura e pigmentação, eles seguem os mesmos princípios de formação.

Todo folículo piloso na fase anágena está totalmente formado e apresenta o formato de uma taça de vinho invertida. No cálice, há uma estrutura semelhante ao bulbo de cebola, denominada papila dérmica folicular, sendo este o local em que células progenitoras se dispõem no centro de forma multicilíndrica, movendo-se para a camada mais externa da haste capilar.

A presença de estruturas guias e planos de clivagem conduz este crescimento direcionado. A bainha interna (BI) é uma camada cilíndrica e dura de ceratinócitos diferenciados, que guia e guarda a haste capilar. A bainha de companhia é um compartimento celular independente entre a bainha externa e a interna e é uma peçachave na ancoragem da haste no folículo piloso.2,5,6

Os compartimentos epiteliais do folículo piloso são compostos por oito cilindros concêntricos: bainha externa, bainha de companhia, camada de Henle (BI), camada de Huxley (BI), cutícula (BI), bem como a cutícula, o córtex e a medula da haste capilar. A linhagem epidérmica de diferenciação é distinta em cada um desses cilindros.

Três principais populações de células precursoras parecem originar a bainha externa, interna e a haste. O bulge é a região na qual estão às células epidérmicas progenitoras, daí se origina a bainha externa, enquanto aquelas que formam a BI e a haste se depositam no germe folicular secundário na papila folicular.2,7,8

O músculo eretor do pelo se insere no nível do bulge, local do principal sítio de células progenitoras foliculares.2,7,8,9 O músculo está sob controle adrenérgico, e contrações involuntárias em situações de estresse repentino, ansiedade, ou raiva fazem com que ele se “levante”.

O folículo piloso apresenta um sistema de inervação autonômica, bem como numerosas células de Merkel em torno do istmo, localizado entre a inserção do músculo eretor do pelo e o infundíbulo da glândula sebácea. Os vasos sanguíneos alcançam todo o folículo, através da bainha de tecido conjuntivo, e ainda se inserem na papila dérmica folicular dos cabelos terminais.2,10,11

Estruturas responsáveis pelo formato dos fios
Acreditava-se que o formato da BI era primariamente responsável pelo formato do cabelo, mas, atualmente, se sabe que há diferenças entre as curvaturas do cabelo liso e do crespo. Novos estudos foram realizados e mostraram que o formato da haste capilar é programado pelo bulbo, particularmente pelo grau de simetria/assimetria axial da matriz capilar. Foi demonstrado que no cabelo crespo um dos lados da cutícula do cabelo se desenvolve primeiro, dando a este bulbo o aspecto de taco de golfe; já no liso, o desenvolvimento é igual e reto.12

Ciclo capilar
O ciclo capilar é tradicionalmente reconhecido por três fases: crescimento (anágeno I-VI), regressão (catágeno I-VIII) e repouso (telógeno).2,4,5,13-15 Segue-se uma sequência rítmica repetitiva de mudanças características na morfologia do folículo que obedecem a uma organização sequencial geneticamente codificada.2,5,14,15

Anágena
Na fase anágena, o cabelo está crescendo ativamente, e materiais são depositados em sua haste pelas células da papila folicular. A duração desta fase é determinada geneticamente e varia dependendo do sítio anatômico estudado. No couro cabeludo, tem duração de 2 a 6 anos4,16 (Tabela 2) com taxa de crescimento de aproximadamente 0,03 a 0,045 mm por dia, sendo a taxa de crescimento mais acelerada nas mulheres.17 Aproximadamente 85- 90% de todos os cabelos estão nesta fase de crescimento (Tabela 3). Há pessoas que podem ter os cabelos bem compridos porque têm uma fase anágena de longa duração. Entretanto, os indivíduos que possuem uma fase anágena curta não conseguem que seus cabelos atinjam um comprimento longo. Apesar de a cultura popular ensinar diversas fórmulas e simpatias para fazer os cabelos ficarem mais longos, o comprimento máximo do cabelo de cada indivíduo é geneticamente determinado e não sofre influência de suplementação vitamínica ou tratamentos tópicos.

Catágena
A fase catágena é muito controlada. A apoptose e a diferenciação terminal fazem a involução rápida do folículo, enquanto a fábrica real da haste capilar, o bulbo, é desmontada quase completamente.2,5,18 A papila dérmica folicular não sofre apoptose. Não obstante, esta se condensa, move-se para cima, e há um declínio no número de núcleos dos fibroblastos, provavelmente pela migração de fibroblastos da papila para a bainha de tecido conjuntivo proximal.

