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Artigo Original

Estudo de prognóstico do vitiligo na gestação

Gerson Delatorre1, Carlos Alberto Bruno Mendes de Oliveira1, Talitha Possagno Chaves1, Renata Falkenbach Von Linsingen1, Caio Cesar Silva de Castro1

Data de recebimento: 11/05/2012
Data de aprovação: 24/11/2012
Trabalho realizado na Santa Casa de
Misericórdia de Curitiba – Curitiba (PR) e na
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUC-Paraná) – Curitiba, Brasil.
Suporte Financeiro: Nenhum
Conflito de Interesses: Nenhum

Abstract

Introdução: O vitiligo é desordem pigmentar com grande potencial de desfiguração cosmética e impacto emocional nos pacientes, especialmente no período gestacional. O prognóstico das doenças autoimunes na gestação é variável, não tendo sido encontrados, em nossa revisão, trabalhos avaliando o prognóstico do vitiligo no período gestacional. Objetivo: Avaliar o comportamento do vitiligo na gestação e período pós-parto. Métodos: Foi realizado estudo descritivo tipo inquérito transversal, em que a população, composta por 86 mulheres com diagnóstico de vitiligo, respondeu a um questionário padronizado. Resultados: Dentre as mulheres incluídas, apenas 28 pacientes (43,07%) apresentavam o diagnóstico de vitiligo na vigência de alguma gestação, totalizando 57 gestações (33,92%) com vitiligo. Em relação ao comportamento do vitiligo durante a gestação, houve piora do vitiligo em dez gestações (17,54%), estabilidade em 38 (66,66%) e melhora em sete (12,28%). Quanto à evolução do vitiligo no período de seis meses após o parto, 16 (28,07%) obtiveram piora da doença, 36 (63,15%) permaneceram estáveis, e três (5,26%) melhoraram. Em duas gestações (3,50%) a paciente não soube informar o comportamento da doença. Conclusão: A maioria das pacientes permaneceu com o vitiligo estável durante a gravidez, assim como no período de seis meses após o parto.

Keywords: VITILIGO, PROGNÓSTICO, GRAVIDEZ


INTRODUÇÃO

O vitiligo é desordem pigmentar adquirida caracterizada pela presença de máculas e manchas acrômicas, com grande potencial de desfiguração cosmética e impacto emocional nos pacientes.1,2 Acomete cerca de 1% da população, sendo que metade dos pacientes desenvolve a doença antes dos 20 anos, não havendo diferença significativa de incidência por sexo.3 Sua patogênese precisa ainda é desconhecida, sendo a principal e mais aceita teoria a da etiologia autoimune.3 O prognóstico das doenças autoimunes na gestação é variável, podendo ocorrer agravamento de determinadas doenças, como o lúpus eritematoso sistêmico, ou remissão de outras, como a artrite reumatoide.4

Em nossa revisão de literatura, não foram encontrados estudos avaliando o prognóstico do vitiligo na gestação. Frente ao exposto, realizamos um estudo com o objetivo de avaliar o comportamento do vitiligo durante e após o período gestacional.

MÉTODOS

Foi realizado estudo descritivo, tipo inquérito transversal, no período de maio a dezembro de 2011, no Ambulatório de Vitiligo do Hospital Santa Casa de Curitiba (PR) - Brasil. A população foi composta por mulheres com diagnóstico de vitiligo (independente da forma clínica), totalizando 86 pacientes que responderam a um questionário padronizado durante as consultas ou através de contato telefônico.

As variáveis estudadas incluíram: idade atual, idade do diagnóstico, número de gestações, idade nas respectivas gestações e comportamento do vitiligo (piora, estabilidade ou melhora) durante e no período após as gestações. Os dados referentes à idade média das pacientes e idade média do surgimento da doença foram analisados com o software SPSS v13.0. O protocolo de estudo assim como o TCLE foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa.

RESULTADOS

Ao todo, foram incluídas 86 mulheres, com idade entre nove e 79 anos, com média de 44,87 (±17,42) anos. A idade média de surgimento da doença foi de 30,6 (±19,10) anos.

Das mulheres incluídas, 65 gestaram (75,58%), representando o total de 168 gestações. Dessas, apenas 28 pacientes (43,07%) apresentavam o diagnóstico de vitiligo na vigência de alguma gestação, totalizando 57 gestações (33,92%) com vitiligo (Gráficos 1 e 2).

Em relação ao comportamento do vitiligo durante a gestação, houve piora do vitiligo em dez gestações (17,54%), estabilidade em 38 (66,66%) e melhora em sete (12,28%). Em duas gestações (3,50%) a paciente não soube informar o comportamento da doença (Gráfico 3).

