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Relato de casos

Blefaroplastia superior e inferior associada ao tratamento com peeling de fenol-cróton no rejuvenescimento facial: relato de caso clínico

Juliana Senna Figueiredo Barbi1; Marina Vieira Rodrigues Queiroz2; Karoline Kalinca Rabelo Santana3; Gustavo Carneiro Nogueira4

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.2025170381

Fonte de financiamento: Nenhuma.
Conflito de interesses: Nenhum.
Data de Submissão: 20/06/2024
Decisão final: 21/11/2024
Como citar este artigo: Barbil JSF, Queiroz MVR, Santana KKR, Nogueira GC. Blefaroplastia superior e inferior associada ao tratamento com peeling de fenol-cróton no rejuvenescimento facial: relato de caso clínico. Surg Cosmet Dermatol. 2025;17:e20250381.


Abstract

A blefaroplastia é, frequentemente, a primeira cirurgia estética facial procurada pelos pacientes. Porém, em casos de envelhecimento mais pronunciado, a blefaroplastia isolada não é capaz de oferecer o resultado estético desejado, sendo necessária a associação com outras técnicas de rejuvenescimento. Assim, o peeling de fenol-cróton é uma alternativa excelente para complementar a cirurgia plástica palpebral, uma vez que trata as rítides profundas. Esse trabalho traz um relato de caso de paciente tratada com associação de blefaroplastia superior e inferior com peeling de fenol-cróton de face total com resultado muito satisfatório no rejuvenescimento facial.


Keywords: Blefaroplastia; Abrasão Química; Fenol; Óleo de Cróton; Rejuvenescimento.


INTRODUÇÃO

A blefaroplastia promove o rejuvenescimento cirúrgico das pálpebras superiores e/ou inferiores, sendo um dos primeiros procedimentos estéticos procurados pelos pacientes em busca de rejuvenescimento facial. As blefaroplastias são cirurgias tecnicamente delicadas que requerem planejamento cuidadoso e execução meticulosa para alcançar os melhores resultados e evitar complicações.1 Em geral, a blefaroplastia da pálpebra superior é feita tanto por indicações estéticas quanto funcionais, enquanto a blefaroplastia da pálpebra inferior é comumente realizada com finalidades estéticas.2 No entanto, para o rejuvenescimento de toda a face, a melhora estética da região periocular nem sempre é suficiente, sendo necessário recorrer a outros tratamentos estéticos adjuvantes.

Nesse sentido, o peeling de fenol-cróton é uma opção efetiva no tratamento das rítides profundas da face.3 Trata-se de uma modalidade de peeling profundo, e o seu grau de penetração na pele depende de algumas variáveis, como volume aplicado e concentrações desses compostos na fórmula. Quando respeitadas as devidas indicações e realizado com técnica adequada, esse peeling proporciona uma melhora expressiva na qualidade de pele e atenuação das rítides em comparação com outras técnicas.3 Por atingir a derme reticular, essa técnica favorece a formação de uma zona de neocolagênese dérmica densa, na qual as fibras elásticas organizadas substituem a elastose e há redução dos grânulos de melanina.4 Foi demonstrado um aumento na densidade do colágeno dérmico (papilar/reticular) em biopsias de pele tratadas com o peeling de fenol-cróton, secundária à proliferação de colágeno tipo 1 e 3.5 Assim, peelings de fenol-cróton são eficazes na atenuação ou extinção das rugas profundas, sendo uma possibilidade de complemento às cirurgias estéticas de rejuvenescimento facial.6

O presente trabalho objetiva relatar um caso clínico de uma paciente com envelhecimento facial significativo, a qual foi tratada com a associação da blefaroplastia superior e inferior com o peeling de fenol-cróton de face total, promovendo grande melhora estética facial. O projeto deste trabalho foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) com parecer de aprovação de número: 5.608.414

 

RELATO DE CASO

N.P.D, 67 anos, sexo feminino, com leucodermia, procedente de Belo Horizonte (MG), foi assistida no ambulatório de plástica ocular do Hospital de Olhos Hilton Rocha em Belo Horizonte, com queixa de excesso de pele nas pálpebras superiores e inferiores em ambos os olhos e de rugas na face. A paciente é hipertensa, diabética tipo 2 e dislipidêmica, em uso dos seguintes medicamentos: losartana 100 mg/dia; metformina 850 mg/dia; sinvastatina 20 mg/dia. Na avaliação dermatológica, a paciente compreendia um padrão de envelhecimento caracterizado por uma predominância do componente extrínseco, com fotoenvelhecimento importante. Apresentava pouca deflação da face e um bom contorno mandibular (Figura 1). No exame ectoscópico realizado pela equipe de oculoplástica, a paciente apresentava dermatocálase de pálpebras superiores e inferiores com prolapso de bolsas de gordura nasal nas pálpebras superiores e nasal, mediana e temporal em pálpebras inferiores, conforme demonstrado na Figura 1. Os testes de snapback e distraction demonstravam alongamento horizontal de pálpebras inferiores.

