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Novas Técnicas

Preenchimento labial com microcânulas

Andre Vieira Braz1, Luana Vieira Mukamal1

Data de recebimento: 10/06/2011
Data de aprovação: 08/09/2011

Trabalho realizado na Clínica Dermatológica Dr.
André Vieira Braz - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

Conflitos de interesse: Conflito de Interesses:
O autor é consultor e speaker da Allergan
cosmetics.
Suporte financeiro: Nenhum

Abstract

Trata-se da descrição de técnica de preenchimento labial com ácido hialurônico utilizando microcânulas, que diminui muito o número de pertuitos necessários ao método convencional com agulhas e reduz a possibilidade de injeção intravascular do produto, além de restringir o risco de ruptura de estruturas nobres, como vasos e nervos, devido à ponta romba. Os resultados encontrados confirmam a menor ocorrência de efeitos indesejáveis e alto grau de satisfação de médicos e pacientes.

Keywords: ÁCIDO HIALURÔNICO, LÁBIO, REJUVENESCIMENTO


INTRODUÇÃO

Na dermatologia há poucos relatos do uso de microcânula para implantes de materiais de preenchimento na pele, 1 apesar de essa técnica já ser amplamente utilizada em outras especiali- dades médicas, como oftalmologia. 2

Os lábios, com o passar dos anos, estreitam-se, perdem o volume e o contorno; com injeções de ácido hialurônico, entre- tanto, é possível restabelecer essas características. 3,4

MÉTODOS

Foram tratados pacientes com queixas estéticas em relação aos lábios: deficiência da definição do contorno, do volume e da projeção labial. Foram excluídos pacientes com história de aler- gia ao produto implantado, com doenças do colágeno e gestan- tes. Os tratamentos foram realizados em clínica privada no período de outubro de 2010 a maio de 2011.

TÉCNICA DE APLICAÇÃO

Para introduzir a microcânula através da pele não é necessá- rio botão anestésico desde que as agulhas e cânulas sejam de pequeno calibre. Realiza-se orifício de entrada na pele, a 25mm de distância do ápice do arco do cupido no lábio superior, com uma agulha 26G ½, conforme marcação esquematizada na figura 1. Após a inserção da microcânula, de calibre 30G com 25mm de comprimento (Magic Needles ®, Needle Concept, Paris, França), percebe-se certa resistência causada pelo vencimento das traves fibróticas da derme que, ultrapassadas, garantem o plano adequa- do de preenchimento, subdérmico.

Utilizamos para o implante o ácido hialurônico na apresen- tação de 24mg/ml com acréscimo de lidocaína (Juvéderm Ultra®, Allergan inc, Irvine, California, EUA).

A técnica descrita utiliza apenas um pertuito para a intro- dução da microcânula e permite o tratamento de três diferentes características labiais com resultados distintos: definição do con- torno, projeção e aumento do volume dos lábios.

Quando o objetivo é melhorar o contorno labial, introdu- zimos a microcânula entre a pele e o vermelhão labial. A seguir, procede-se à retroinjeção linear do produto a partir do ápice do arco do cupido, do lado tratado, em direção à região lateral do lábio (Figura 2).

Quando desejamos a projeção dos lábios movimentamos a microcânula, ainda no plano subdérmico, em direção à mucosa labial. Então, injetamos o produto em retroinjeção ou em bolus (Figura 3).

Para a obtenção do aumento do volume labial, orientamos a microcânula para a mucosa oral, injetando com técnica em bolus (Figura 4).

Para o tratamento do contorno do lábio inferior realiza-se orifício de entrada a 10mm de cada comissura labial com agu- lha 26G 1/2. Em seguida executam-se passos iguais aos da téc- nica descrita para o lábio superior. Para o tratamento do contorno da região central do lábio inferior, realiza-se pertuito a 25mm do primeiro orifício e aplica-se o ácido hialurônico em retroinjeção (Figura 5).

Se o objetivo for o tratamento da comissura labial, utiliza- se o preenchimento, em retroinjeção, do contorno do lábio infe- rior realizado com microcânula para formar a base de 25mm de comprimento de um triângulo invertido. Após, realizam-se com agulha 30G, partindo do mesmo pertuito de entrada a 7mm da base horizontal, três pilares verticais de sustentação formados com retroinjeção do ácido hialurônico, conforme a esquemati- zação da figura 6.

