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Artigo Original

Estudo comparativo do uso de pigmentação exógena como adjuvante à luz intensa pulsada no tratamento de melanoses solares do dorso das mãos

Fernanda Regina Lemos Bebber Douat1, Vanessa Cristina Soares1, Fernanda H. Mello de Souza Klein1, Juliano Vilaverde Schmitt1, Deborah Skusa de Torre Ataíde1

Recebido em: 27/12/2012
Aprovado em: 05/03/2013
Trabalho realizado no serviço de dermatologia
do Hospital Universitário Evangélico de
Curitiba – Curitiba (PR), Brasil.
Conflitos de interesse: Nenhum
Suporte financeiro: Nenhum

Abstract

Introdução: O fotodano intenso e crônico geralmente produz inúmeras queratoses actínicas, sendo importante o tratamento precoce e global da pele acometida. Objetivo: Avaliar a efetividade de dois tratamentos distintos para ceratoses actínicas múltiplas. Métodos: Foram selecionados 5 pacientes com ceratoses actinicas difusas no dorso de mãos e antebraços foram submetidos ao seguinte protocolo: lado A (direito) peeling químico superficial quinzenal com ácido glicólico 70% em gel seguido de solução de 5-fluoracil 5%; lado B (esquerdo) criopeeling mensal. O número de sessões variou de quatro a seis no lado A e de duas a três no lado B, de acordo com o grau de fotodano. Resultados: Todos os pacientes apresentaram resposta clínica satisfatória, com melhora das ceratoses actínicas e de toda área de dano actínico, com boa tolerância dos pacientes ao tratamento, apenas com a ressalva de que ao criopeeling segue-se eritema mais intensoe persistente. Conclusões: As duas terapêuticas utilizadas constituem-se em alternativas válidas e eficazes para tratamento do "campo de cancerização".

Keywords: MELANOSE, MÃOS, PIGMENTAÇÃO, LUZ


INTRODUÇÃO

Lentigos solares são lesões maculares hiperpigmentadas que variam de milímetros a mais de um centímetro de diâmetro. O potencial social negativo dessa condição deve-se ao fato de ela ser interpretada como sinal inicial de fotoenvelhecimento.1 Seu tratamento pode ser realizado através de procedimentos físicos, como a luz intensa pulsada (LIP).2-4 Similarmente aos lasers, o princípio básico é da fototermólise seletiva do cromóforo-alvo com dano seletivo da estrutura a ser tratada.5 O uso de pigmentação exógena com lápis de maquiagem marrom tem sido usado na prática para aumentar a captação de energia pelo alvo, porém não há estudos padronizando ou avaliando o perfil de segurança da técnica. Objetiva-se com este estudo comparar o tratamento de lentigos solares no dorso das mãos com LIP convencional versus tratamento da doença na outra mão da mesma paciente, associando pigmentação exógena à luz intensa pulsada.

MÉTODO

Trata-se de estudo clínico monocêntrico, prospectivo, comparativo, aprovado pelo Comitê de Ética. Vinte e duas pacientes do sexo feminino, entre 46 e 68 anos (média de 56,5 ± 6,27), fototipos I a III, portadoras de melanoses solares em dorso das mãos, foram recrutadas a partir do ambulatório geral de serviço terciário de dermatologia. Todas as pacientes fizeram uso de ácido retinoico a 0,025% associado à hidroquinona 4% e alfa-bisabolol 1% por no mínimo 15 dias, suspendendo o uso quatro dias antes das sessões. Foram realizadas três sessões de LIP com o aparelho Bioflash IPL System (BIOSET Indústria de Tecnologia Eletrônica Ltda – Rio Claro – SP – Brasil) no dorso de ambas as mãos, sendo que na mão direita foi realizado reforço da cor das melanoses com lápis de maquiagem marrom (Figura 1). Os mesmos parâmetros foram utilizados durante as três sessões: fluência: 36,16J/cm3, energia: 448J e duração do pulso: 35ms, conforme protocolo do aparelho. O intervalo médio entre as sessões foi de um mês. Após sete e 30 dias de cada sessão, as pacientes foram submetidas a questionário que englobava grau de desconforto, inflamação, formação de crostas e melhora. Na avaliação final, as voluntárias também foram questionadas sobre o tratamento de preferência; de maior efetividade e de maior incidência de efeitos colaterais. Após as sessões, as pacientes foram orientadas a manter proteção solar rigorosa. Após a queda completa e espontânea das crostas, foram instruídas a reiniciar o uso da fórmula despigmentante previamente citada. Fotografias foram realizadas no pré e pós-tratamento (Figuras 2 e 3).