Em 25/01/2022, foi realizada a blefaroplastia superior e inferior com o uso da radiofrequência (Wavetronic 5000 – 110 volts) no modo cut para as incisões de pele (80% de corte e 20% de coagulação) e no modo blend para as dissecções (50% de corte e 50% de coagulação). Após assepsia, foi realizada anestesia local com lidocaína e bupivacaína com vasoconstritor a 2%. Em pálpebras superiores, foi realizada incisão de pele previamente marcada, preservando músculo orbicular, e foi realizada ressecção da bolsa de gordura nasal. Em pálpebras inferiores, foi realizada incisão de pele subciliar, com resseção de flap miocutâneo (pele excedente e faixa de músculo orbicular pré-septal). Foram ressecadas as bolsas de gordura nasal, mediana e temporal. Foi realizada cantopexia com o fio prolene 5.0, e a sutura da pele foi confeccionada com o fio nylon 6.0. O procedimento durou uma hora, e não houve intercorrências. As suturas foram retiradas no 10º dia de pós-operatório (DPO). O resultado após 30 dias de cirurgia está demonstrado na Figura 2.

Após 105 dias, a paciente foi submetida ao peeling de fenol-cróton em toda a face. O procedimento foi realizado em centro cirúrgico, com adequada monitorização cardiorrespiratória, hidratação venosa com ringer lactato e sob sedação com midazolam, fentanil e quetamina em forma combinada, a fim de promover sedação consciente, e foi assistido por médico anestesiologista. A solução do peeling de fenol-cróton utilizada consistiu na fórmula de Hetter na concentração 1,6%, a qual é composta por 2,75 mL de água destilada, 0,25 mL de novisol e 2 mL de solução de estoque (0,08 mL de óleo de cróton e 1,92 mL de solução de fenol 88%), com volume final de 5 mL para aplicação em face. A técnica de aplicação se inicia com o desengorduramento da face com acetona pura, seguida da divisão das áreas da face que serão tratadas. As áreas da face são demarcadas com lápis branco ou caneta cirúrgica, o que consiste na divisão facial em: fronte, nariz, região perioral, malar e região periocular, atentando-se para a adequada demarcação da linha de mandíbula.

Quanto à aplicação da solução, utilizamos um aplicador artesanal de haste de madeira envolto em algodão em uma extremidade, o qual é molhado na solução, é retirado o excesso e aplicado na face. Realizamos uma aplicação mais volumosa deixando a área úmida e, em seguida, o aplicador é esfregado enquanto a outra mão estabiliza a pele. Em locais de rítides profundas, a solução é esfregada com mais intensidade para aumentar a penetração. Realizamos a aplicação da fórmula em cada zona demarcada, respeitando um intervalo entre 15 e 20 minutos, totalizando um tempo de procedimento de no mínimo 1 hora, com o intuito de reduzir a toxicidade sistêmica do fenol. Imediatamente após a aplicação da solução, é observado um aspecto de geada branca sólida, denominado frosting, que é substituído por um fino tom acinzentado sobre a pele. Após o procedimento, ainda no intraoperatório, foi aplicada uma espessa camada de vaselina sólida em toda face. A paciente foi orientada a aplicar vaselina várias vezes ao dia até a reepitelização da face. Antivirais, para profilaxia de herpes simples, foram iniciados na véspera do dia do procedimento e mantidos por 10 dias. O período crítico de desconforto, geralmente, ocorre cerca de 1 a 4 horas após o procedimento e dura até aproximadamente 8 horas.4 Como medida de conforto, foi orientado uso de compressas molhadas resfriadas e ventiladores. A reepitelização da face ocorreu aproximadamente 1 semana após o procedimento. É comum a manutenção de um eritema residual entorno de até 3 a 6 meses após o procedimento, conforme demonstrado na Figura 3.4 A paciente apresentou resultado muito satisfatório de rejuvenescimento facial após 6 meses do término do tratamento, conforme demonstrado na Figura 4.