Os sinais mais precoces do término da fase anágena e da indução da catágena são a retração dos dendritos dos melanócitos no folículo e a evidência enzimática de que a melanogênese está sendo finalizada.2,19 A maioria dos melanócitos do folículo sofre também apoptose.2,19,20 Os melanócitos destruídos no folículo são repostos durante a próxima fase anágena, a partir do reservatório de células-tronco melanocíticas no bulge e/ou dos melanócitos da bainha externa.2,19,21,22 A canície, então, seria em grande parte uma manutenção insuficiente no folículo piloso de células-tronco melanocíticas.2,21,22

Durante a fase catágena, a papila folicular encolhe5 e sai, do saco epitelial, o cabelo em “clava”. Este tem a característica de apresentar a ponta como uma escova e a extremidade proximal despigmentada, uma vez que é gerada somente após o final da melanogênese e da transferência dos melanossomas. Menos de 1% dos cabelos está nesta fase de involução (Tabela 3), que pode durar entre 2 e 3 semanas (Tabela 2).

Telógena
No fim deste processo de involução, o folículo entra no seu “estágio de repouso”, a fase telógena, devido à observação de que a atividade proliferativa e bioquímica do folículo alcança seu nível mais baixo durante o ciclo do pelo nesta fase. Entretanto, a telógena pode apresentar uma importância regulatória muito maior para o folículo do que simplesmente o “repouso” implica, pois pode servir como “um freio” à anágena.5 O cabelo fica em fase telógena por 3 meses (Tabela 2), e aproximadamente 10-15% dos fios de cabelo estão em repouso (Tabela 3), refletindo uma queda de 100-120 fios por dia normalmente.

Exógena e Kenógena
Existem duas outras fases recém-descritas na literatura:4,23,24 a exógena e a kenógena. Na primeira, foi demonstrado que a exclusão da haste capilar é ativa, altamente controlada, o que difere da fase telogênica a qual é normalmente quiescente. Já a fase kenógena é um fenômeno novo no ciclo capilar, que representa o folículo vazio entre o fim da fase telógena e a nova fase anágena. Pode ser achado em pessoas normais, mas parece ser mais comum em indivíduos com alopecia androgenética.

Composição da haste capilar
A haste capilar é uma estrutura essencialmente lipoproteica e sem vida.25,26 O cabelo terminal é composto por três camadas: cutícula, córtex e medula. A parte mais externa é a cutícula que se constitui de células mortas achatadas, sobrepostas umas às outras como telhas de um telhado. Tais células são denominadas escamas e formam de cinco a dez camadas, cada uma com 350-450 nm de espessura. Cada célula é revestida por uma membrana externa denominada epicutícula, rica em cistina (aminoácido rico em enxofre) e ácidos graxos. A estrutura celular da cutícula é composta por três grandes camadas: a camada-A externa, que contém a maior quantidade de cistina (enxofre) e, portanto, é a mais resistente; a exocutícula, que também contém cistina, e a endocutícula interna, que é virtualmente desprovida de enxofre.25,27 Toda a unidade cuticular tem a propriedade de proteger o córtex de traumas corriqueiros como os atos de pentear e lavar os cabelos, que são responsáveis por certo grau de dano cuticular, principalmente nas porções mais distais do fio, ocasionando a tricoptilose (fenda longitudinal da haste com aspecto de ponta “dupla” ou partida).

Mais internamente, vem o córtex que constitui a área de maior massa da fibra capilar. As células do córtex contêm no seu interior estruturas alongadas denominadas macro e microfibrilas de queratina. As macrofibrilas contêm as microfibrilas, que, por sua vez, contêm as protofibrilas. Estas últimas são compostas por cadeias polipeptídicas em formato de a-hélice cuja estrutura e forma químicas são mantidas por ligações entre os átomos de diferentes cadeias. Essas ligações podem ter forças variáveis: fracas como as pontes de hidrogênio ou fortes como as ligações iônicas ou pontes dissulfeto. Tais ligações químicas quando rompidas, em caráter permanente ou temporário, possibilitam a mudança na forma física do pelo.28,29