RESULTADOS

Das 22 pacientes, 20 chegaram até o final do estudo. Duas foram excluídas por não adesão ao protocolo. Avaliando as três sessões associadas, a mediana dos escores de desconforto foi maior à direita (5 X 4; p < 0,01; Wilcoxon)(Gráfico 1), bem como o grau de inflamação e formação de crostas (p < 0,01; Wilcoxon). Houve diferença significativa quanto à impressão subjetiva do resultado final, sendo que 15/20 pacientes preferiram a técnica à direita e a consideraram mais efetiva (p < 0,01; qui-quadrado(Gráfico 2). Onze das 20 pacientes referiram menos efeitos colaterais do lado não pigmentado (p = 0,12; quiquadrado). O grau de desconforto não se correlacionou significativamente com a técnica preferida (p = 0,67; Rho Spearman = -0,10).

DISCUSSÃO

Diante dos resultados apresentados, observou-se que avaliando as três sessões associadas, o desconforto no momento da aplicação, a inflamação e a formação de crostas nos dias subsequentes e a percepção de melhora dos lentigos foi maior na mão submetida ao reforço de pigmento. Acredita-se que a pigmentação exógena aplicada sobre as melanoses solares com lápis de maquiagem marrom possa atuar como um novo cromóforo sobreposto à pele e aumente a captação de energia local. Hipoteticamente, o uso da pigmentação exógena pode potencializar a chance de queimadura epidérmica, porém não foi evidenciado nenhum efeito colateral permanente no período de seguimento de 30 dias. O perfil de segurança poderia ser mais bem avaliado em estudo clínico futuro com número maior de voluntárias. Vale ressaltar que a aplicação da pigmentação exógena é de difícil padronização, não havendo na literatura nenhum estudo descrevendo tal técnica.

CONCLUSÃO

Na amostra estudada, segundo avaliação dos pacientes, o uso de pigmentação exógena associou-se a maiores efeitos adversos, porém foi considerado mais efetivo e preferido no tratamento das melanoses do dorso das mãos pelas pacientes. São necessários estudos mais amplos que avaliem a quantidade de pigmentação aplicada, bem como o perfil de segurança dessa prática para que possamos lançar mão de tal adjuvância que se mostra promissora.

Referências

1 . Ortonne JP , Pandya AG, Lui H, Hexsel D. Treatment of solar lentigines. J Am Acad Dermatol. 2006;54( 5 Suppl 2) :S262-71

2 . Kawada A, Shiraishi H, Asai M, Kameyama H, Sangen Y, Aragane Y, et al. Clinical improvement of solar lentigines and ephelides with an intense pulsed light source. Dermatol Surg. 2002;28(6):504-8

3 . Kawada A, Asai M, Kameyama H, Sangen Y, Aragane Y, Tezuka T, et al. Videomicroscopic and histopathological investigation of intense pulsed light therapy for solar lentigines. J Dermatol Sci. 2002;29(2):91-6

4 . Kawana S, Ochiai H, Tachihara R. Objective evaluation of the effect of intense pulsed light on rosacea and solar lentigines by spectrophotometric analysis of skin color. Dermatol Surg. 2007;33(4):449-54

5 . Babilas P, Schreml S, Szeimies RM, Landthaler M. Intense pulsed light (IPL): A review. Lasers Surg Med. 2010;42(2):93-104


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