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Artigo Original

Estudo comparativo do tratamento de ceratoses actínicas extensas com peeling de ácido glicólico + 5fluoracil x criopeeling

Laura Yoshizaki Dini1, Camila Trindade Stangarlin1, André Cesar A. Pessanha1, Denise Steiner1

Data de recebimento: 24/01/2013
Data de aprovação: 05/03/2013
Trabalho realizado na Universidade de Mogi
das Cruzes (UMC) – Mogi das Cruzes (SP),
Brasil.
Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito de Interesses: Nenhum

Abstract

Introdução: O fotodano intenso e crônico geralmente produz inúmeras queratoses actínicas, sendo importante o tratamento precoce e global da pele acometida. Objetivo: Avaliar a efetividade de dois tratamentos distintos para ceratoses actínicas múltiplas. Métodos: Foram selecionados 5 pacientes com ceratoses actinicas difusas no dorso de mãos e antebraços foram submetidos ao seguinte protocolo: lado A (direito) peeling químico superficial quinzenal com ácido glicólico 70% em gel seguido de solução de 5-fluoracil 5%; lado B (esquerdo) criopeeling mensal. O número de sessões variou de quatro a seis no lado A e de duas a três no lado B, de acordo com o grau de fotodano. Resultados: Todos os pacientes apresentaram resposta clínica satisfatória, com melhora das ceratoses actínicas e de toda área de dano actínico, com boa tolerância dos pacientes ao tratamento, apenas com a ressalva de que ao criopeeling segue-se eritema mais intensoe persistente. Conclusões: As duas terapêuticas utilizadas constituem-se em alternativas válidas e eficazes para tratamento do "campo de cancerização".

Keywords: CERATOSE ACTÍNIA, TERAPÊUTICA, FLUORURACILA, CRIOTERAPIA


INTRODUÇÃO

Ceratoses actínicas (CAs), queratoses solares ou queratoses senis constituem alguns dos sinais clínicos do fotoenvelhecimento avançado, sendo consideradas marcadores de risco de desenvolvimento de lesões malignas, principalmente do carcinoma espinocelular (CEC).1,2 São consideradas neoplasias intraepiteliais, constituídas por proliferação atípica de queratinócitos.3

As CAs são induzidas principalmente pela exposição crônica à radiação ultravioleta, ocorrendo nas áreas fotoexpostas, em particular, de indivíduos idosos de fototipo baixo.1,3 O espectro UVA (320-400nm) induz ao estresse fotoxidativo e causa mutações características no DNA dos queratinócitos. Já a radiação UVB (290-320nm) resulta na formação de dímeros de ciclobutano (timidina) no DNA e no RNA, levando à mutação nos genes de telomerases e gene supressor tumoral p53.3-5 Dessa forma, a radiação UVB é o comprimento de onda mais lesivo para o DNA dos queratinócitos, e a radiação UVA atua como facilitador da ação deletéria do UVB.3,4

As CAs são algumas das condições mais frequentemente encontradas na prática clínica. Segundo dados de uma casuística brasileira realizada em 2006, a QA foi o quarto diagnóstico clínico encontrado entre 57.343 consultas dermatológicas, estando presente em 5,1% dos atendimentos, com predomínio na Região Sul.3,6

Geralmente os pacientes com CAs apresentam múltiplas lesões devido ao dano actínico de toda área fotoexposta, constituindo um "campo de cancerização". Como não é possível prever quais lesões sofrerão transformação maligna durante a evolução clínica, torna-se necessário o tratamento global da pele acometida, e não a limitação às lesões pontuais.3,7

Diferentes terapêuticas já foram estabelecidas para o tratamento das CAs.4 Lesões isoladas, bem delimitadas ou hiperqueratóticas podem ser tratadas com crioterapia, eletrocauterização ou curetagem.1,8 Para pacientes com CAs disseminadas é possível tratamento com aplicação tópica de 5-fluoracil, criopeeling, dermoabrasão, peeling químico de média profundidade (ácido glicólico 70% ou associação de solução de Jessner + ácido tricloroacético 35%) e terapia fotodinâmica.1

Marrero e Katz apresentaram uma modalidade de peeling combinando ácido glicólico 70% em gel e solução de 5-fluoracil 5% para tratamento de área extensa de CAs.9 O mecanismo envolve a remoção do extrato córneo e a descoesão dos queratinócitos pelo ácido glicólico, permitindo a penetração do 5- fluoracil até as células atípicas.1,9

O criopeeling é técnica que emprega a crioterapia em toda a pele fotodanificada no intuito de proporcionar descamação e renovação celular, sendo também utilizada para tratamento de CAs múltiplas.2

Devido às extensas possibilidades terapêuticas e ao risco potencial de malignização do "campo de cancerização" objetivou- se avaliar a efetividade de dois tratamentos distintos para queratoses actínicas múltiplas, visando ao desaparecimento máximo ou completo das lesões em termos clínicos.

MÉTODOS

Realizou-se ensaio clínico não randomizado, aberto, com amostra voluntária, e comparativo de modalidades terapêuticas no mesmo paciente. O estudo teve a duração de três meses. Foram selecionados oito voluntários com quadro clínico de CAs difusas no dorso de mãos e antebraços no Ambulatório de Dermatologia da Universidade de Mogi das Cruzes, sendo incluídos os pacientes de ambos os sexos com idade entre 55 e 75 anos e excluídos os que apresentavam doenças sistêmicas descompensadas. No total, participaram do estudo cinco dos pacientes previamente selecionados. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituição, e os pacientes assinaram termo de consentimento livre e esclarecido. Foram submetidos à documentação fotográfica inicial, quinzenal e no final do estudo. Foi padronizado o uso do lado A (direito) para a combinação de ácido glicólico 70% em gel seguido de solução de 5-fluoracil 5% como peeling superficial realizado quinzenalmente; e do lado B (esquerdo) para o criopeeling mensal. O número de sessões variou de acordo com a intensidade e severidade das manifestações clínicas de cada paciente.