As células da haste do pelo têm arranjo estrutural helicoidal e são separadas por um estreito espaço que contém um material proteico intercelular que as mantêm coesas.25,30 Dividem-se em três camadas: ortocórtex, mesocórtex e paracórtex, em que encontramos os polipeptídeos de queratina dispostos dois a dois, um ácido com um básico, formando os protofilamentos, os quais são responsáveis pela capacidade da queratina de ser estendida e estirada. A endocutícula é a camada mais interna da cada célula da cutícula e consiste em proteínas amorfas. Esta é a área mais vulnerável ao ataque de xampus, depósito de resíduos, a atritos e fraturas por tração, ao ato de pentear ou ao tratamento químico.29

Queratinas
São proteínas filamentosas que possuem uma estrutura de a-hélice central. Quatro longas a-hélices separadas por três regiões não-helicoidais formam um tetrâmero com dímeros idênticos dispostos antiparalelamente. Estes tetrâmeros formam um protofilamento cujos pares formam uma protofibrila. A associação lateral de quatro protofibrilas forma um filamento cilíndrico de queratina. Os cilindros de queratina ficam dispersos em uma matriz lipoproteica.29

Conclui-se que cabelos são estruturas formadas por unidades proteicas a-helicoidais com o formato espiralado, cujos aminoácidos se ligam através de pontes dissulfeto, de hidrogênio e ligações iônicas, conferindo-lhe ao mesmo tempo firmeza e flexibilidade.

Cabelos são mais maleáveis e elásticos do que as unhas porque têm menor quantidade de pontes dissulfeto presentes na queratina, sendo estas as principais responsáveis pela sua forma helicoidal rígida. A queratina, com sua conformação espacial típica e suas ligações químicas, é a principal responsável pela rigidez, força e insolubilidade da fibra. Cada ponte dissulfeto é formada por duas moléculas de enxofre ligadas uma a outra.

A queratina é incolor. A cor dos cabelos do couro cabeludo é dada pela melanina do córtex e da medula, possivelmente oriunda dos melanócitos do bulbo capilar, que compõem apenas 3% da massa do fio. Existem dois tipos de melanina que irão determinar a cor natural dos cabelos: cinza, loiro, castanho, vermelho e preto, dependendo da quantidade e a taxa de eumelanina (marrom e preta) e feomelanina (amarela e vermelha). A melanina presente nos grânulos encontra-se ligada a uma proteína referida como melanoproteína. Ambas as melaninas são dependentes da quantidade de cisteína presente no melanócito.29

A pigmentação do cabelo ocorre durante a fase anágena e é promovida pela transferência de eumelanossomas ou feomelanossomas dos melanócitos presentes na papila dérmica folicular. Esses melanócitos são diferentes dos presentes na epiderme, possuem dendritos mais longos e a relação melanócitos/ceratinócitos menor (1:1 – 1:4) que a da epiderme (1:25 – 1:40).

No centro da haste, está a medula formada por uma proteína conhecida como tricohialina.25 A função da medula tem sido objeto de estudo, porém esta região não tem participação conhecida nos procedimentos estéticos. Sabe-se, entretanto, que, em pacientes mais velhos, as células da medula aparecem mais desidratadas e com espaços cheios de ar, que substituem o local da medula.25

Propriedades físicas do cabelo
A resistência do cabelo é dada pelo córtex, porém uma cutícula intacta é necessária para a proteção do interior da haste capilar. O cabelo na água, por sofrer hidrólise, pode ser esticado em até 30% do seu tamanho sem sofrer nenhum dano.17

A porosidade da haste capilar é de aproximadamente 20%, e o peso do cabelo pode aumentar em 12-18% quando molhado. A absorção é muito rápida, com uma taxa de 75% de absorção dentro dos primeiros 4 minutos.25

A eletricidade estática preferencialmente afeta cabelos secos, pois são maus condutores. Pode-se criar um problema estético, pois cada haste se repele dando o aspecto “arrepiado” do cabelo. Este problema pode ser contornado, penteando o cabelo sob condições de baixa temperatura ou aumentando a umidade capilar. 25

