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Novas Técnicas

Reconstrução de defeito condrocutâneo auricular usando fibra de silicone

Ivander Bastazini Júnior1, Ana Luiza Grizzo Peres Martins1

Recebido em: 27/02/2011
Aprovado em: 18/06/2011

Trabalho realizado no Instituto Lauro de Souza
Lima – São Paulo (SP), Brasil.

Conflitos de interesse: Nenhum
Suporte financeiro: Nenhum

Abstract

Reconstruções do pavilhão auricular são complexas, principalmente quando há perda do suporte cartilaginoso. Relata-se caso de correção de defeito condrocutâneo após exérese de carcinoma basocelular no terço superior do pavilhão auricular, utilizando fibra de silicone com o objetivo de moldagem e sustentação da orelha. Demonstra-se opção do uso de enxertos de cartilagem ou compostos no pavilhão auricular.

Keywords: CARTILAGENS DA ORELHA, CIRURGIA PLÁSTICA, DEFORMIDADES ADQUIRIDAS DA ORELHA, ORELHA, PRÓTESES E IMPLANTES


INTRODUÇÃO

Reconstruções do pavilhão auricular são em geral complexas devido à peculiaridade de sua anatomia.Deformações congênitas e adquiridas estimulam há séculos o surgimento de novas técnicas. Devido aos riscos e à complexidade de obtenção de enxertos cartilaginosos, nas décadas de 1960 e 1970, moldes auriculares de materiais sintéticos (silicone, polietileno, malha de náilon, teflon, entre outros) foram utilizados. 1 Relata-se caso de utilização de fibra de silicone usada em cirurgias ortopédicas com o objetivo de moldagem e sustentação temporária do terço superior de orelha.

MÉTODOS

Paciente do sexo feminino, 68 anos, hígida, apresentava placa infiltrada e aderida a plano cartilaginoso no terço superior da hélix E com 1,5cm, com diagnóstico de carcinoma basocelular (Figura 1). Foi submetida a exérese da lesão e da estrutura cartilaginosa correspondente, poupando apenas a face posterior do pavilhão auricular (Figura 2), que perdeu totalmente seu suporte. Devido ao tamanho do defeito e objetivando a manutenção da curvatura original e a criação de suporte para a reconstrução, optou-se pela utilização de fibra flexível de silicone utilizada em cirurgias ortopédicas – (Espaçador de tendão oval medicone - Cachoeirinha-RS) (Figura 3). Após a adaptação dessa fibra às bordas do defeito cirúrgico, recobriu-se a área com amplo retalho de transposição proveniente da região pré-auricular (Figuras 4 e 5).A separação do retalho ocorreu num segundo tempo cirúrgico, quatro semanas depois, verificando-se pequena deiscência na lateral, onde se visualizava o implante (Figursa 6 e 7). Evoluiu com infecção no local da deiscência, não responsiva à antibioticoterapia tópica e sistêmica, ocorrendo a extrusão da porção proximal da fibra que foi então retirada depois de oito semanas com resolução da infecção e resultado estético satisfatório (Figura 8).

DISCUSSÃO

Os defeitos do pavilhão auricular podem ser divididos didaticamente quanto à localização (terço superior, médio e inferior) e à espessura total (perda da cartilagem) ou parcial (apenas a pele). 1 Inúmeras técnicas de reconstrução já foram descritas, havendo, para cada área, retalhos ou enxertos mais adequados e que produzem bons resultados estéticos. 1,2

Pequenos defeitos condrocutâneos podem ser resolvidos com sutura borda a borda, 1,3 mas os grandes defeitos de espessura total têm sua reparação dificultada pela falta de sustentação cartilaginosa. Quando não afetam o contorno do pavilhão, cicatrização por segunda intenção para lesões pequenas ou enxerto simples para as maiores garante excelente resultado à reconstrução. 2 Nos casos de afetação de sustentação e contorno, técnicas complexas envolvendo enxertos compostos ou de diminuir sua aceitação e aplicabilidade. 1,2 A cartilagem costal foi inicialmente utilizada para a reconstrução de deformações congênitas do pavilhão auricular, 1 fornecendo blocos de cartilagem que devem ser moldados conforme a necessidade.As técnicas para sua obtenção exigem experiência, e complicações como dor residual crônica e pneumotórax podem ocorrer 1,3

Atualmente, a cartilagem auricular contralateral é a mais utilizada para reconstruções de lesões adquiridas de espessura total, pois possibilita suporte mais delicado e flexível, além de retirada mais simples e cicatriz residual discreta. 1,2

Na tentativa de evitar incisões amplas em ambas as orelhas e com base em relatos recentes da literatura, 3 optou-se pela utilização de fibra fina e flexível de silicone utilizada para reconstrução de tendão em cirurgias de mão. 4 Esse material gera pouca resposta inflamatória e permitiu suporte e manutenção do contorno do pavilhão auricular, possibilitando a cobertura de todo o defeito e da própria fibra por retalho de transposição pré-auricular que proporcionou ótimo resultado estético.

Os principais riscos com a utilização de materiais sintéticos são infecção e a extrusão do produto, 1,2 o que historicamente levou a seu desuso. 1 No caso em questão acabou acontecendo após dois meses, devido provavelmente à deiscência ocorrida na sutura do retalho.Após esse período, mesmo com a retirada do implante, a fibrose gerada no local proveniente da cicatrização do retalho sobre a face posterior da orelha foi suficiente para manter o suporte e o contorno do pavilhão auricular.

Demonstra-se possível opção ao uso de enxertos de cartilagem ou compostos no pavilhão auricular.

Referências

1 . Brent B.Recontrucción de la oreja. In:MacCarthy JG,Cirurgía plástica- La Cara.Montevideo: Editora Medica Panamericana; 1990. p 1197-1254.

2 . Mellete, JR. Reconstruction of the Ear. In: Lask GP,Moy RL, Principles and Techniques of cutaneous surgery.New York.McGraw Hill;1996.p 363-80.

3 . Cardoso JC, Vieira R, Freitas JD, Figueiredo A. Reconstruction of a chondrocutaneous auricular defect using a kirschner wire. Dermatol Surg 2009; 35(6): 1001-04

4 . Tarar B.Flexor tendor Injury. In:Boyer,Taras,Kaufman,Green`s Operative Hand Surgery- fifth edition.New York: Elsevier; 2005. p 258-9.


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