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Diagnóstico por Imagem

A importância da dermatoscopia digital no diagnóstico precoce do melanoma e no auxílio à histopatologia em paciente de alto risco

Flávia Vieira Brandão1, Bianca Costa Soares de Sá1, Clóvis Antônio Lopes Pinto1, João Pedreira Duprat Neto1

Data de recebimento: 03/05/2012
Data de aprovação: 27/08/2012
Trabalho realizado no Núcleo de Câncer de
Pele e Dermatologia do Hospital AC Camargo
– São Paulo (SP), Brasil.
Conflito de interesses: Nenhum.
Suporte financeiro: Nenhum.

Abstract

A detecção precoce do melanoma é crucial para sobrevida maior. A dermatoscopia aumenta a acurácia do exame clínico, possibilitando o diagnóstico em fases iniciais, mas apresenta limitações no diagnóstico dos melanomas incipientes. O mapeamento corporal total e dermatoscopia digital auxiliam o diagnóstico de lesões incaracterísticas e permitem a detecção de lesões novas suspeitas. Os pacientes de alto risco para o desenvolvimento de melanoma são aqueles que mais se beneficiam dessa forma de seguimento. Relatamos caso de paciente de alto risco em que o diagnóstico de melanoma só foi possível através do auxílio da dermatoscopia na análise direcionada da histopatologia.

Keywords: MELANOMA, DERMOSCOPIA, DIAGNÓSTICO PRECOCE, FATORES DE RISCO, PATOLOGIA


INTRODUÇÃO

Os principais fatores de risco para o desenvolvimento do melanoma cutâneo são antecedente pessoal e familiar de melanoma além do fenótipo de síndrome do nevo atípico. Outros fatores incluem pele clara, cabelos ruivos, múltiplas efélides, história de queimadura solar e exposição prévia intensa à radiação ultravioleta, incluindo as câmeras de bronzeamento artificial.1,2

A detecção precoce é a chave para melhor prognóstico. A dermatoscopia é método não invasivo que permite a avaliação de estruturas morfológicas da pele não acessíveis a olho nu, aumentando a acurácia do exame clínico de 60 para 90%.1,3

A dermatoscopia digital seriada aumenta a chance de diagnóstico de melanomas iniciais e minimiza a excisão de lesões benignas.4 O mapeamento corporal total permite a verificação de mudanças macroscópicas nas lesões preexistentes e o diagnóstico de novas lesões suspeitas. A combinação dessas duas técnicas é a melhor forma de seguimento para os pacientes de risco.2

A dermatoscopia também apresentou grande impacto na rotina da histopatologia, e a correlação dermatoscopia/histopatologia direciona o patologista para análise de áreas mais suspeitas nos tumores melanocíticos.5

RELATO DE CASO

RCGM, 44 anos, do sexo feminino, pele tipo I, cabelo ruivos, múltiplas efélides, relata história de queimadura solar na infância e adolescência, além de bronzeamento artificial (100 sessões dos 12 aos 32 anos). História pessoal de melanoma (tumor fino associado a nevo em abdômen), história familiar de melanoma (irmão e tio paterno), além de história familiar de câncer de pâncreas (primo materno). Iniciou seu seguimento no Hospital AC Camargo (Núcleo de Câncer de Pele e Dermatologia) em agosto de 2008 quando foi realizada ampliação de margens do melanoma referido, diagnosticado inicialmente em outro serviço, e encaminhada para mapeamento corporal total, dermatoscopia digital e ambulatório de melanoma familial. Observou-se o total de 27 lesões melanocíticas, sem indicação de exérese no primeiro exame, realizado em novembro de 2008. Em outubro de 2009, em seu terceiro exame, lesão de antebraço direito apresentou mudança de aspecto na avaliação pela dermatoscopia digital (Figura 1), indicando-se a remoção. O exame histopatológico mostrou tratar-se de melanoma do tipo extensivo superficial, Breslow 0,57mm, não associado a nevo. Realizada ampliação de margens.