Cabelos caucasianos, asiáticos e afroétnicos têm a mesma composição química, porém com algumas diferenças estruturais que conferem as suas características visuais tão peculiares a cada tipo. Os cabelos afroétnicos têm as moléculas de aminoácidos sulfurados dispostas de modo diferente, conferindo-lhes aspecto espiralado com pontos de constrição ao longo do fio, diâmetros variados ao longo da haste e forma elipsoide. Oferecem menor resistência à fratura quando penteados, apresentam menor lubrificação ao longo do fio e maior proporção cutícula/ córtex, o que lhes confere menos massa. O fio é achatado em forma de fita, com crescimento paralelo ao couro cabeludo. Por tudo isso, é um cabelo mais difícil de desembaraçar e pentear. Os cabelos asiáticos são os mais lisos e mantêm um diâmetro invariável ao longo da haste. Têm a maior resistência à fratura quando penteados, maior lubrificação em toda a extensão do fio e menor proporção cutícula/córtex (mais massa). No corte transversal da haste, os fios são cilíndricos e crescem perpendicularmente ao couro cabeludo, sendo desembaraçados com maior facilidade. Os fios de cabelo caucasianos são intermediários em relação às características dos cabelos afroétnicos e asiáticos, com grande variação entre os indivíduos.28,31-33

Técnicas de coloração28,29
A química depende do tipo de agente utilizado para a coloração. Os agentes são geralmente classificados quanto à durabilidade da cor: gradual, temporária, semipermanente e permanente. Existem pigmentos naturais e sintéticos. Entre os naturais, o mais conhecido é a hena, a qual confere ao fio uma tonalidade vermelho-alaranjada. A maioria das pessoas prefere utilizar pigmentos sintéticos que conferem resultados mais previsíveis. É interessante a realização de teste de contato antes da utilização de certos produtos, principalmente aqueles à base de derivados de coaltar.34 Muitos trabalhos tentam verificar o potencial cancerígeno da utilização de produtos para tingimento de cabelo, principalmente em relação ao câncer de bexiga e hematológico.35,36 Entretanto, os trabalhos não confirmam tal relação e, até o momento, os produtos são considerados seguros para a saúde por órgãos como Food and Drug Administration (FDA) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Coloração gradativa: obtida por corantes metálicos como sais de chumbo, bismuto ou prata. Visam apenas escurecer o tom natural do cabelo em tons limitados de negro, marrom escuro ou cinza sendo mais procurados por homens principalmente pela rapidez de seu uso (5 minutos). As partículas do metal parecem reagir com os resíduos de cisteína da cutícula para formar metais sulfídicos, os quais se depositam lentamente na haste, proporcionando a pigmentação gradual. As desvantagens de seu uso estão no cheiro da reação química (enxofre) e na irreversibilidade do processo. O cabelo tratado também não pode ser tingido com outra técnica, pois irá partir-se.

Coloração temporária: proporcionada por corantes solúveis em água com alto peso molecular, o que impede a penetração além da cutícula. Em geral, saem na primeira lavagem, exceto se o cabelo foi danificado (encontra-se poroso) por tratamentos químicos anteriores, o que ocasiona um efeito mais prolongado, pois a penetração é mais profunda. A aplicação sobre fios previamente tingidos pode ocasionar uma coloração de tons inesperados e indesejáveis. São disponibilizados em xampus, géis, mousses e sprays. Raramente provocam dermatite de contato.

Coloração semipermanente: em geral, obtidas por henas sintéticas. São substâncias de baixo peso molecular derivados do coaltar (diaminas, aminofenóis, fenóis). Podem causar dermatite de contato. Difundem-se através do córtex, permanecendo no fio por 4 a 6 semanas ou até oito lavagens com xampus. Provocam pouco dano à haste capilar, porém o efeito no cabelo quimicamente tratado pode ser imprevisível. Podem escurecer os fios em até três tons. Estão disponíveis como loções e mousses. A aplicação é feita nos fios úmidos logo após o xampu e leva cerca de 40 minutos após os quais o produto é enxaguado. Cabelos danificados ou apenas retoques nas raízes necessitam de moléculas de diferentes pesos moleculares para que a cor se mantenha uniforme.

Coloração permanente (oxidação): por meio de soluções alcalinas (pH 9 a 10) à base de amônia que penetram através da cutícula. Podem escurecer ou clarear os fios sendo mais eficazes para os fios grisalhos ou brancos. O pigmento é permanente não sendo removido jamais por lavagens. A raiz deve ser tingida a cada 4 ou 6 semanas. A utilização de uma nova coloração sobre o cabelo já tingido pode danificar os fios. A coloração permanente resulta de uma reação de oxidação entre paraminofenóis, metaminofenóis, fenilenodiaminas e peróxido de hidrogênio. Caso o cabelo seja muito escuro e se queira atingir um tom muito mais claro, é necessário uma despigmentação prévia com persulfato de amônio e potássio e peróxido de hidrogênio. O pigmento definitivo é aplicado sobre os fios descoloridos. É recomendado que procedimentos de alisamento ou permanente sejam realizados pelo menos 2 semanas antes da coloração.