 

DISCUSSÃO

Em pacientes com rítides muito profundas perioculares e faciais, a blefaroplastia superior e inferior isolada pode oferecer resultados abaixo do esperado no rejuvenescimento facial. Por esse motivo, faz-se necessária a associação de outros procedimentos estéticos faciais como uma complementação estética da plástica das pálpebras. O peeling de fenol-cróton de face total é uma excelente alternativa como tratamento adjuvante à blefaroplastia, porém deve ser indicado apenas em pacientes de fotótipo baixo (Fitzpatrick I, II e III) com rítides profundas fixas que não mais respondem a tratamentos convencionais, como a aplicação de toxina botulínica. Deve-se ressaltar que o fenol é cardiotóxico, podendo ocasionar o prolongamento do intervalo QT (> 450 ms ou um aumento de linha de base de 20 a 30 ms) e desencadear eventos arrítmicos menores (batimentos extrassistólicos atriais isolados) quanto a eventos ventriculares (bigeminismo ventricular e taquicardia ventricular não sustentada).7 Quando realizada aplicação em superfície corporal maior que uma unidade cosmética, ou 0,5% da área de superfície corporal total, há um aumento do risco de cardiotoxicidade, o peeling de fenol-cróton foi associado com prolongamento transitório do intervalo QT intraoperatório sem arritmia clinicamente significativa, no entanto, devido ao risco de interação entre fenol e medicamentos associados (analgésicos, antibióticos, diuréticos, antifúngicos, antipsicóticos e antidepressivos), merece mais investigação para estabelecer parâmetros de segurança.7 Nesses casos, é recomendado que o procedimento seja realizado em centro cirúrgico, sob monitorização eletrocardiográfica contínua e ventilação/exaustão de ar ambiente, além de ser recomendada a hidratação venosa substancial durante o procedimento.4

É importante ressaltar que o peeling de fenol-cróton pode ser utilizado na face total em peroperatório de blefaroplastia desde que não seja realizada a blefaroplastia transcutânea. Isso porque a retirada do excesso de pele cirúrgica associada ao efeito retração de lamela anterior gerada pelo peeling em pálpebra inferior pode levar à retração palpebral em pós-operatório. Por isso, sugere-se associar o peeling de fenol-cróton às blefaroplastias somente quando for realizada a blefaroplastia superior isolada ou em associação à blefaroplastia inferior, porém por via transconjuntival, apenas para ressecar bolsas de gordura prolapsadas, sendo o tratamento da pele exclusivo pelo peeling. Também há a possibilidade de, em pacientes com rítides perioculares marcadas em que o paciente não deseja o peeling de face total, realizar o peeling de fenol-cróton localizado na região periocular e, por se tratar de área menor, pode ser realizado em caráter ambulatorial.

 

CONCLUSÃO

O rejuvenescimento total da face é uma demanda crescente na dermatologia, cirurgia plástica e oculoplástica. Para resultados mais eficazes, é necessária a associação de tratamentos capazes de tratar flacidez e qualidade de pele, além de alguns casos de reposição de volumes em áreas consumidas pelo processo de envelhecimento. Nesse sentido, este trabalho demonstrou uma associação eficaz da blefaroplastia com o peeling de fenol-cróton no rejuvenescimento facial da paciente do estudo.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Juliana Senna Figueiredo Barbi
ORCID:
0000-0001-6888-0495
Aprovação da versão final do manuscrito, Concepção e planejamento do estudo, Participação efetiva na orientação da pesquisa, Revisão crítica do manuscrito.
Marina Vieira Rodrigues Queiroz
ORCID:
0000-0001-5544-458X
Aprovação da versão final do manuscrito, Concepção e planejamento do estudo, Elaboração e redação do manuscrito, Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados, Revisão crítica da literatura, Revisão crítica do manuscrito.
Karoline Kalinca Rabelo Santana
ORCID:
0000-0002-6744-8112
Aprovação da versão final do manuscrito, Elaboração e redação do manuscrito, Obtenção, análise e interpretação dos dados, Revisão crítica da literatura.
Gustavo Carneiro Nogueira
ORCID:
0000-0002-0602-3241
Aprovação da versão final do manuscrito, Obtenção, análise e interpretação dos dados, Participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.

 

REFERÊNCIAS:

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3. Cortez EA, Fedok FG, Mangat DS. Chemical peels: panel discussion. Facial Plast Surg Clin North Am. 2014;22(1):1–23.

4. Wambier CG, Lee KC, Soon SL, Sterling JB, Rullan PP, Landau M, et al. Advanced chemical peels: phenol- croton oil peel. J Am Acad Dermatol. 2019;81(2): 327–36.

5. Cardoso F, Moura RD, Pilar E, Moura I, Miot HA, Costa A. Phenol-croton oil peel enhances type-1 and type-3 collagen amounts by stimulating SIRT-6 and SIRT-7. Int J Dermatol. 2022;61(2):e71– 4.

6. Ozturk CN, Huettner F, Ozturk C, Bartz-Kurycki MA, Zins JE. (2013). Outcomes assessment of combination face lift and perioral phenol-croton oil peel. Plast Reconstr Surg. 2013;132(5):743e–53e.

7. Wambier CG, Wambier SPF, Pilatti LEP, Grabicoski JA, Wambier LF, Schmidt A. Prolongation of rate-corrected QT interval during phenol-croton oil peels. J Am Acad Dermatol. 2018;78(4):810-2.


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