Quanto à evolução do vitiligo no período de seis meses após o parto, 16 (28,07%) obtiveram piora da doença, 36 (63,15%) permaneceram estáveis, e três (5,26%) melhoraram. Em duas gestações (3,5%) essa informação não foi obtida (Gráfico 3).

Das três pacientes multíparas que pioraram na primeira gestação com vitiligo, só uma (33,33%) apresentou comportamento idêntico da doença nas demais gestações; nas multíparas que apresentaram estabilidade (14 pacientes), 12 (81,71%) mantiveram- se estáveis nas demais gestações. Por fim, todas as três (100%) pacientes que melhoraram na primeira gestação com vitiligo mantiveram esse comportamento da doença nas gestações restantes.

Trinta e sete pacientes que gestaram não apresentavam diagnóstico de vitiligo durante as gestações. Dessas, 31 (83,78%) informaram sua idade na primeira gestação, sendo o tempo médio de surgimento do vitiligo após a primeira gestação nessas pacientes 23,73 anos.

DISCUSSÃO

Uma forte associação é conhecida entre mecanismos fisiopatológicos autoimunes e o período gestacional.4,5 Apesar disso, em nossa revisão de literatura no MedLine, até o momento, não encontramos trabalhos sobre o comportamento do vitiligo na gestação, tornando este estudo inédito nesse quesito.

Como já exposto, foi observado que na maioria (66,66%) das gestações o vitiligo permaneceu estável, com piora em 17,54% e melhora na minoria (12,28%) dos casos. Analisando o comportamento da doença no período de seis meses após o parto, observou-se distribuição semelhante dessas variáveis (63,15%, 28,07% e 5,26%, respectivamente). Até então, os dados encontrados na literatura referentes ao prognóstico do vitiligo na gestação eram meramente especulativos, obtidos de experiências subjetivas mencionadas pelas pacientes, a maioria relatando a gestação como fator de piora.6 A gestação também é citada subjetivamente na literatura como fator de gatilho para o vitiligo,6 o que também se contrapõe a nossos resultados, que apontaram tempo médio de 23,73 anos entre a primeira gestação e o início do vitiligo.

A idade média do diagnóstico do vitiligo foi de 30,6 anos, superior à média encontrada na literatura.3 Isso provavelmente se deve ao fato de a população em nosso ambulatório ser constituída predominantemente por pacientes adultos.

Nas multíparas com vitiligo, foi observado que o comportamento da doença geralmente se manteve igual nas gestações subsequentes, com exceção das pacientes que apresentaram piora nas gestas iniciais, das quais apenas uma (33,33%) manteve o padrão de piora nas demais gestações.

CONCLUSÃO

De acordo com os resultados obtidos, a maioria das pacientes permaneceu com o vitiligo estável durante a gravidez, assim como no período de seis meses após o parto. Tais resultados podem servir de embasamento no momento da orientação a respeito do prognóstico da doença às gestantes, visto que o vitiligo é dermatose com grande repercussão psicológica, emocional e social para os pacientes afetados, especialmente na fase reprodutiva da vida das mulheres. Mais evidências ainda deverão ser buscadas no futuro através de estudos prospectivos.

Referências

1 . Mason CP, Gawkrodger DJ. Vitiligo presentation in adults. Clin Exp Dermatol. 2005;30(4):344-5

2 . Nogueira LSC, Zancanaro PCQ, Azambuja RD. Vitiligo e emoções. An Bras Dermatol. 2009;84(1):39-43

3 . Alikhan A, Felsten LM, Daly M, Petronic-Rosic V. Vitiligo: a comprehensive overview Part I. Introduction, epidemiology, quality of life, diagnosis, differential diagnosis, associations, histopathology, etiology, and work-up. J Am Acad Dermatol. 2011;65(3):473-91

4 . Jørgensen KT, Pedersen BV, Nielsen NM, Jacobsen S, Frisch M. Childbirths and risk of female predominant and other autoimmune diseases in a population-based Danish cohort. J Autoimmun. 2012;38(2-3):J81-7

5 . Horev A, Weintraub AY, Sergienko R, Wiznitzer A, Halevy S, Sheiner E. Pregnancy outcome in women with vitiligo. Int J Dermatol. 2011;50(9):1083-5

6 . Hann SK, Chun WH, Park YK. Clinical characteristics of progressive vitiligo. Int J Dermatol. 1997;36(5):353-5


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