O tratamento no lado A foi realizado inicialmente com a limpeza e desengorduramento da pele com acetona; a seguir, aplicou-se uma camada de ácido glicólico 70% gel (DrogadermaTM, São Paulo, Brasil) até surgimento de eritema ou frosting das QAs, com posterior neutralização com solução de bicarbonato de sódio. A última etapa constituiu-se na aplicação de solução de 5-fluoracil 5% (DrogadermaTM, São Paulo, Brasil), que permaneceu em contato com a pele durante 12 horas. Os pacientes foram instruídos à remoção da substância em sua residência com lavagem local.

O lado B foi submetido ao tratamento com nitrogênio líquido em spray em movimentos de "pincel" até branqueamento da pele.

No pós-procedimento, os pacientes foram orientados a utilizar vaselina sólida e protetor solar, assim como evitar a exposição direta ao sol.

Avaliou-se a eficácia dos métodos mediante observação clínica e fotográfica pelos pesquisadores (Figuras 1 e 2).

RESULTADOS

Na análise dos dados, dos cinco pacientes submetidos ao estudo, quatro eram do sexo feminino, e um do masculino, com idades entre 56 e 72 anos, e média de 63 anos. O grau de fotoenvelheimento das áreas tratadas foi considerado leve em três e moderado em dois dos pacientes. Imediatamente após cada sessão, observou-se eritema local, sendo mais evidente e persistente no lado B (Figura 3). Ambos os métodos foram bem tolerados e considerados eficazes, no entanto, observamos que o tratamento com o criopeeling foi mais agressivo, com maior evidência de efeitos colaterais, mas sem diferença na melhora clínica das CAs quando comparado ao peeling superficial ao final do tratamento. No total foram realizadas quatro sessões nos três pacientes com quadro leve e seis sessões nos dois pacientes com quadro moderado no lado A; enquanto no lado B, os três pacientes com quadro leve foram submetidos a duas sessões, e os dois casos moderados a três sessões.

DISCUSSÃO

As CAs constituem importante indicador de exposição cumulativa e descontrolada à radiação UV, com potencial pré-maligno.1 Existem diversas formas de tratamento disponíveis para diferentes formas clínicas. A terapia deve iniciar-se com mudanças no comportamento em relação à exposição solar, uso de filtros de proteção diariamente, assim como barreiras físicas ao sol. Há algumas décadas, não havia esclarecimento sobre os efeitos nocivos da radiação UV nem orientação quanto a esses hábitos; nota-se, nos dias atuais, procura de ambulatórios de dermatologia para tratamento dos efeitos cutâneos do dano solar crônico. Dessa forma, é importante a instituição de um tratamento precoce e global da área fotodanificada, para a transformação maligna do "campo de cancerização".

O 5-fluoracil é antimetabólito eficaz, que inibe a síntese de RNA e DNA, apresentando efeito citotóxico, que induz à destruição das CAs. O criopeeling tem o intuito de melhorar o aspecto clínico da pele e prevenir o surgimento de novas lesões.

Nossos resultados foram similares aos da literatura, tendo, entretanto, variado o número de sessões entre os pacientes de acordo com o grau do dano actínico e do método escolhido (de duas a seis sessões).

CONCLUSÃO

Acreditamos que ambas as técnicas podem ser utilizadas com sucesso para o tratamento de CAs extensas e com boa tolerância por parte dos pacientes, apenas com a ressalva de que, após o criopeeling ocorre eritema maior e persistente. Constituem portanto duas alternativas válidas para tratamento do "campo de cancerização".

Referências

1 . SP, Hassun KM, Pereira T, Michalany NS, Talarico S. 5-Fluoracil superficial peel for multiple actinic keratoses. Int J Dermatol 2009; 48(8):902-7

2 . Deonizio JMD, Mulinari-Brenner FA. Criopeeling para tratamento de fotodano e ceratoses actínicas: comparação entre nitrogênio líquido e sistema portátil. An Bras Dermatol. 2011;86(3):440-4

3 . Schimidtt JV, Miot HA. Queratoses actínicas: revisão clínica e epidemiológica. An Bras Dermatol. 2012;87(3):442-51

4 . Krawtchenko N, Roewert-Huber J, Ulrich M, Mann I, Sterry W, Stockfleth E. A randomised study of topical 5% imiquimod VS topical 5-fluoracil VS cryosurgery in immunocompetent patients with actinic keratoses: a comparison of clinical and histological outcomes including 1-year follow up. Br J Dermatol.2007;157(Suppl 2):34-40

5 . Berking C. The role of ultraviolet irradiation in malignant melanoma. Hautarzt. 2005; 56(7):687-96

6 . Sociedade Brasileira de Dermatologia SBD. Perfil nosológico das consultas dermatológicas no Brasil. An Bras Dermatol. 2006;81(6): 549-58

7 . Vatve M, Ortonne JP, Birch-Machin MA, Gupta G. Management of field change in actinic keratosis. Br J Dermatol. 2007;157(Suppl 2):21-4

8 . Jeffes EW 3RD, Tang EH. Actinic keratosis. Current treatment options. Am J Clin Dermatol. 2000;1(3):167-79

9 . Marrero GM, Katz BE. The newfluor-hydroxy pulse peel. A combination of 5-fluorouracil and glycolic acid. Dermatol Surg. 1998; 24(9): 973-8


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