Lauro Lourival Lopes Filho1, Lauro Rodolpho Soares Lopes1, Adelman de Barros Villa Neto1, Thalisson de Sousa Costa1
Keywords: CARCINOMA BASOCELULAR, LÁBIO, PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS RECONSTRUTIVOS
O carcinoma basocelular (CBC) é o tumor maligno mais frequente do ser humano, sendo a face a sua localização mais comum. Tem características clínicas e histológicas peculiares, apresentando crescimento lento, e diversas variantes clínicas e histopatológicas. Muito raramente produz metástases e a sua ori- gem em mucosas é duvidosa. A maioria surge sem motivo apa- rente, mas existem vários fatores considerados predisponentes, como a pele clara e a exposição solar intensa e prolongada. Estima-se que 40% dos pacientes que apresentaram uma lesão terão um ou mais CBCs dentro de 10 anos. 1,2
A forma nodular é uma das mais prevalentes entre as diver- sas formas clínicas. Inicia-se, geralmente, como pápula eritema- tosa ou da cor da pele, perolada, cresce lentamente, surgindo teleangiectasias na superfície. À medida que o crescimento avan- ça, com frequência, torna-se ulcerado na porção central, confi- gurando-se a forma nódulo-ulcerativa e, em outras ocasiões, cresce sem ulcerar, como se observa no caso agora apresentado.
Paciente feminina, 74 anos, procedente de Teresina, PI, foi encaminhada à Clinica Dermatológica do Hospital Getúlio Vargas – UFPI, em Teresina – Piauí, por ser portadora de uma tumoração no lábio superior que vinha evoluindo lentamente por vários anos. Ao exame dermatológico observava-se uma lesão tumoral, de ± 2 cm de diâmetro, de aspecto sólido, perola- da, com a base hipercromica, localizada na metade esquerda do lábio superior. A tumoração invadia parcialmente o vermelhão( Figuras 1 e 2). Observava-se, também, um importante hirsutis- mo. Foi submetida à biópsia com punch e o exame histopatoló- gico mostrou tratar-se de CBC de padrão sólido (Figura 3). A lesão foi excisada com margem de segurança de 5 mm e a reconstrução elaborada a partir de um retalho de transposição do sulco naso-labial, com pedículo inferior (Figuras 4 e 5) do ápice no sulco nasal. O período pós operatório imediato transcorreu sem complicações e a paciente vem sendo acompanhada há 18 meses após a cirurgia, sem sinais de recidiva até a ultima consul- ta, com resultado estético muito satisfatório (Figuras 6 e 7).
Os CBCs representam, segundo os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 25% de todos os casos de cânceres registrados no Brasil e 70% dos cânceres cutâneos. 3 Apesar desta alta prevalência, trata-se de tumor de baixo poder metastatizante e que, em geral, é curável com o tratamento cirúrgico em um único tempo. 1 Quando a localização é no lábio superior, a reconstrução requer mais cuidados no sentido da pre- servação, se possível, de estruturas anatômicas importantes, tanto no aspecto funcional quanto no estético. 2 Dentre essas estrutu- ras destacam-se: o posicionamento da linha labial limítrofe com o vermelhão, a posição e não deslocamento do filtrum, a manu- tenção da simetria bilateral e altura em relação aos sulcos naso- labiais. Para este fim existem diversas técnicas de excisão e reconstrução, dentre elas o retalho nasolabial. 4-7 Este último é uma das melhores opções, principalmente em pacientes idosos, desde que, nessa região frequentemente há redundância de pele. 4 Devido às dimensões da área a se reconstruída, o retalho foi pro- longado até o sulco nasal, onde foi posicionada a sutura, o que permitiu esconder a cicatriz. Outro detalhe importante é que houve a necessidade de se estender a excisão e de se executar um descolamento na linha do lábio no sentido da metade labial direita para facilitar o fechamento na extremidade do retalho e, assim, evitar tensão na linha de sutura, o que poderia levar à necrose da ponta do retalho.
No caso ora relatado, além da dificuldade da localização labial superior, o tumor apresentava-se com um diâmetro gran- de (± 2 cm) e invadia parcialmente o vermelhão, obrigando que a incisão, devido à margem de segurança, atingisse inclusive a mucosa labial. Optou-se pela reconstrução com o retalho naso- labial pela similaridade e proximidade com a área receptora e à boa quantidade de pele doadora, permitindo que o tumor fosse removido completamente com bom resultado estético. A paciente vem sendo acompanhada periodicamente e, até a últi- ma consulta em julho de 2011, não havia sinal de recidiva.
1 . Morselli P; Zollino I; Pinto V; Brunelli G; Carinci F. Evaluation of clinical prognostic factors in T1 N0 M0 head and neck basal cell carcinoma. J Craniofac Surg. 2009;20(1):98-100.
2 . Souza CF; Thomé EP; Menegotto PF; Schmitt JV; Shibue JR; Tarlé RG. Topography of basal cell carcinoma and their correlations with gender, age and histologic pattern: a retrospective study of 1042 lesions. An Bras Dermatol. 2011; 86(2):272-7.
3 . Ministério da Saúde. Instituo Nacional do Câncer. [acesso 23 set 2011]. Disponível: www.inca.gov.br/wps/wcm/ connect/tiposde cancer/site/home/pele_nao_melanoma
4 . El-Marakby HH. The versatile naso-labial flaps in facial reconstruction. J Egypt Natl Canc Inst. 2005;17(4):245-50.
5 . Spinelli HM; Tabatabai N; Muzaffar AR; Isenberg JS. Upper lip recons- truction with the alar crescent flap: A new approach. J Oral Maxillofac Surg. 2006;64(10):1566-70.
6 . Ezzoubi M; Benbrahim A; Fihri JF; Bahechar N; Boukind el H. La recon truction après exérèse carcinologique des cancers des lèvres. A propos de 100 cas. Rev Laryngol Otol Rhinol (Bord). 2005;126(3):141-6.
7 . Fernández-Casado A; Toll A; Pujol RM. Reconstruction of defects in para median upper lip. Dermatol Surg;35(10):1541-4, 2009.