Ana Rosa Magaldi Ribeiro de Oliveira1, Maria Cristina Cardoso de Mendonça1, Ronaldo Figueiredo Machado1, Maria das Graças Tavares Lopes Silva1, Beatriz Julião Vieira Arestrup1
Keywords: ORELHA, DEFORMIDADES ADQUIRIDAS DA ORELHA, TÉCNICAS COSMÉTICAS
O lóbulo de orelha é bastante sensível à ruptura devido ao hábito cultural do uso de brincos, muitas vezes pesados para estrutura delicada que não tem o apoio cartilaginoso da orelha.
É comum na prática diária do dermatologista e do cirurgião plástico a procura de correção de lóbulos de orelha fendidos. As diversas técnicas cirúrgicas descritas na literatura para o reparo do lóbulo de orelha totalmente fendido incluem algumas limitações, tais como recidivas, formações de cicatrizes inestéticas, queloides e angulações indesejáveis no contorno do lóbulo. 1-3
Uma técnica simples de correção é descrita pelos autores, com base na aplicação de ácido tricloroacético 90% na fenda, seguida de sutura simples única, em seu extremo distal.
As vantagens da técnica descrita a tornam boa opção para a correção desse tipo de fenda.
Paciente do sexo feminino, 49 anos (Paciente A), fototipo II de Fitzpatrick (Figura 1) e paciente do sexo feminino, 33 anos (Paciente B), fototipo IV de Fitzpatrick (Figura 2) apresentavam fenda completa do lóbulo da orelha direita, e nunca haviam sido submetidas a nenhum tipo de tratamento cirúrgico.
Após assepsia local e infiltração anestésica do lóbulo com lidocaína 2% sem epinefrina, o ácido tricloroacético a 90% foi aplicado diretamente na borda das duas partes da fenda através de um palito de madeira, até obtenção de frosting, sem a neces- sidade de neutralização do ácido. As duas partes da fenda foram então aproximadas através de sutura simples única na ponta dis- tal da fenda com monofilamento não absorvível 5.0. Finalmente a fenda foi ocluída com fita microporada, mantida no local durante quatro dias.
As pacientes foram orientadas a retornar semanalmente ao consultório para a aplicação de ácido tricloroacético 90% com palito de madeira dentro da fenda, perfazendo seis aplicações em seis semanas, para ambas as pacientes. A retirada da sutura foi rea- lizada somente após a fenda estar completamente corrigida. As bordas da fenda se encontraram completamente fechadas após a quinta aplicação em ambas as pacientes. A última aplicação do ácido (sexta sessão) foi suficiente para eliminar tendência à inversão das bordas e também para corrigir a angulação da ponta do lóbulo, observadas após a quinta aplicação (Figura 3).
As pacientes foram então acompanhadas mensalmente durante 10 meses. Eritema transitório local foi observado em ambos os casos. Não se observaram queloides ou cicatrizes ines- téticas após o final do tratamento. As pacientes foram liberadas para a realização de novo orifício nos lóbulos tratados após três meses de acompanhamento, e o fizeram ao lado da linha cicatri- cial (Figuras 4 e 5).
Muitas técnicas cirúrgicas já descritas na literatura para a correção de lóbulos fendidos preservam o orifício original, porém este não é o objetivo da técnica aqui descrita, deixando o paciente livre para decidir sobre a realização ou não de novo orifício. 4,5
De Mendonça et al. propuseram técnica não cirúrgica para a correção de lóbulos de orelha semifendidos, usando também o ácido tricloroacético 90% dentro da fenda. A ação do ácido no fechamento da fenda baseia-se na adesão cicatricial do tecido por ele provocada. 6
Na técnica aqui descrita, os autores transformam um lóbu- lo de orelha totalmente fendido em semifendido através da sutu- ra única na ponta distal da fenda, e as aplicações seriadas de ácido tricloroacético seguem o mesmo princípio da adesão cicatricial.
Tendência à inversão das bordas da fenda pode ser observa- da, porém é facilmente corrigida através de outra aplicação do ácido no local, moldando a fenda coaptada.
Os autores consideram essa técnica boa opção de tratamen- to para lóbulos de orelha completamente fendidos devido ao baixo custo, à facilidade técnica e aos bons resultados estéticos e funcionais.
1 . Blanco-Davila F, Vasconez H-C. The cleft earlobe: a review of methods of treatment. Ann Plast Surg. 1994; 33(6):677-80.
2 . Bastazini I Jr, Bastazini I, de Melo MC, Peres CS, da Silva Biscarde EF. Surgical pearl: dermabrasion for the correction of incomplete cleft earlobe. J Am Acad Dermatol. 2005 ;52(4):688-9.
3 . Herbich G-J. Laser surgery for traumatic incomplete earlobe clefts. Dermatol Surg. 2002; 28(8):761-2.
4 . Hochberg J, Ardenghy M. Repair of Incomplete Cleft Earlobe. Ann Plast Surg. 1996; 37(2):170-2.
5 . Staiano JJ, Niranjan NS. Split Earlobe Repair Using a Double-Flap Technique. Ann Plast Surg. 2001; 47(1):89-91.
6 . De Mendonça MCC, de Oliveira ARMR, Araújo JMF, Silva MGT, Gamonal A. Nonsurgical technique for incomplete earlobe cleft repair. Dermatol Surg. 2009 35(3):1-5.