Lauro Lourival Lopes Filho1, Lauro Rodolpho Soares Lopes1, Iuri Paz Lima1, Priscila Aragão Rocha1, Vitor Brito da Silva1, Marina Costa Müller1
Keywords: CARCINOMA BASOCELULAR, ONCOLOGIA CUTÂNEA, CIRURGIA DERMATOLOGICA
O carcinoma basocelular é o tumor maligno que, com mais frequência, acomete os seres humanos, notadamente os de pele clara. A localização mais comum é a face, em especial o nariz. Na maioria das vezes, tem crescimento lento e baixo poder metastatizante, mas, se o tratamento for negligenciado, pode atingir grandes dimensões e provocar sérias deformidades, principalmente quando ulcerado. Sempre que possível, após a excisão, deve ser feita a reconstrução com a cicatriz o mais imperceptível possível.1 Apresenta-se aqui um caso de paciente com lesão frontal e superciliar, submetido à excisão e à reconstrução com resultado estético favorável.
Paciente masculino de 72 anos, caucasiano, comerciante aposentado, procurou atendimento dermatológico com queixa de nódulo ulcerado na região frontal, que se estendia até o supercílio e sangrava aos mínimos traumas. Ao exame dermatológico, constatou-se a presença de tumoração perolada, ulcerada, com limites externos bem defi nidos e aproximadamente 3 cm de diâmetro, localizada na região frontal, à esquerda. O terço inferior da lesão acometia a metade medial do supercílio (Figura 1).
O exame histopatológico da biópsia por punch mostrou tratar-se de um carcinoma basocelular de padrão nodular. A lesão foi excisada em regime ambulatorial, com controle intraoperatório de margens, sob anestesia local. Devido às dimensões do defeito resultante (diâmetro = 4 cm) e à sua localização, a melhor opção para a reconstrução foi a utilização de um retalho.
Optou-se inicialmente por um retalho de avanço simples, com pedículo à esquerda, que permitiria reconstruir a porção superciliar removida. Porém, este procedimento não foi sufi ciente para o fechamento, confeccionando-se um segundo retalho de avanço contralateral de modo que não ocorresse assimetria importante na região glabelar. Por esse motivo, o novo retalho teve uma dimensão bem menor que o primeiro (Figura 2). As incisões foram posicionadas nas linhas de rugas, mantendo-se o bisturi paralelo aos folículos pilosos, para evitar a sua transecção.
A sutura foi removida após sete dias e não foram observadas complicações no período pós-operatório. O paciente retornou para seguimento seis meses depois da cirurgia, quando se observou bom resultado estético com manutenção do posicionamento e simetria da sobrancelha. Ele vem sendo acompanhado, a cada 6 meses, e após 2 anos não apresenta leões.
Os supercílios são importantes estruturas anatômicas e estéticas da face. Protegem as pálpebras e o globo ocular de injúrias mecânicas. Têm diferentes características nos sexos feminino e masculino, caracterizando-se, neste último, pelo formato retilíneo e posição baixa, no nível do rebordo orbital superior. Sua perda parcial pode levar a uma importante alteração estética da face. Quando lesões cutâneas, principalmente as malignas, acometem essa área, o processo reconstrutivo é delicado, por exigir, além da excisão de toda a espessura da pele e subcutâneo, a manutenção da simetria e a uniformidade de posição das sobrancelhas.2 A sutura direta é inexequível em situações de grandes perdas e a utilização de enxertos livres nessa área não permite manter o aspecto natural da sobrancelha, tornando o uso de retalhos a melhor opção.
As seguintes possibilidades podem ser cogitadas: retalho em ilha supraorbital,3 retalho periglabelar4 e o clássico retalho de avanço, uni ou bilateral.5 A opção pelo último, no caso descrito, deveu-se ao fato de que, ao ser incluído no retalho todo o supercílio remanescente, pôde-se avançar e posicioná-lo na área excisada, mantendo-se a coloração e textura da pele, além da direção e aspecto dos pelos regionais. O segundo retalho de avanço contralateral permitiu que houvesse uma aproximação das bordas sem tensão, com ausência de distorções na região glabelar. A vantagem adicional deste tipo de reconstrução é permitir que as incisões sejam posicionadas nas linhas de rugas, tornando-as menos perceptíveis.6
Apesar da grande dimensão, da localização e do aspecto clínico do tumor, com a utilização de dois retalhos de avanço em H foi possível excisar toda a lesão, com margem de segurança sufi ciente e realizar uma reconstrução estética e sem distorções do supercílio e da glabela.
1 . Hassanpour E, Mafi P, Mozafari N. Reconstruction of major forehead soft tissue defects with adjacent tissue and minimal scar formation. J Craniofac Surg 2005;16:1126-30
2 . Seline PC, Siegle RJ. Forehead reconstruction. Dermatol Clin 2005;23:1-11
3 . Kilinc H, Bilen BT. Supraorbital artery island fl ap for periorbital defects. J Craniofac Surg 2007;18:1114-9
4 . Birgfeld CB, Chang B. The periglabellar fl ap for closure of central forehead defects. Plast Reconstr Surg 2007;120:130-3
5 . Siegle RJ. Reconstruction of the forehead. In Baker SR. Local flaps in facial reconstruction, 2 ed. Philadelphia: Mosby-Elsevier, 2007, pp.557-79
6 . Hicks DL, Watson D. Soft tissue reconstruction of the forehead and temple