Na quinta dermatoscopia, realizada dois anos após a primeira, em julho de 2011, notou-se lesão nova em flanco esquerdo apresentando aspecto dermatoscópico irregular, com a presença de hiperpigmentação excêntrica periférica associada a rede atípica e pontos marrons distribuídos irregularmente (Figuras 2 e 3). A lesão foi excisada, e o resultado do exame histopatológico inicial foi de nevo composto atípico. No entanto, devido ao aspecto dermatoscópico de lesão suspeita e por tratarse de nova lesão em paciente de alto risco, insistiu-se na hipótese de melanoma. Em análise conjunta com o patologista e após sua revisão de lâmina, com novos cortes histológicos seriados em seis níveis, o laudo definitivo foi dado como melanoma extensivo superficial in situ (Figuras 4 e 5). A paciente foi encaminhada para ampliação de margens e mantém seu seguimento no ambulatório de dermatoscopia e melanoma familial.

DISCUSSÃO

O melanoma é doença potencialmente grave em que o melhor prognóstico se associa ao diagnóstico precoce. A dermatoscopia aumenta a sensibilidade para a detecção de lesões iniciais.1

Melanomas incipientes podem não ser reconhecidos à dermatoscopia na visita inicial, só podendo, muitas vezes, ser detectados através de mudanças em seu aspecto dermatoscópico durante avaliação seriada.3,4 Recomenda-se o primeiro retorno em três meses, possibilitando a detecção dos melanomas incaracterísticos e os de crescimento rápido, sendo qualquer mudança ocorrida nesse intervalo de acompanhamento indicativa de exérese.5

O segundo retorno da dermatoscopia deve ser realizado entre seis e 12 meses depois do primeiro exame, para diagnóstico de melanomas de crescimento lento e/ou melanomas de novo ou, ainda, a transformação maligna de nevos preexistentes. Considera-se a excisão da lesão quando verificados alteração de tamanho ou pigmentação, assim como mudança de forma, surgimento de regressão ou de estruturas dermatoscópicas específicas do melanoma.2-4

Pacientes de alto risco, que incluem aqueles com melanoma familial, melanoma múltiplo e/ ou síndrome do nevo atípico, são os que mais se beneficiam do mapeamento corporal total associado à dermatoscopia digital seriada, com aumento da acurácia para o diagnóstico de melanomas ainda em fases iniciais.1,2

A dermatoscopia no presente caso ainda foi de grande valia para o auxílio à patologia, uma vez que o primeiro laudo do terceiro melanoma foi de nevo atípico, mas por se tratar de nova lesão vista no exame seriado com padrão dermatoscópico heterogêneo, em paciente de alto risco, insistiu-se na hipótese de melanoma que foi confirmada após exame mais detalhado da lesão, através de importante interação entre o dermatologista e o patologista.

Referências

1 . Haenssle HA, Korpas B, Hansen-Hagge C, Buhl T, Kaune KM, Johnsen S, et al. Selection of patients for long-term surveillance with digital dermoscopy by assessment of melanoma risk factors. Arch Dermatol. 2010;146(3):257-64

2 . Silva JH, Sá BCS, Ávila ALR, Landman G, Duprat Neto JP. Atypical mole syndrome and dysplasic nevi: identification of populations at risk for developing melanoma. Clinics (São Paulo). 2011; 66 (3): 493-9

3 . Bauer J, Blum A, Strohäcker U, Garbe C. Surveillance of patients at high risk for cutaneous malignant melanoma using digital dermoscopy. Br J Dermatol. 2005;152(1): 87-92

4 . Argenziano G, Mordente I, Ferrara G, Sgambato A, Annese P, Zalaudek I. Dermoscopic monitoring of melanocytic skin lesions: clinical outcome and patient compliance vary according to follow-up protocols. Br J Dermatol. 2008;159(2):331-6

5 . Ferrara G, Argenziano G, Giorgio CM, Zalaudek I, Kittler H. Dermoscopicpathologic correlation: apropos of six equivocal cases. Semin Cutan Med Surg. 2009;28(3):157-64


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