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Diagnóstico por Imagem

Contribuição do mapeamento corporal total e dermatoscopia digital para o diagnóstico precoce do melanoma

Flavia Vieira Brandão1; Gisele Gargantini Rezze2; Juliana Machado Canosa3

Data de recebimento 09/09/2012
Data de aprovação 24/11/2012

Trabalho realizado no Hospital AC Camargo
da Fundação Antônio Prudente - São Paulo
(SP), Brasil.

Conflito de interesses: Nenhum.
Suporte financeiro: Nenhum.

Abstract

O prognóstico do melanoma cutâneo depende principalmente de sua espessura, sendo a detecção precoce do melanoma extremamente importante para a maior sobrevida dos pacientes. Com a utilização do exame dermatoscópico, pode-se alcançar acurácia de aproximadamente 90%. Melanomas iniciais podem não apresentar características dermatoscópicas específicas, sendo apenas diagnósticados pela mudança ao longo do tempo, observada pelo mapeamento corporal total e dermatoscopia digital seriados. Os grupos que apresentam maior sensibilidade para detecção do melanoma com esse exame são os de portadores de síndrome do nevo atípico e melanoma múltiplo familial.

Keywords: MELANOMA, DERMOSCOPIA, SÍNDROME DO NEVO DISPLÁSICO


INTRODUÇÃO

A incidência do melanoma apresenta aumento crescente nas últimas décadas. Embora seja o menos frequente dos cânceres de pele, é responsável pela maior parte dos óbitos. O melhor tratamento ainda é o diagnóstico precoce, com a remoção cirúrgica da lesão primária.1,2 A dermatoscopia é método não invasivo que pode auxiliar no diagnóstico do melanoma em fases iniciais. 1, 3

Alguns melanomas não apresentam características típicas à dermatoscopia, sendo o diagnóstico realizado apenas pela mudança observada através da dermatoscopia digital seriada.4

RELATO DE CASO

Relata-se o caso do paciente F. E. F. M., de 35 anos, do sexo masculino, branco, procedente de São Paulo-SP. Nos antecedentes familiares revela mãe com passado de melanoma cutâneo. Chegou ao Hospital AC Camargo para realização de mapeamento corporal total e dermatoscopia digital em janeiro de 2011, em função da história familiar de melanoma e da presença de múltiplos nevos comuns e atípicos. No primeiro exame, observaram-se 117 lesões, quatro delas com indicação de remoção (Figura 1). O histopatológico, mostrou tratar-se de três nevos atípicos e um melanoma do tipo extensivo superficial. Este último se localizava em região cervical posterior, identificado como número 76 do mapeamento corporal, com Breslow de 0,85mm, índice mitótico 0/10 campos de grande aumento (CGA), 0mm2, ausência de ulceração e regressão e associação com nevo melanocítico composto (Figura 2).

O paciente não retornou ao serviço três meses depois, conforme orientação, e na segunda dermatoscopia digital, nove meses após a primeira, em outubro de 2011, observaram-se crescimento e alteração da pigmentação e da rede pigmentar de mais três lesões, indicando-se a remoção. O resultado do anatomopatolólogico foi: dois nevos atípicos e mais um melanoma do tipo extensivo superficial, este último identificado como número 89 do mapeamento, localizado em região interescapular, com Breslow de 0,4mm, índice mitótico 0/10 campos de grande aumento (CGA), 0mm2, ausência de ulceração e regressão e associação com nevo melanocítico preexistente (Figuras 3A e 3B ).

DISCUSSÃO

A dermatoscopia aumenta a acurácia do exame a olho nu para o diagnóstico do melanoma em 10 a 27%, permitindo a detecção de lesões em estádios iniciais, melhorando a sobrevida do paciente.4,5

No entanto, melanomas iniciais podem ser incaracterísticos à dermatoscopia no primeiro exame, podendo apenas ser reconhecidos pelas mudanças ao longo do tempo.5 O primeiro retorno da dermatoscopia digital em três meses é muito importante para a detecção dos melanomas de crescimento rápido, sendo qualquer mudança de tamanho, forma, estruturas dermatoscópicas e cor que ocorrer nesse intervalo de acompanhamento indicativa de exérese.4

O mapeamento corporal e a dermatoscopia digital permitem a detecção de melanomas mais finos e incipientes,3,5 sendo os pacientes que mais se beneficiam desse exame aqueles de maior risco de desenvolver melanoma, como os portadores de síndrome do nevo atípico e melanoma múltiplo familial, como o paciente descrito.3

No momento esse paciente encontra-se em seguimento clínico e dermatoscópico no ambulatório do Núcleo de Câncer de Pele e Dermatologia do Hospital AC Camargo.

Referências

1 . Braun RP, Rabinovitz HS, Oliviero M, Kopf AW, Saurat JH. Dermoscopy of pigmented skin lesions. J Am Acad Dermatol. 2005; 52(1): 109-21.

2 . Shoo BA, Kashani-Sabet M. Melanoma arising in African-, Asian-, Latinoand Native-American populations. Semin Cutan Med Surg. 2009; 28(2):96-102.

3 . Haenssle HA, Korpas B, Hansen-Hagge C, Buhl T, Kaune KM, Johnsen S, et al. Selection of patients for long-term surveillance with digital dermoscopy by assessment of melanoma risk factors. Arch Dermatol. 2010;146(3):257-64.

4 . Menzies SW, Gutenev A, Avramidis M, Batrac A, McCarthy WH. Shortterm digital surface microscopic monitoring of atypical or changing melanocytic lesions. Arch Dermatol. 2001;137(12):1583-9.

5 . Neila J, Soyer HP. Key points in dermoscopy for diagnosis of melanomas, including difficult to diagnose melanomas, on the trunk and extremities. J Dermatol. 2011; 38 (1): 3-9.


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