Tainá Scalfoni Fracaroli1; Lislaine Bomm2; João Luz Sodré2; Mário Chaves3; Marcela Benez4; Solange Cardoso Maciel Costa Silva5
Keywords: GRANULOMA PIOGÊNICO, CIRURGIA, ÁCIDO TRICLOROACÉTICO, CRIOTERAPIA
O granuloma piogênico ou hemangioma lobular capilar é proliferação vascular benigna que ocorre, principalmente, em locais expostos a traumas frequentes, como mãos, braços, pés e face. Clinicamente se apresenta como lesão nodular ou vegetante, friável, de coloração variando de vermelho a azul-enegrecido. Poder ser séssil ou pedunculado e tem história de crescimento rápido. Em geral sangra com mínimos traumas e tende a recorrer.1,2
A etiologia ainda é desconhecida, tendo sido implicados fatores como trauma, infecções virais, úlceras crônicas e hormônios sexuais femininos. Pode ser encontrado também em pacientes que estão em uso de isotretinoína, capecitabina ou indinavir, devido ao estímulo para angiogênese.2,3
O diagnóstico diferencical faz-se principalmente com sarcoma de Kaposi, melanoma amelanótico, carcinoma metastático, ceratose seborreica inflamada e poroma écrino.4
O diagnóstico é essencialmente clínico, sendo que o exame histopatológico é útil para descartar outras dermatoses. Nele é observado agregado lobular circunscrito de proliferação capilar dentro de um estroma edematoso, infiltrado por numerosos neutrófilos, estando a epiderme frequentemente erosada.1,3
Há várias opções de tratamento, incluindo excisão cirúrgica, crioterapia, eletrocauterização, curetagem, lasers, aplicação de ácido tricloroacético, imiquimode e microembolização.4-7
Paciente do sexo feminino, 27 anos, referia surgimento de lesão vegetante nos primeiros pododáctilos há 15 anos, após trauma local. Já havia realizado tratamento tópico com melhora parcial e exérese cirúrgica da lesão, porém com recidiva há um ano. Apresentou oclusão das unhas após crescimento das lesões. A histopatologia foi compatível com granuloma piogênico.
Ao exame dermatológico apresentava lesão vegetante eritematosa, friável, de aproximadamente 5x3cm no hálux direito, com distorção da lâmina ungueal, e lesão vegetante pequena na ponta do hálux esquerdo e na localização da dobra ungueal proximal com reepitelização completa do hálux e ausência de visualização da lâmina ungueal (Figuras 1, 2 e 3). Foram realizadas radiografias e cintilografia óssea dos hálux, sendo possível afastar a presença de osteomielite. Optou-se pela exérese cirúrgica das lesões com bom resultado estético.
No caso descrito, a exérese cirúrgica foi a melhor opção terapêutica devido ao tamanho da lesão e por acometer ambos os hálux. Procederam-se assepsia e antissepsia, anestesia troncular com lidocaída a 2% sem vasoconstritor e garroteamento dos hálux. A pele foi incisada com lâmina de bisturi número 15 para remoção da lesão vegetante (Figura 4) que cobria todo o hálux esquerdo. Após retirada do tecido da lesão, observou-se a presença da lâmina ungueal que se encontrava subjacente ao tecido vegetante. Em seguida, realizou-se a excisão em "U" largo de pele nas dobras ungueais laterais para retirada do hiponíquio hipertrofiado.8 Foi realizado eletrocauterização da dobra ungueal (Figuras 5 e 6) e posterior sutura com fio mononáilon3.0 (Figura 7). O mesmo procedimento foi, então, realizado no hálux oposto. Feito curativo oclusivo e orientado uso de cefalexina oral durante sete dias e repouso de 48 horas.
O controle do pós-operatório foi realizado semanalmente, e os pontos foram retirados com 15 dias. A paciente apresentou bom resultado círurgico e não houve complicações no pós-operatório. Após 30 dias, já era possível observar bom resultado estético (Figura 8). Porém, houve aumento do hiponíquio distal do hálux direito, que foi corrigido com aplicação de ácido tricloracético a 50% e corticoide tópico. A paciente encontra-se em acompanhamento ambulatorial e sem recidiva da lesão até o momento.
Alguns granulomas piogênicos involuem espontaneamente, porém a maioria requer tratamento. O granuloma piogênico ungueal geralmente é resultado de onicocriptose ou trauma local.3 É afecção dolorosa que impossibilita as atividades diárias dos pacientes. Dor e inflamação resultam da penetração da lâmina ungueal no tecido celular subcutâneo. A excisão cirúrgica é boa opção terapêutica, pois oferece baixa recorrência, cura em única sessão e possibilidade de remessa do material para exame histopatológico.2,4,8 No caso descrito, o granuloma piogênico era tão exuberante, que nos fez acreditar que havia ocorrido destruição da lâmina ungueal. Com a remoção cirúrgica da lesão, visualizamos a unha, que apresentava o crescimento prejudicado devido ao excesso de tecido sobrejacente. A técnica cirúrgica realizada consistiu em remoção da lesão vegetante e associação com a técnica do "U" largo de pele, que compreende a retirada, em fuso, da pele da dobra ungueal lateral e distal com posterior sutura das bordas.8,9
Entre as terapias disponíveis para o granuloma piogênico, a escolha do melhor tratamento vai depender de cada caso e da experiência do profissional.
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