A diferença entre a coloração com tintura permanente ou semipermanente (tonalizante) está somente na presença de amônia na primeira. A amônia atua elevando o pH do fio, o que provoca seu intumescimento. Com isso, o produto consegue penetrar profundamente através da cutícula, podendo chegar ao córtex. Popularmente credita-se à amônia algum grau de toxicidade ao fio, fato que não é verdadeiro, pois a amônia não é tóxica, apenas aumenta a penetração de substâncias que são comuns aos dois tipos de tingimento. Portanto, também os tonalizantes contêm resorcina, resorcinol, parafenilenodiaminas e paraminofenóis, assim como as tinturas permanentes. Os dois diferem entre si pela presença ou ausência da amônia, ou seja, maior ou menor pH de atuação.

Descoloração (luzes, mechas): refere-se à remoção parcial ou total da melanina natural do cabelo. O cabelo ruivo é mais difícil de despigmentar do que o castanho. O método mais comum envolve o uso de peróxido de hidrogênio a 12% em base alcalina (amônia). Inicialmente, os grânulos de melanina são dissolvidos, e o fio tende à cor marrom avermelhado. Em seguida, existe uma etapa de descoloração mais lenta. O mecanismo de ação não é totalmente explicado, porém acredita-se que a primeira fase envolva a destruição de diferentes ligações químicas que mantêm as partículas dos pigmentos, enquanto que a segunda etapa parece envolver a ruptura da estrutura polimérica da melanina. É dependente do tempo e de difícil controle. Longos períodos de permanência como 1 a 2 horas podem danificar intensamente os fios. O processo também destrói algumas pontes dissulfeto da queratina, o que leva a um enfraquecimento do fio. Também ocorre dano à cutícula, o que faz com que os cabelos fiquem porosos.

Referências

1 . Sinclair RD, Banfield CC, Dawber RPR. Handbook of diseases of the hair and scalp. Oxford: Blackwell Science 1999:3-26

2 . Paus R, Peker S, Sundberg JP. Biology of hair and nails. In: Bologna JL, Jorizzo JL, Rapini RP, editors. Dermatology. Mosby Elsevier, 2. ed. 2008;1:965-986

3 . Loussouarn G, El Rawadi C, Genain G. Diversity of hair growth profiles. Int J Dermatol 2005; 44[Suppl 1]:6-9

4 . Vogt A, Mcelwee KJ, Blume-Peytavi U. Biology of the hair follicle. In: Blume- Peytavi U, Tosti A, Whiting DA, Trüeb R (eds.). Hair growth and disorders. Berlin: Springer 2008:1-23

5 . Stenn K, Paus R. Controls of hair follicle cycling. Physiol Rev 2001;81:449- 494

6 . Langbein L, Rogers MA, Praetzel S, Aoki N, Winter H, Schweizer J. A novel epithelial keratin, hK6irs1, is expressed differentially in all layers of the inner root sheath, including specialized huxley cells (Flügelzellen) of the human hair follicle. J Invest Dermatol 2002;118(5):789-799

7 . Oshima H, Rochat A, Kedzia C, Kobayashi K, Barrandon Y. Morphogenesis and renewal of hair follicles from adult multipotent stem cells. Cell 2001;26;104(2):233-245

8 . Masunaga A, Nakamura H, Katata T et al. Involvement of follicular stem cells in forming not only the follicle but also the epidermis. Cell 2000;102(4):451-461

9 . Cotsarelis G, Kaur P, Dhouailly D, Hengge U, Bickenbach J. Epithelial stem cells in the skin: definition, markers, localization and functions. Exp Dermatol 1999;8(1):80-88

10 . Mecklenburg L, Tobin DJ, Müller-Röver S et al. Active hair growth (anagen) is associated with angiogenesis. J Invest Dermatol 2000;114(5):909-916

11 . Yano K, Brown LF, Detmar M. Control of hair growth and follicle size by VEGF-mediated angiogenesis. J Clin Invest 2001;107(4):409-417

12 . Thibaut S, Gaillard O, Bouhanna P, Cannell DW, Bernard BA. Human hair shape is programmed from the bulb. Br J Dermat 2005;152:632-638

13 . Müller-Röver S, Handjiski B, van der Veen C et al. A comprehensive guide for the accurate classification of murine hair follicles in distinct hair cycle stages. J Invest Dermatol 2001;117(1):3-15

