Celia Luiza Petersen Vitello Kalil1, Ana Paula Avancini Caramori1, Mercedes Dalpias Balkey1
Introdução: O ácido hialurônico vem sendo utilizado em escala crescente em procedi-
mentos estéticos.
Objetivo: avaliar o grau de melhora dos pacientes submetidos à aplicação de AH e o
tempo de permanência do produto.
Métodos: estudo prospectivo, aberto, não randomizado e não controlado. Incluídas no
estudo 20 pacientes do sexo feminino que apresentavam rugas superficiais no contorno
labial superior e sulco nasogeniano proeminente.A eficácia foi aferida pela escala de clas-
sificação de gravidade das rugas (Wrinkle Severity Rating Scale - WSRS). O tempo de
permanência foi avaliado através de estudo anatomopatológico, e a segurança, por obser-
vação clínica e relato de eventos adversos.
Resultados: Após 15 dias constatou-se importante melhora clínica que se manteve
durante quatro meses, identificando-se, então, discreta piora; ainda assim, os pacientes apre-
sentavam resultados estéticos favoráveis até 12 meses. Dezessete pacientes foram submeti-
das à biópsia na região retroauricular esquerda 180 dias após o procedimento.Nesse grupo,
observou-se depósito de material em 13 lâminas (76,4%).
Conclusões: O ácido hialurônico é produto seguro e efetivo, e este estudo comprovou
sua permanência na derme por período de até seis meses.
Keywords: ÁCIDO HIALURÔNICO, TEMPO DE PERMANÊNCIA, PELE
O ácido hialurônico (AH) foi descrito por Karl Meyer em 1934 no humor vítreo de olhos de gatos. Trata-se de polis- sacarídeo natural componente da matriz intercelular da derme. O AH também é encontrado no tecido conjuntivo, ossos e membranas intersticiais.
É substância extremamente biodegradável e biocompatív- el, e sua estrutura química é a mesma em todas as espécies ani- mais. A estrutura química invariável reduz o risco de reações imunológicas, o que se torna vantajoso quando o comparamos com outros preenchedores. Em geral, não são necessários testes cutâneos antes da injeção de AH.
Desde 1996, o AH vem sendo utilizado por dermatologis- tas e cirurgiões plásticos com fins cosméticos em preenchimen- to de rugas, cicatrizes, aumento de volume de lábios e outros.A partir desse momento, diferentes companhias da indústria far- macêutica elaboraram seu próprio produto com a substância ativa AH.
O AH é potente retentor de água e eficaz em conferir vol- ume aos tecidos em que é injetado, embora em sua forma não modificada possua meia-vida curta, sendo rapidamente elimina- do na derme.
Para ser utilizado como agente em preenchimentos com a finalidade de melhorar rítides, cicatrizes ou acrescentar volumes, o AH deve ser estabilizado para ter meia-vida duradoura. O processo de estabilização varia de acordo com cada manufatura (de marca para marca). Isso explica as diferenças na duração do efeito e na viscosidade do AH nos diferentes produtos disponíveis no mercado. 1
O preenchimento com AH não é definitivo, pois, como já mencionado, a substância é degradável pelo organismo. Portanto, o procedimento deve ser repetido a intervalos var- iáveis, de acordo com a necessidade (em geral alguns meses). 2
O AH é, na atualidade, o agente mais seguro utilizado em preenchimentos cosméticos.Raramente apresenta efeitos adver- sos, que devem ser reconhecidos pelo médico e informados ao paciente antes da utilização do produto.A maioria dessas com- plicações não é grave e desaparece quando o produto é degrada- do. Geralmente se manifestam por eritema e ardência no local da injeção. 3-5
Embora a duração do efeito seja limitada, os produtos com AH são os mais comumente utilizados em preenchimentos. Eles produzem resultados muito significantes e poucas reações inde- sejáveis. Médicos e pacientes elegem os preenchimentos com AH devido à boa tolerância, efeito natural e limitados efeitos colaterais.
Avaliar o grau de melhora de pacientes submetidos à apli- cação de AH no sulco nasogeniano (SNG) e nas rítides superfi- ciais do contorno labial superior (CLS) e o tempo de per- manência do produto na região retroauricular.
