Emi Dika1, Bianca Maria Piraccini 1, Píer Alessandro Fanti 1, Sabina Vaccari1, Iria Neri1, Annalisa Patrizi1
Keywords: MELANOMA, MELANOMA AMELANÓTICO, FERIMENTOS E LESÕES
Um paciente de 62 anos de idade foi encaminhado ao nosso serviço apresentando longo histórico de massa ulcerada nodular, localizada no dedo indicador da mão esquerda. O paciente, que exercia a profissão de salva-vidas na Marina di Ravenna na Itália, não apresentava qualquer outro problema em relação à sua saúde.
A massa surgiu como um nódulo de crescimento lento, resultando de um trauma mecânico ocorrido durante uma caçada e tendo sido tratado como lesão pós-traumática por alguns anos. O último tratamento a que o paciente havia sido submetido antes de ser encaminhado ao nosso serviço foi a oxigenoterapia hiperbárica.
Ao exame clínico, a lesão se apresentou como uma massa altamente vascularizada de 2,5 x 1,7cm, coberta por uma combinação de tecidos fibróticos e necróticos (Figura 1). A radiografia do dedo revelou reabsorção óssea, sendo necessária a realização de biópsia do leito ungueal. O resultado da histopatologia (Figura 2) revelou tumor constituído por células com citoplasma eosinófilico abundante, núcleos pleomórficos, necléolos proeminentes e grande número de figuras mitóticas atípicas infiltradas nos tecidos moles adjacentes e na falange distal. A imunomarcação para a proteina S-100 revelou-se positiva, tendo sido negativa para Melan-A, HMB-45, CD 34, desmina e miogenina). Foi realizada a desarticulação da falange distal, com o diagnóstico de melanoma amelanótico ulcerado e profundidade de Breslow estimada em 3,1 mm (40; N0 M0).
O paciente foi submetido à biópisa do linfonodo sentinela e tomografia computadorizada do corpo inteiro, que resultaram negativas para metástases ou outras localizações para a doença. Doze meses após o diagnóstico, o paciente apresentou recorrência nos nódulos axilares (40; N1; M0) e foi submetido a dissecção axilar. Terapia adjuvante com intérferon foi implementada com boa tolerância à droga.
O melanoma amelanótico do aparelho ungueal (MAU) é frequentemente diagnosticado erroneamente, não sendo tratado adequadamente por longos períodos. 1,2 De fato, as taxas de erro diagnóstico são descritas como sendo de até 85% nos casos em que o médico não possui especialização em dermatologia. 3 A consequência desse atraso diagnóstico, a taxa de sobrevida em pacientes portadores de MAU é significativamente mais baixa do que as de pacientes portadores de outros tipos de melanoma, sendo de 1030%, com uma sobrevida de 5 anos (em comparação a 80% e sobrevida de 5 anos para melanomas em outras localizações). 1,3
No caso descrito, não foi possível determinar se o melanoma se manifestou devido ao trauma causado ao tecido (segundo descrição do paciente) ou se tal correlação é inexistente. O trauma é considerado como fator predisponente para o desenvolvimento do MAU, dado que o tumor é mais comum nos dedos sujeitos a sofrer traumas com maior freqüência, que os históricos dos pacientes frequentemente descrevem como traumas precedendo o surgimento da lesões. 4 Não obstante, não há dados que confirmem a participação do trauma no desenvolvimento do MAU. De fato, o MAU pode ter estado presente no local antes da ocorrência do trauma, causando o enfraquecimento da lâmina ungueal e proporcionando menor resistência a traumas mecânicos. Em um estudo incluindo 33 casos de melanoma ungueal, não foi possível a confirmação da influência do trauma na patogênese primária das lesões. Por outro lado, o mesmo estudo revelou que o trauma ao tumor clinicamente aparente influencia significativamente o prognóstico para uma sobrevida sem recorrência e para a sobrevida em geral. 5
Adicionalmente, o paciente descrito no presente estudo havia sido submetido à oxigenoterapia hiperbárica durante o ano anterior ao que o melanoma foi diagnosticado. Enquanto há estudos que sugerem que o oxigênio hiperbárico (HBO2) pode apresentar efeitos que incentivem o desenvolvimento do cancer, levando à proliferação de células malignas e à angiogênese em tumores malignos, 6 outros contradizem tal hipótese. 7
Dado que o MAU do paciente em questão permaneceu inativo (sem matástases) durante vários anos, tendo iniciado a metastatização apenas após a cirurgia, também investigamos a hipótese da ocorrência de trauma cirúrgico que tenha piorado o prognóstico. No entanto, estudos recentes sugerem que biópsias incisionais de melanomas malignos não influenciam negativamente o prognóstico e são atualmente indicadas para o diagnóstico histopatológico de tumores em localização acral. 8
Como resultado, concluímos que sempre se deve considerar a hipótese de que uma massa nodular erosiva no aparelho ungueal pode indicar a presença de um melanoma amelanótico e, dado que o diagnóstico precoce é fundamental para um bom prognóstico1 , uma biópsia deve ser realizada imediatamente.
1 . Harrington P, O''Kelly A, Trail LA, Freemont AJ. Amelanotic subungual melanoma mimicking pyogenic granuloma in the hand. J Royal Coll Surg Edinb. 2002;47(4): 638–40.
2 . De Giorgi V, Stante M, Carelli G, Carli P. Subungual melanoma: an insidious erythematous nodule on the nail bed, Arch Dermatol. 2005;141(3):398–3.
3 . Balch CM, Buzaid AC, Atkins MB, Cascinelli N, Coit DG, Fleming ID, et al. A new American Joint Committee on Cancer staging system for cutaneous melanoma. Cancer. 2000; 88(6):1484–91.
4 . Mohrle M, Hafner HM. Is subungual melanoma related to trauma? Dermatology. 2002; 204(4):259-61.
5 . Bormann G, Marsch WC, Haerting J, Helmbold P. Concomitant traumas influence prognosis in melanomas of the nail apparatus. Br J Dermatol.2006;155(1): 76-80.
6 . Feldmeier J, Carl U, Hartmann K, Sminia P. Hyperbaric oxygen: does it promote growth or recurrence of malignancy?. Undersea Hyperb Med.2003;30(1):1-18.
7 . Johnson RJ, Wiseman N, Lauchlan SC. The effect of hyperbaric oxygen on tumour metastases in mice. Clin Radiol. 1971;22(4):538-40.
8 . Pflugfelder A, Weide B, Eigentler TK, Forschner A, Leiter U, Held L, et al. Incisional biopsy and melanoma prognosis: Facts and controversies.Clin Dermatol. 2010; 28(3): 316-8.