Gerson Delatorre1, Carlos Alberto Bruno Mendes de Oliveira1, Talitha Possagno Chaves1, Renata Falkenbach Von Linsingen1, Caio Cesar Silva de Castro1
Keywords: VITILIGO, PROGNÓSTICO, GRAVIDEZ
O vitiligo é desordem pigmentar adquirida caracterizada pela presença de máculas e manchas acrômicas, com grande potencial de desfiguração cosmética e impacto emocional nos pacientes.1,2 Acomete cerca de 1% da população, sendo que metade dos pacientes desenvolve a doença antes dos 20 anos, não havendo diferença significativa de incidência por sexo.3 Sua patogênese precisa ainda é desconhecida, sendo a principal e mais aceita teoria a da etiologia autoimune.3 O prognóstico das doenças autoimunes na gestação é variável, podendo ocorrer agravamento de determinadas doenças, como o lúpus eritematoso sistêmico, ou remissão de outras, como a artrite reumatoide.4
Em nossa revisão de literatura, não foram encontrados estudos avaliando o prognóstico do vitiligo na gestação. Frente ao exposto, realizamos um estudo com o objetivo de avaliar o comportamento do vitiligo durante e após o período gestacional.
Foi realizado estudo descritivo, tipo inquérito transversal, no período de maio a dezembro de 2011, no Ambulatório de Vitiligo do Hospital Santa Casa de Curitiba (PR) - Brasil. A população foi composta por mulheres com diagnóstico de vitiligo (independente da forma clínica), totalizando 86 pacientes que responderam a um questionário padronizado durante as consultas ou através de contato telefônico.
As variáveis estudadas incluíram: idade atual, idade do diagnóstico, número de gestações, idade nas respectivas gestações e comportamento do vitiligo (piora, estabilidade ou melhora) durante e no período após as gestações. Os dados referentes à idade média das pacientes e idade média do surgimento da doença foram analisados com o software SPSS v13.0. O protocolo de estudo assim como o TCLE foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa.
Ao todo, foram incluídas 86 mulheres, com idade entre nove e 79 anos, com média de 44,87 (±17,42) anos. A idade média de surgimento da doença foi de 30,6 (±19,10) anos.
Das mulheres incluídas, 65 gestaram (75,58%), representando o total de 168 gestações. Dessas, apenas 28 pacientes (43,07%) apresentavam o diagnóstico de vitiligo na vigência de alguma gestação, totalizando 57 gestações (33,92%) com vitiligo (Gráficos 1 e 2).
Em relação ao comportamento do vitiligo durante a gestação, houve piora do vitiligo em dez gestações (17,54%), estabilidade em 38 (66,66%) e melhora em sete (12,28%). Em duas gestações (3,50%) a paciente não soube informar o comportamento da doença (Gráfico 3).
Quanto à evolução do vitiligo no período de seis meses após o parto, 16 (28,07%) obtiveram piora da doença, 36 (63,15%) permaneceram estáveis, e três (5,26%) melhoraram. Em duas gestações (3,5%) essa informação não foi obtida (Gráfico 3).
Das três pacientes multíparas que pioraram na primeira gestação com vitiligo, só uma (33,33%) apresentou comportamento idêntico da doença nas demais gestações; nas multíparas que apresentaram estabilidade (14 pacientes), 12 (81,71%) mantiveram- se estáveis nas demais gestações. Por fim, todas as três (100%) pacientes que melhoraram na primeira gestação com vitiligo mantiveram esse comportamento da doença nas gestações restantes.
Trinta e sete pacientes que gestaram não apresentavam diagnóstico de vitiligo durante as gestações. Dessas, 31 (83,78%) informaram sua idade na primeira gestação, sendo o tempo médio de surgimento do vitiligo após a primeira gestação nessas pacientes 23,73 anos.
Uma forte associação é conhecida entre mecanismos fisiopatológicos autoimunes e o período gestacional.4,5 Apesar disso, em nossa revisão de literatura no MedLine, até o momento, não encontramos trabalhos sobre o comportamento do vitiligo na gestação, tornando este estudo inédito nesse quesito.
Como já exposto, foi observado que na maioria (66,66%) das gestações o vitiligo permaneceu estável, com piora em 17,54% e melhora na minoria (12,28%) dos casos. Analisando o comportamento da doença no período de seis meses após o parto, observou-se distribuição semelhante dessas variáveis (63,15%, 28,07% e 5,26%, respectivamente). Até então, os dados encontrados na literatura referentes ao prognóstico do vitiligo na gestação eram meramente especulativos, obtidos de experiências subjetivas mencionadas pelas pacientes, a maioria relatando a gestação como fator de piora.6 A gestação também é citada subjetivamente na literatura como fator de gatilho para o vitiligo,6 o que também se contrapõe a nossos resultados, que apontaram tempo médio de 23,73 anos entre a primeira gestação e o início do vitiligo.
A idade média do diagnóstico do vitiligo foi de 30,6 anos, superior à média encontrada na literatura.3 Isso provavelmente se deve ao fato de a população em nosso ambulatório ser constituída predominantemente por pacientes adultos.
Nas multíparas com vitiligo, foi observado que o comportamento da doença geralmente se manteve igual nas gestações subsequentes, com exceção das pacientes que apresentaram piora nas gestas iniciais, das quais apenas uma (33,33%) manteve o padrão de piora nas demais gestações.
De acordo com os resultados obtidos, a maioria das pacientes permaneceu com o vitiligo estável durante a gravidez, assim como no período de seis meses após o parto. Tais resultados podem servir de embasamento no momento da orientação a respeito do prognóstico da doença às gestantes, visto que o vitiligo é dermatose com grande repercussão psicológica, emocional e social para os pacientes afetados, especialmente na fase reprodutiva da vida das mulheres. Mais evidências ainda deverão ser buscadas no futuro através de estudos prospectivos.
1 . Mason CP, Gawkrodger DJ. Vitiligo presentation in adults. Clin Exp Dermatol. 2005;30(4):344-5
2 . Nogueira LSC, Zancanaro PCQ, Azambuja RD. Vitiligo e emoções. An Bras Dermatol. 2009;84(1):39-43
3 . Alikhan A, Felsten LM, Daly M, Petronic-Rosic V. Vitiligo: a comprehensive overview Part I. Introduction, epidemiology, quality of life, diagnosis, differential diagnosis, associations, histopathology, etiology, and work-up. J Am Acad Dermatol. 2011;65(3):473-91
4 . Jørgensen KT, Pedersen BV, Nielsen NM, Jacobsen S, Frisch M. Childbirths and risk of female predominant and other autoimmune diseases in a population-based Danish cohort. J Autoimmun. 2012;38(2-3):J81-7
5 . Horev A, Weintraub AY, Sergienko R, Wiznitzer A, Halevy S, Sheiner E. Pregnancy outcome in women with vitiligo. Int J Dermatol. 2011;50(9):1083-5
6 . Hann SK, Chun WH, Park YK. Clinical characteristics of progressive vitiligo. Int J Dermatol. 1997;36(5):353-5