Utilizando o mesmo pertuito no canto do lábio é possível tratar as rugas periorais, orientando a microcânula 30G no sen- tido superior até essas rugas e realizando retroinjeção (Figura 7).

RESULTADOS

Foram tratados 55 pacientes, sendo 47 mulheres e oito homens, com idades entre 18 e 71 anos. Os pacientes relataram alto grau de satisfação (Figura 8).

Observamos edema e eritema mínimos em comparação aos da técnica convencional com agulhas, quando a área tratada foi o contorno labial. No tratamento das áreas de mucosas labial e oral percebemos leve edema sem eritema. Não ocorreu sangramento e consequente equimose. Após seis horas, não foi observado edema nem eritema nos lábios tratados.

DISCUSSÃO

Os lábios são o centro do terço inferior da face e são capa- zes de expressar emoção, sensualidade e vitalidade. 3

Na técnica realizada para tratamento dos lábios utilizamos a classificação do autor que divide os lábios em três áreas anatô- micas distintas. Após o preenchimento em cada uma delas, ocor- rerá um resultado diferente. São elas:

- Contorno labial: é realçado quando se retroinjeta linear- mente o produto do centro para as laterais dos lábios.

- Mucosa labial: ao injetar nessa área obtém-se projeção dos lábios.

-Mucosa oral: ao preencher essa região com técnica em bolus, consegue-se volume labial, pois a arcada dentária local empurra a área preenchida para a frente. 4

Quanto aos lábios, pode-se descrever a pele espessa e justa- posta à camada muscular, com a zona vermelha fina e delicada constituída por epitélio de transição entre pele e mucosa. O sub- cutâneo da região lateral dos lábios tem influência na adesão da pele e da mucosa aos músculos. 5

As artérias que irrigam os lábios são as labiais superiores e inferiores (ramos da artéria facial). As artérias faciais são extre- mamente tortuosas, e a técnica com agulha ou de injeção intra- vascular acaba levando a sua perfuração, com maior possibilida- de de hematomas e equimoses. 6

As injeções com agulhas afiadas e curtas com comprimen- to de apenas 7mm nos obrigam a fazer vários orifícios para o implante, 7 fato que gera maior liberação de histamina e amplia a possibilidade de edema, eritema e hematomas, além de provo- car mais dor .

Microcânulas são muito seguras, devido a sua flexibilidade e ponta romba que não lesa vasos nem nervos, proporcionando mais conforto aos pacientes. Acidentes que possam ser causados pela injeção intravenosa ou por lesão de estruturas nobres são evitados, diminuindo em muito a quantidade de equimoses, embora o procedimento não seja totalmente isento de compli- cações. 8

CONCLUSÃO

Com microcânulas é seguro trabalhar em plano profundo, subdérmico, reduzindo os riscos já citados desde que o procedimento seja realizado com habilidade e delicadeza.

Referências

1 . Siqueira RC, Gil ADC, Jorge R. Retinal detachment surgery with silicone oil injection in transconjunctival sutureless 23-gauge vitrectomy Arq Bras Oftalmol. 2007; 70(6): 905-9.

2 . Calcagnotto R, Garcia AC. Uso de microcanulas em tratamentos de restauração do volume facial com ácido poli-L-lático. Surg Cosmet Dermatol. 2011;3(1):74-6.

3 . Rohrich RJ, Ghavami A, Crosby MA. The roles of hyaluronic acid fillers: scientific and thecnical considerations. Plast Reconstr Surg. 2007; 120(Suppl 6):41S-54S.

4 . Braz AV. Update no tratamento com ácido hialurônico. In: Kede MPV, Sabatovich O, editores. Dermatologia Estética. São Paulo: Ateneu; 2009. p. 646-61.

5 . Tamura BM. Anatomia da face aplicada aos preenchedores e à toxina botulínica - Parte I. Surg Cosmet Dermatol. 2010;2(3):195-204.

6 . Tamura BM. Anatomia da face aplicada aos preenchedores e à toxina botulínica - Parte II. Surg Cosmet Dermatol. 2010;2(4):291-303

7 . Hertzog B, Andre, P. Research Letter: The flexible needle, a safe and easy new technique to inject the face. J Cosmet Dermatol. 2010; 9(3): 251-2.

8 . Nácul AM. Contour of the lower third of the face using an intramusculary injectable implant. Aesthetic Plast Surg. 2005;29(4):222-9.


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