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Artigo Original

Estudo do perfil epidemiológico e avaliação pós-cirúrgica de oito casos de tumor glômico

Leandra Oliveira Teixeira1, Ana Luiza Grizzo Peres Martins1, Samira Oliveira Teixeira1, Sadamitsu Nakandakari1

Recebido em: 01/09/2011
Aprovado em: 09/09/2011

Trabalho realizado no Instituto Lauro de
Souza Lima (ILSL) – Bauru (SP), Brasil.

Suporte financeiro: Nenhum
Conflitos de interesse: Nenhum

Abstract

Introdução: O tumor glômico é lesão benigna rara que ocorre mais comumente em falanges distais e representa de 1% a 4,5% das neoplasias da mão. O tipo subungueal é mais frequente em mulheres nas terceira e quinta décadas de vida.
Objetivo: Este trabalho objetivou avaliar o perfil epidemiológico de pacientes com tumor glômico, sua satisfação em relação ao tratamento, e a recidiva por retirada incompleta. Método: Estudaram-se os prontuários de oito pacientes com diagnóstico de tumor glômico tratados em serviço de dermatologia de 1992 a 2011 avaliando-se sexo, idade, profissão, região acometida, satisfação do paciente em relação ao tratamento e se houve recidiva.
Resultados: A média de idade dos casos foi de 63 anos, superior à faixa etária descrita pela literatura. A profissão mais relacionada foi "prendas domésticas". Todos os pacientes ficaram satisfeitos com o tratamento do ponto de vista estético. A melhora da dor foi plena em três dos seis pacientes que retornaram para avaliação. Naqueles em que a melhora não foi total, houve recidiva. A taxa de recidiva por retirada incompleta foi de 50%.
Conclusão: Conclui-se a persistência da dor como indicadora de recidiva e percebe-se a efetividade da cirurgia na melhora da dor.

Keywords: TERAPÊUTICA, TUMOR GLÔMICO, UNHAS


INTRODUÇÃO

O tumor glômico (TG) é lesão benigna rara que ocorre mais comumente em falanges distais e representa de 1% a 4,5% das neoplasias da mão. 1 Caracteriza-se por dor pulsátil intensa e debilitante e sensibilidade à pressão e à temperatura. 2 O diagnós- tico pode ser baseado no exame físico, através do teste de Love, que é a presença de dor à pressão pontual do local do tumor. 3 Exames complementares como raio-x, ultrassom e ressonância magnética podem ser solicitados, sendo o último o mais sensí- vel. 4 O tratamento de escolha é a excisão cirúrgica, o que pode implicar resultado inestético. Este trabalho objetivou estudar o perfil dos pacientes atendidos em serviço de dermatologia com diagnóstico de TG, a avaliação do tratamento, do resultado esté- tico, da melhora da dor e recidiva por retirada incompleta.

MÉTODO

Trata-se de estudo descritivo de série de oito casos de TG aten- didos no serviço de dermatologia do Instituto Lauro de Souza Lima, Bauru- SP, no período entre 1992 e 2011, com aprovação do Comitê de Ética da instituição. Estudaram-se os prontuários desses pacientes e avaliaram-se sexo, idade, profissão, região acometida, tempo de doença até o diagnóstico, comorbidades, exames complementares e características da dor. Os pacientes foram então convocados para ava- liação da satisfação em relação ao tratamento (melhora da dor e resul- tado estético pós-operatório) e recidiva por retirada incompleta.

