Gaston Galimberti1, Damian Ferrario1, Gabriela Ribeiro Casabona1, Leiza Molinari1
Keywords: CIRURGIA DE MOHS, RETALHOS CIRÚRGICOS, ZIGOMA
Retalhos consistem no movimento de uma área de pele, adjacente ou não a um defeito a ser reparado, que possui nutrição através de pedículo vascular próprio. Podem ser classificados, de acordo com o movimento da pele em direção à área receptora, em quatro tipos: avanço, rotação, transposição e interpolação. 1-3 Essa classificação só contempla o movimento principal do retalho. Em muitas situações temos que realizar dois tipos de movimento para obter resultado estético e funcional superior, citando como exemplo a combinação de movimentos de avanço e rotação que propomos neste artigo. A região malar é área cosmética da face que parece um triângulo invertido, conferindo simetria e volume à face. É delimitada superiormente pela pálpebra inferior, lateralmente pela região pré-auricular e medialmente pela região lateral do nariz que se continua pelo sulco nasogeniano. A abundante rede neurovascular, a mobilidade e o volume conferido pelo tecido celular subcutâneo dessa região são características únicas que permitem a realização de vários tipos de retalhos.4-9 A reparação da região malar superior requer, no entanto, atenção para alguns itens, tais como:
Propomos, neste artigo, um retalho de avanço e rotação unipediculado para reparo de defeitos localizados na parte superior e medial da região malar. Restaura-se o volume da região ao se utilizar pele adjacente e com características semelhantes, localizando o ponto de tensão na região lateral do nariz.
Esse retalho foi realizado em 15 pacientes no Hospital Italiano de Buenos Aires, Argentina, após cirurgia micrográfica de Mohs, resultando em defeitos cirúrgicos médios e grandes localizados na região malar superior ou central.
A) Desenho do retalho
1) Triângulo primário: inclui-se a ferida cirúrgica (A) em um triângulo com a base sobre a parede nasal e as outras duas linhas tangenciando o defeito, se encontrando na região lateral e formando uma ponta (B); é essencial observar as linhas de força e o rebordo orbital.
2) Incisão de movimento
A partir da base do triângulo realiza-se incisão caudal (C) que se continua com o sulco nasogeniano, respeitando uma margem de pelo menos 3mm da asa nasal para que mantenha o espaço fisiológico entre regiões do cosméticas. A incisão deve ser feita até o plano muscular, tomando-se cuidado para evitar a secção das artérias maxilar externa e angular. Como muitas vezes é necessária grande movimentação, quanto mais longa for essa incisão, maior será o movimento conseguido; portanto, ela deve descer até a comissura labial, onde é desenhado um triângulo de descarga (D), que pode ser feito de várias formas e tamanhos conforme a necessidade de movimentação do retalho.10 (Figuras 1 e 2)
3) Desenho do triangulo de Burow caudal
Quando realizamos o movimento de avanço-rotação do retalho, nos deparamos com dois problemas: sobra de pele na região caudal e a resistência da parte inferior. Para resolvê-los propomos realizar a retirada de um segundo defeito inferior, como descrito abaixo, antes de movimentar o retalho: 4,5,8
A) Forma clássica: retira-se um triângulo da região caudal do retalho cuja base seria continuação da incisão de movimento. Quanto mais alto for o defeito, maior será o triângulo (Figuras 1, 2 e 3).
B) Triângulo de Burow invertido: retira-se um triângulo da região caudal do retalho. Este tipo de triângulo, invertido, gera maior mobilidade ascendente, mas sua cicatriz é menos estética (Figuras 2 e 3).
C) Corte retrógrado: trata-se de incisão de descarga que dá grande mobilidade ao retalho (Figura 3).
D) Zetaplastia: utiliza-se quando a pele tem bastante flacidez, mas necessitamos de um vetor horizontal maior (Figuras 3 e 4).
4) Movimento do retalho
Antes de movimentar o retalho devemos fazer dissecção seguida de hemostasia minuciosa, mantendo-a num plano profundo próximo a seu pedículo. Depois traciona-se a ponta do retalho com gancho na derme, elevando-a (como uma tenda) até o ângulo formado entre a base e a linha superior do triângulo primário.7 (Figura 4)
5) Sutura
A sutura desse retalho é um importante passo para evitar a tração da região palpebral e ectrópio secundário. Inicialmente realizam-se três suturas em "U" a partir da região inferior do retalho no subcutâneo profundo (pontos 1,2 e 3) com fio absorvível 4.0. Esses pontos diminuem o espaço criado pelo descolamento, bem como a tensão pela ancoragem do tecido subcutâneo em seu novo leito, transferindo a tensão final para a base na lateral nasal. Outro ponto, o identificado como 5 na figura 5, fixa a gordura malar na borda periosteal quando o defeito tangencia a pálpebra inferior, com o objetivo de diminuir a tensão vertical na pálpebra.1,2 A seguir um fio absorvível 5.0 é usado para sutura dérmica iniciando-se pela região caudal e ascendendo pela lateral do nariz (ponto 4); por fim, devemos suturar a pele com fio inabsorvível 5.0 ou 6.0. (Figura 5)
Dos 15 pacientes três evoluíram com edema palpebral, ectrópio e tenda na região lateral do nariz. Os outros evoluíram sem sequelas estéticas e com cicatrizes inaparentes após acompanhamento de 12 meses (Figuras 6 e 7).
Essa é uma das opções de retalho para a reconstrução da região malar cujas vantagens são:
Mas, como todo retalho com grande descolamento e próximo à pálpebra, demanda alguns cuidados:
Esse retalho de avanço-rotação misto e unipediculado é opção cirúrgica interessante para correções de defeitos de tamanho médio e grande na região malar superior. Este estudo mostrou que a técnica pode ser realizada e reproduzida, porém mais casos devem ser realizados para obtenção de maior significância estatística de sucessos e complicações.
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