2286
Views
Open Access Peer-Reviewed
Diagnóstico por Imagem

Indicações não tradicionais da dermatoscopia

Carlos Augusto Silva Bastos1

Recebido em: 08/05/2012
Aprovado em: 12/06/2012

Trabalho realizado no Centro de Estudos de
Dermatologia e Infectologia Souza Araújo
(Cedisa) – Setor de Ciências da Saúde da
Universidade Federal do Paraná (UFPR) –
Curitiba (PR), Brasil.

Conflito de interesses: Nenhum.
Suporte financeiro: Nenhum.

Abstract

A dermatoscopia tem sido técnica de comprovada importância no diagnóstico in vivo de lesões pigmentadas, e a cada dia surgem novas utilizações em outras dermatoses e para controle de tratamentos clínico e cirúrgico. Este artigo apresenta alguns exemplos de outras indicações da dermatoscopia.

Keywords: DERMOSCOPIA, INFESTAÇÕES POR CARRAPATO, NEOPLASIAS, DERMATOLOGIA, VIROSES


A dermatoscopia melhora a acurácia no diagnóstico das lesões pigmentadas em relação ao exame habitual, através da identificação dos critérios específicos não visíveis a olho nu. A aplicação para outras lesões vem ganhando popularidade como se observa em crescentes relatos da literatura mundial.1 Dentre esses usos não tradicionais, destacamos o diagnóstico de infecções e infestações cutâneas, e também o acompanhamento de algumas neoplasias benignas.

Doenças muito comuns em certas regiões geográficas, como escabiose, pediculose, fitiríase, tungíase, larva migrans, tinha nigra, verrugas virais, molusco contagioso, podem em certos casos, apresentar dificuldades no diagnóstico, levando a atraso no tratamento, o que aumenta a possibilidade de contágio e os gastos com a saúde.2 Um exemplo é a infestação pela larva do carrapato-estrela, conhecida como micuim, que produz erupção eritematopapulosa com intenso prurido e pode ser prontamente diagnosticada através do exame dermatoscópico.3 O tratamento desafiador para a remissão de verrugas plantares, assim como infecções fúngicas de tinha nigra, causadas pela Exophiala werneckii, muito frequente em crianças, também pode ter seu acompanhamento facilitado pelo dermatoscópio de luz polarizada.

O nevo sebáceo afeta mais frequentemente o couro cabeludo e face, apresenta-se como placa róseo-amarelada e pode ser campo fértil para o desenvolvimento de neoplasias de anexos secundárias benignas e, raras vezes, malignas. Os achados mais comuns são os tricoblastomas e siringocistoadenomas papilíferos e em cerca de 1% pode surgir o carcinoma basocelular.4

OBSERVAÇÕES CLÍNICAS

Paciente 1 – Do sexo masculino, 70 anos, apresentando pápulas eritematosas intensamente pruriginosas em todo o corpo, após visitar área rural próxima de Curitiba (Figura 1). O exame dermatoscópico identificou o agente causal (micuim), permitindo tratamento imediato e alívio do sintoma.

Paciente 2 – Do sexo masculino, 55 anos, desenvolveu lesões plantares pápulo-verrucosas, dolorosas, há seis meses. Feito o diagnóstico de verrugas plantares, foi iniciado tratamento crioterápico mensal (Figura 2). Ao longo das sessões foi possível verificar a melhora progressiva dos sinais dermatoscópicos das lesões, que apresentaram remissão após seis sessões.

Paciente 3 – Do sexo feminino, dois anos, apresentou mancha acastanhada na região palmar direita, assintomática. A dermatoscopia mostrou sinais compatíveis com tinea nigra (Figura 3). O tratamento foi feito com antifúngicos tópicos seguindo-se a regressão das lesões.

Paciente 4 – Do sexo masculino, 20 anos, com lesão no couro cabeludo que se iniciou na infância e teve discreto aumento na adolescência com surgimento de lesão papulosa próxima da área central (Figura 4). A dermatoscopia mostrou ninhos ovoides cinza-azulados envoltos de área branco-leitosa, com estruturas vasculares finas, lineares e ausência de vasos arboriformes. Foi submetido à exérese, e o exame anatomopatológico confirmou a suspeita diagnóstica de nevo sebáceo com tricoblastoma associado.

CONCLUSÃO

A dermatoscopia é técnica de diagnóstico não invasiva que ganha mais importância a cada dia, com o aumento do número de suas indicações. O diagnóstico precoce do melanoma continua sendo sua mais importante contribuição, porém o uso na dermatologia geral tem sido difundido através de novos relatos, tornando o dermatoscópio ferramenta indispensável ao dermatologista.

Referências

1 . Zalaudek I, Argenziano G, Di Stefani A, Ferrara G, Marghoob A, Hofmann-wallenhof R, et al. Dermoscopy in General Dermatology. Dermatology 2006; 212(1): 7-18.

2 . Zalaudek I, Giacomel J, Cabo H, Di Stefani A, Ferrara G, Hofmann-wallenhof R, et al. Entodermoscopy: A new tool for diagnosing skin infections and infestations. Dermatology 2008; 216(1):14-23

3 . Criado PR, Criado RFJ. Ixodiase revelada pela microscopia de epiluminescencia sem contato com a pele. An Bras Dermatol. 2010;85(3):389-90.

4 . Giorgi V, Massi D, Trez E, Alfaioli B, Carli P. Multiple pigmented trichoblastomas and syringocystadenoma papilliferum in naevus sebaceus mimicking a malignant melanoma: a clinical dermoscopic-pathological case study. Br J Dermatol. 2003; 149(5): 1067-70.


Licença Creative Commons All content the journal, except where identified, is under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International license - ISSN-e 1984-8773