Nelson Marcos Ferrari Júnior1, Alessandra Cristine Marta1, Andrey Augusto Malvestiti1, Adriana Alves Ribeiro1, Fábio Roismann Timoner1
Keywords: PROCEDIMENTOS MÉDICOS E CIRÚRGICOS DE SANGUE, TERAPIA A LASER, TOXINAS BOTULÍNICAS, PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS AMBULATÓRIOS
O uso original da técnica da cerclagem, ou sutura em bolsa, data do início dos anos 50 e foi utilizada após a excisão de cisto epidérmico na região malar. 1 Posteriormente, a técnica foi bastante empregada para a reconstrução pós-operatória de feridas cirúrgicas decorrentes de câncer da pele. 2
A técnica da cerclagem é utilizada para o fechamento completo ou parcial de defeitos cirúrgicos circulares extensos localizados em regiões nas quais o fechamento direto ou a execução de enxertos e retalhos seja difícil.
Para melhores resultados é importante que a pele adjacente tenha boa mobilidade, permitindo melhor aproximação das bordas, como, por exemplo, em tórax, coxas e braços. 3,4 Apresenta a vantagem de distribuir a tensão uniformemente sobre toda a borda da ferida, proporcionando avanço máximo da pele e distorcendo o mínimo possível as estruturas vizinhas.
Paciente do sexo masculino, 34 anos, foi submetido a exérese cirúrgica de carcinoma basocelular no tórax que media 8 x 7cm de diâmetro. Após anestesia local com solução tumescente, a exérese foi realizada com margens de 5mm. Para o fechamento do grande defeito circular resultante, optou-se pela técnica da dupla cerclagem, que segue descrita. Após descolamento da borda da ferida e adequada hemostasia, procedeu-se a realização da primeira bolsa circular distando 3cm da borda da ferida, com mononylon 3.0. Essa primeira bolsa reduziu o diâmetro da ferida a aproximadamente um terço de seu tamanho original. A seguir, realizou-se uma segunda sutura em bolsa, distando 0,5cm da borda, obtendo-se defeito ainda menor (cerca de um quarto ou menos do defeito inicial.(Figura 1) Esse defeito resultante cicatrizou por segunda intenção deixando cicatriz de aspecto satisfatório.(Figura 2)
A correção de defeitos cirúrgicos extensos impõe dificuldades técnicas. Das alternativas cirúrgicas possíveis, todas se mostram menos favoráveis do que a técnica da cerclagem. A exérese através de excisão elíptica, por exemplo, resultaria em cicatriz aproximadamente três vezes maior.
Outra alternativa, o enxerto, além de requerer área doadora e apresentar risco de necrose, produziria resultado estético inferior. O retalho seria de difícil realização, tendo em vista o tamanho do pedículo necessário para irrigação de área dessa dimensão.
O método da cerclagem, como descrito, permite a máxima aproximação entre as bordas opostas e, como resultado, gerase ferida de diâmetro menor que cicatrizará por segunda intenção. Às vezes, ao final das cerclagens, é possível ainda fechar o restante do defeito borda-a-borda. Assim, além de permitir o fechamento direto de uma ferida de grande diâmetro, essa técnica tambem resulta em aspecto estético satisfatório. Neste caso, contou-se com a boa elasticidade da pele do paciente.
A cerclagem demonstra-se técnica eficaz para a correção de feridas cirúrgicas de grande extensão, exequível sob anestesia local, e proporciona aspecto estético final satisfatório. O caso descrito ilustra essa valiosa ferramenta no arsenal terapêutico do cirurgião dermatológico.
1 . Cerclage technique for repairing large circular defects of the trunk: two-staged excision of a plexiform neurofibroma. Dermatol Surg. 2008; 34(7):939-43.
2 . The purse-string suture revisited: a useful technique for the closure of cutaneous surgical wounds. Int J Dermatol. 2007;46(4):341-7.
3 . Dermatology. London: Elsevier Mosby; 2003. p. 856.
4 . The purse-string suture in facial reconstruction. J Dermatol Surg Oncol. 1992;18(9):812-6.