14 . Lin KK, Chudova D, Hatfield GW, Smyth P, Andersen B. Identification of hair cycle-associated genes from time-course gene expression profile data by using replicate variance. Proc Natl Acad Sci USA. 2004;101(45):15955-15960

15 . Alonso L, Fuchs E. The hair cycle. J Cell Sci 2006;119(Pt 3):391-393

16 . Courtois M, Loussouarn G, Hourseau S, Grollier JF. Periodicity in the growth and shedding of hair. Br J Dermatol 1996;134(1):47-54

17 . De Berker DAR, Messenger AG, Sinclair RD. Disorders of hair. In: Burns T, Breathnach S, Cox N, Griffiths C (eds.). Rook´s textbook of dermatology. Oxford: Blackwell publishing, 7. ed., 2004;4:63.01-120

18 . Botchkareva NV, Ahluwalia G, Shander D. Apoptosis in the hair follicle. J Invest Dermatol 2006;126(2):258-264

19 . Tobin DJ, Paus R. Graying: gerontobiology of the hair follicle pigmentary unit. Exp Gerontol 2001;36(1):29-54. Erratum in: Mar; 36(3):591-2

20 . Sharov A, Tobin DJ, Sharova TY, Atoyan R, Botchkarev VA. Changes in different melanocyte populations during hair follicle involution (catagen). J Invest Dermatol 2005;125(6):1259-1267

21 . Osawa M, Egawa G, Mak SS et al. Molecular characterization of melanocyte stem cells in their niche. Development 2005;132(24):5589-5599

22 . Nishimura EK, Granter SR, Fisher DE. Mechanisms of hair graying: incomplete melanocyte stem cell maintenance in the niche. Science 2005;4;307(5710):720-724

23 . Rebora A, Guarrera M. Kenogen. A new phase of the hair cycle? Dermatology 2002; 205(2):108-110

24 . Stenn K. Exogen is an active, separately controlled phase of the hair growth cycle. J Am Acad Dermatol 2005;52(2):374-375

25 . Draelos ZD. Hair physiology. In: Draelos ZD (ed.). Hair Care: a illustrated dermatologic handbook. London and New York: Taylor & Francis group 2005:1-19

26 . Rossi A, Barbieri L, Pistola G, Bonaccorsi P, Calvieri S. Hair and nail structure and function. J Appl Cosmetol 2003;21:1-8

27 . Nagase S, Satoh N, Nakamura K. Influence of internal structure of hair fiber on hair appearance. II. Consideration of the visual perception mechanism of hair appearance. J Cosmet Sci 2002;53(6):387-402

28 . de Sá Dias TC, Baby AR, Kaneko TM, Robles Velasco MV. Relaxing/ straightening of Afro-ethnic hair: historical overview. J Cosmet Dermatol 2007;6(1):2-5

29 . Robbins CR. Chemical and physical behavior of human hair. 2. ed. Springer- Verlag NY Inc

30 . Nagase S, Shibuichi S, Ando K, Kariya E, Satoh N. Influence of internal structures of hair fiber on hair appearance. I. Light scattering from the porous structure of the medulla of human hair. J Cosmet Sci 2002;53(2):89-100

31 . Bulengo-Ransby SM, Bergfeld WF. Chemical and traumatic alopecia from thioglycolate in a black woman: a case report with unusual clinical and histologic findings. Cutis 1992;49(2):99-103

32 . Halder RM. Hair and scalp disorders in blacks. Cutis 1983;32(4):378-380

33 . Swee W, Klontz KC, Lambert LA. A nationwide outbreak of alopecia associated with the use of a hair-relaxing formulation. Arch Dermatol 2000;136(9):1104- 1108

34 . Krasteva M, Bons B, Ryan C, Gerberick GF. Consumer allergy to oxidative hair coloring products: epidemiologic data in the literature. Dermatitis 2009;20(3):123-141

35 . Koutros S, Baris D, Bell E et al. Use of hair coloring products and risk of multiple myeloma among US women. Occup Environ Med 2009;66(1):68-70

36 . Kelsh MA, Alexander DD, Kalmes RM, Buffler PA. Personal use of hair dyes and risk of bladder cancer: a meta-analysis of epidemiologic data. Cancer Causes Control 2008;19(6):549-558


Licença Creative Commons All content the journal, except where identified, is under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International license - ISSN-e 1984-8773