Foram incluídas neste estudo prospectivo, aberto, não ran- domizado e não controlado, 20 pacientes do sexo feminino do Ambulatório de Dermatologia do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre, que apresentavam rugas superficiais no CLS e SNG proeminente.
Foram excluídas do estudo gestantes e pacientes com doenças agudas ou crônicas que pudessem alterar a avaliação de resultados, história pessoal ou familiar de queloides ou alergia ao AH e aquelas com tratamento prévio com qualquer tipo de preenchimento nas regiões a ser estudadas.
O presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre.Todas as pacientes forneceram o termo de consen- timento livre e informado antes do início do tratamento.
As pacientes foram fotografadas em visões frontal e angu- lada, de modo padronizado, com câmera Canon Rebel XT a cada visita. Foi utilizado dispositivo estereostático que uni- formiza o posicionamento da cabeça e a distância focal.
O produto utilizado foi o Perfectha derm® (Comedix Com Produtos Médicos e Farmacêuticos, Brasil), produzido por fermentação bacteriana a partir de determinadas cepas de estreptococos.
As pacientes receberam uma aplicação intradérmica de 0,1ml de Perfectha Derm® nas regiões retroauriculares direita e esquerda, do mesmo lote do material envolvido no estudo, com a finalidade de avaliar reações alérgicas e posterior estudo anatomopatológico (AP).O objetivo do exame AP consistiu na detecção de granulomas e na verificação do tempo de permanência do produto.
Posteriormente, as pacientes foram submetidas à aplicação de Perfectha Derm® nas rítides superficiais do CLS ou no SNG. O objetivo do tratamento foi a correção total das rítides, evitan- do-se supercorreção.
Os locais a ser tratados eram higienizados com clorexidine em solução alcoólica antes de cada aplicação.As pacientes sub- metidas ao uso de AH no SNG receberam aplicação tópica de lidocaína creme 4% (Dermomax? Laboratório Ache, São Paulo, Brasil) antes do procedimento. As pacientes submetidas ao uso de AH no CLS foram submetidas a bloqueio regional dos ner- vos infraorbitários com lidocaína 2% sem vasoconstrictor.O AH foi injetado com agulha 27G ou 30G para aplicação em SNG e CLS, respectivamente. Após as injeções, os locais tratados eram imediatamente massageados.
O AH foi injetado na derme médio-profunda através da técnica de retroinjeção, com o bisel da agulha preferencialmente voltado para cima, conforme recomendação do fabricante.
A eficácia foi aferida por dois investigadores, de maneira independente, 15, 30, 60, 90, 120, 180 e 360 dias após o trata- mento, após avaliação clínica e de fotografias. A severidade das rugas foi pontuada de acordo com o escore WSRS (Baseline Wrinkle Severity Rating Scale), anteriormente validado.6,7 (Tabelas 1 e 2)
Foi também realizada biópsia da região retroauricular dire- ita e esquerda 30 e 180 dias após o procedimento, respectiva- mente. Para a realização das biópsias foi utilizada anestesia local com lidocaína 2% sem vasoconstrictor e punch número 2. O material obtido foi submetido à avaliação anatomopatológica.
Os efeitos adversos e sua gravidade foram devidamente reportados.
Foram incluídas no estudo 20 pacientes do sexo feminino, 11 (55%) submetidas ao tratamento do SNG, e 9 (45%) ao trata- mento do CLS. Cinco pacientes – quatro do grupo SNL e uma do grupo de CLS ? não participaram do protocolo até o térmi- no, sendo, portanto, excluídas do estudo.
A média de idade foi 43 anos com variação de 35 a 49 anos.
O volume de AH injetado em cada SNG variou de 1,6 a 2,3ml (média de 2ml) e no CLS variou de 1,1 a 1,7ml (média de 1,5ml).
Após 15 dias observou-se importante grau de melhora clínica que se manteve estável durante, aproximadamente, qua- tro meses. Após esse período, identificou-se discreta piora, mas ainda assim as pacientes apresentavam resultados estéticos favoráveis que perduraram até 12 meses (Gráfico 1).
Dezoito pacientes foram submetidas à biópsia na região retroauricular direita no 30o dia após o procedimento.A análise do material por patologista experiente demonstrou depósito de AH em 13 lâminas (72,2%).