RESULTADOS

A idade média dos pacientes com TG no grupo avaliado foi de 63 anos (36 a 77 anos), com predomínio do sexo feminino na proporção de 3:1 (seis mulheres e dois homens). Seis dos oito pacientes apresentavam lesão em quirodáctilos, um no hálux esquerdo e um no membro inferior direito (Tabela 1). Dos sete pacientes com lesão em dedos de mãos e pés, cinco localizavam- se em região subungueal e dois em região periungueal (Tabela 1 e Figura 1). As comorbidades mais encontradas foram diabetes mellitus e hipertensão arterial (Tabela 2). A profissão de quatro pacientes era prendas domésticas, dois tinham funções adminis- trativas e um era forneiro. Todos os pacientes apresentavam dor pulsátil intensa com piora ao toque, e dois relatavam piora da dor com exposição a baixas temperaturas. O tempo entre o início da dor e o diagnóstico variou de um a 35 anos, com média de 13,5 anos. Para apenas dois dos sete pacientes com TG (sendo um em quarto quirodáctilo direito e o outro em hálux esquerdo) foi soli- citado raio-x que demonstrou alterações típicas: depressões na falange distal com afinamento da cortical e da medular (Figura 2A). Somente uma paciente foi submetida à ultrassonografia, que demonstrou lesão nodular de 1,2cm (Figura 2B). Todos pacientes foram submetidos ao tratamento cirúrgico (Figura 3)).

Convocados para avaliação pós-operatória tardia no ano vigente, seis dos oito pacientes compareceram ao serviço. As alterações encontradas no exame pós-operatório foram: sulco longitudinal em um caso (Figura 4); pterígio em dois casos (Figuras 5 e 6); e unha encravada distal, mas com melhora espon- tânea em um caso (Figura 7). Todos os pacientes relataram melhora da dor, sendo que em três esta melhora foi de 100%. Entretanto, dos seis pacientes reavaliados, três (50%) relataram reaparecimento da dor. Eles foram reoperados, e constatou-se novamente a presença do tumor, que provavelmente não havia sido retirado totalmente. Questionados a respeito do grau de satisfação em relação ao resultado estético, os seis pacientes ava- liados o consideraram satisfatório.

DISCUSSÃO

Nessa casuística houve predomínio do sexo feminino (75% dos casos), e o TG acometeu os quirodáctilos com maior fre- quência, achados concordantes com dados já publicados. 5,6 A média de idade nos casos avaliados foi de 63 anos sendo maior do que a faixa etária descrita por outros autores. 6 A profissão mais relacionada foi prendas domésticas, em conformidade com a literatura que refere relação com traumas proporcionados por tarefas domésticas. 2,7

Os exames complementares foram realizados em apenas três casos, e a hipótese diagnóstica baseou-se nos achados clíni- cos (Figura 8), e teste de Love positivo. O diagnóstico de tumor glômico foi confirmado pelo exame histopatológico (Figura 9) em todos os casos.

Todos os pacientes avaliados ficaram satisfeitos com o tratamento do ponto de vista estético. A dor desapareceu em três dos seis casos. Houve melhora com posterior piora nos outros três casos. A taxa de recidiva por retirada incompleta foi de 50%, superior à descrita por outros autores, que varia de 10% a 20%. 8

CONCLUSÃO

Concluímos afirmando que a cirurgia, como única opção de tratamento, geralmente é bem aceita e tem resultados satisfa- tórios. No entanto, é importante esclarecer ao paciente que os resultados estéticos podem não ser tão bons. A persistência da dor geralmente caracteriza a recidiva da lesão e indicação de rea- bordagem.

Referências

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2 . Carrol RE, Berman AT. Glomus tumors of the hand. J Bone Joint Surg. 1972;54(4):691-703.

3 . Rohrich RJ, Hochstein LM, Millwee RH. Subungueal glomus tumors: an algorithmic approach. Ann Plast Surg. 1994;33(3):300-4.

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5 . Gandon F, Legaillard P, Brueton R, Le Viet D, Foucher G. Forty-eight glomus tumors of the hand. Retrospective study and four-year follow-up. Ann Chir Main Memb Super. 1992;11(5):401-5

6 . Vanti Adriana Amorim, Cucé Luiz Carlos, Di Chiacchio Nilton. Tumor glômico subungueal: estudo epidemiológico e retrospectivo, no período de 1991 a 2003. An. Bras. Dermatol. 2007; 82(5): 425-31.

7 . Shugart RR, Soule EH, Johmson EW. Glomus tumor. Surg Gynecol Obstet. 1984;117:334-40.

8 . Cernea SS, Di Chiacchio N, Vanti A. Tumores glômicos subungueais tratados pela cirurgia micrográfica de Mohs: índices de recidiva e revisão de literatura. Surg Cosmet Dermatol. 2009; 1(2): 70-3.


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