Dezessete pacientes foram submetidas à biópsia na região retroauricular esquerda 180 dias após o procedimento. Nesse grupo, observou-se depósito de material em 13 lâminas (76,4%) (Figura 1).
Em nenhum caso foi observada a formação de granuloma de corpo estranho.
Efeitos adversos
Efeitos adversos associados ao AH a ao procedimento
incluíram equimoses, edema, eritema e dor local. Esses achados
foram de intensidade leve a moderada, com duração de poucos
dias.Apenas uma paciente submetida a preenchimento do SNG
apresentou formação de nódulo, cerca de 30 dias depois da apli-
cação do produto, com posterior desaparecimento em 15 dias,
após massagem com corticoide de média potência.
Os resultados deste estudo confirmam a eficácia do AH na correção do SNG e CLS, demonstrando ser esse tratamento bem tolerado. A resposta clínica positiva persistiu por mais de seis meses, na maioria dos casos. Esses resultados assemellham-se aos obtidos por Beer 8 e Carruters et al. 9 em estudos prévios. Interessante foi observar a presença do material íntegro em biópsias realizadas na região retroauricular esquerda, fato que comprova a durabilidade do produto na derme por até seis meses.
Os autores relacionam a não existência de depósito em todas as lâminas ao fato de elas corresponderem a material obti- do através de biópsias superficiais, ou seja, acreditam que o material estivesse presente, porém não tenha sido capturado devido à profundidade insuficiente da coleta.
A durabilidade do produto na pele é dependente da taxa de degradação da substância, do formato da partícula de AH utiliza- do e de sua concentração.A manutenção do efeito do tratamen- to também depende da textura da pele, do tipo e da gravidade do problema a ser corrigido, da idade do paciente e da técnica empregada. O local a ser tratado também é fator importante, pois áreas com maior mobilidade apresentam resultados menos duradouros.
Os dados reforçam que o uso do AH propicia bons resul- tados na correção do sulco nasogeniano e rítides labiais.
Conforme demonstrado em outros estudos, o AH é produ- to seguro e efetivo para ser utilizado no tratamento de correção do SNG e do CLS.Através deste estudo inédito, comprovou-se, por biópsias cutâneas, a permanência do produto na derme por período de até seis meses.
Prestamos agradecimentos póstumos ao caro colega Dr. Jorge Zanol pela colaboração na análise do material submetido ao estudo anatomopatológico.
1 . Tezel A, Fredrickson GH. The science of hialuronic acid dermal fillers. J Cosmet Laser Ther. 2008; 10(1):35-42.
2 . Lemperle G,Morhenn V,Charrier U.Human histology and persistence of various injectable filler substances for soft tissue augmentation. Aesthetic Plast Surg. 2003; 27(5):354-66.
3 . Gladstone HB, Cohen JL. Adverse effects when injecting facial fillers. Semin Cutan Med Surg. 2007; 26(1):34-9.
4 . Dadzie OE, Mahalingam M, Parada M, El Helou T, Philips T, Bhawan J. Adverse cutaneous reactions to soft tissue fillers - a review of the histological features. J Cutan Pathol. 2008: 35(6):536-48.
5 . Lowe NJ, Maxwell CA, Lowe P, Duick MG, Shah K. Hyaluronic acid skin fillers: adverse reactions and skin testing. J Am Acad Dermatol. 2001; 45(6):930-3.
6 . Parada MB,Michalany NS, Hassun KM, Bagatin E, Talarico S, A histologic study of adverse effects of different cosmetic skin fillers.SkinMed.2005; 4(6):345-9.
7 . Day DJ, Littler CM, Swift RW Gottlieb S.The wrinkle severity rating scale - a validation study. . Am J Clin Dermatol. 2004; 5(1):49-52.
8 . Beer K. A Randomized, Evaluator-Blinded Comparison of Efficacy of Hyaluronic Acid Gel and Avian-Sourced Hylan B Plus Gel for Correction of Nasolabial Folds.Dermatol Surg 33(8), 928-936.
9 . Carruters A et al.Randomized,Double-Blind Comparison of the Efficacy of Two Hyaluronic Acid Derivatives, Restylane Perlane and Hylaform, in the Treatment of Nasolabial Folds.Dermatol Surg 2005;31:1591–1598.