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Relato de casos

Retalho de rotação para defeitos da asa

Luciana Takata Pontes1, Arash Kimyai-Asadi1, Ming H. Jih1, Aparecida Machado Moraes1, Hamilton Ometto Stolf1

Recebido em 19/02/2009.
Aprovado em 25/02/2009.
Declaramos a inexistência de conflitos de interesse.

Abstract

Defeitos cirúrgicos da asa nasal são de difícil reparo devido à necessidade de se manter a função e a estética local. Os enxertos cutâneos são finos, hipocrômicos e de superfície lisa, o que contrasta com a pele da região nasal. Retalhos provindos da região malar e nasal proximal geralmente se estendem sobre o sulco alar, o que gera uma deformidade do vestíbulo nasal com obstrução dessa área. Os autores descrevem uma técnica para reconstrução de defeitos localizados na asa nasal, com o objetivo de manter a unidade cosmética, sem alteração do vestíbulo nasal ou do fl uxo de ar.

INTRODUÇÃO

Os defeitos da região da asa nasal secundários a exéreses de tumores são um desafi o para o cirurgião dermatológico. A reconstrução deve ter como objetivos tanto a manutenção da função quanto um bom resultado estético. A retração ou edema do sulco alar (região anatômica entre a asa e o dorso nasal) pode resultar em obstrução do fluxo de ar. Esteticamente, a forma e a curvatura da asa nasal têm grande importância para a simetria do nariz e da região centro- -facial. Além disso, o sulco alar deve ser mantido intacto para preservar as bordas anatômicas que delimitam as subunidades cosméticas do nariz.

MÉTODOS

A técnica cirúrgica descrita acontece nas seguintes etapas: Realiza-se uma incisão que se inicia na área mais inferior do defeito, contornando de forma curvilínea o sulco alar e chegando até a área mais lateral da asa nasal (Figuras 1 e 2). A divulsão, ou descolamento, é feita no plano da junção da derme e subcutâneo até que se consiga uma movimentação satisfatória do retalho. Essa pele é então trazida em direção ao defeito. Os autores evitam rodar o retalho em espiral, como descrito por Humphreys T. R.,1 pelo risco de diminuição do fluxo sanguíneo local. Além disso, preferem não ancorar a ponta do retalho na margem mais inferior do defeito, na tentativa de manter a tensão na direção horizontal. Pontos profundos e superficiais são feitos para fixação do mesmo, de preferência com monocryl 5-0 e nylon 6-0.

Esse método deve ser utilizado nas lesões pequenas a médias, isto é, que acometam aproximadamente um terço ou menos da extensão da asa nasal. Além disso, devem ser profundas (atingindo toda a espessura da derme) e limitadas à região da asa nasal, de forma que não se estendam às subunidades adjacentes.

Os autores citam como rotineira a utilização de um tampão colocado no intróito nasal, o qual consiste de um pedaço cilíndrico de algodão enrolado em gaze vaselinada, deixado por pelo menos 48 horas após o procedimento (Figura 3).

DISCUSSÃO

Os defeitos da asa nasal devem ser avaliados cuidadosamente na hora da reconstrução, levando-se em conta que tanto a manutenção da função quanto o melhor resultado estético são os objetivos do cirurgião dermatológico ao abordar essa área.

A cicatrização por segunda intenção de lesões profundas pode resultar em uma cicatriz deprimida, com retração da asa nasal. Dessa forma, está indicada apenas para defeitos mais superficiais e classicamente nas áreas côncavas do nariz e face.

Os enxertos cutâneos de espessura total geralmente têm superfície mais lisa, cor pálida e são mais deprimidos que a pele do nariz. Além disso, criam um defeito secundário.

Vários retalhos são descritos para a correção de defeitos dessa área. Porém, invariavelmente distorcem os limites da asa nasal, gerando um resultado cosmético insatisfatório.2 Há também relatos de estreitamento, dilatação e obstrução das narinas, o que leva à alteração do fluxo de ar.3

Portanto, há necessidade de se desenvolverem técnicas mais simples e eficazes para a resolução desse desafio.

A técnica de retalho de rotação descrita pelos presentes autores é de grande utilidade na prática diária. Ela mobiliza pele da vizinhança com as mesmas características da região nasal, não movimenta ou cruza outras subunidades nasais, respeita os limites da asa e não altera o formato ou a simetria do nariz. Além disso, evita a obstrução do fluxo de ar para o paciente.

Com relação às complicações, Nelter e colaboradores.4 descrevem a utilização dessa técnica em 23 pacientes, dos quais seis referiram alguma dificuldade respiratória no pós-operatório, com melhora completa em seis meses. Houve dois casos de deiscência, ambos na área medial do retalho, que cicatrizaram em um mês, sem sequelas.

Na experiência dos autores, a principal complicação observada é o edema transitório intranasal. O uso do tampão nasal no pós-operatório imediato dos retalhos de rotação alar diminuiu de maneira significativa o número de casos de edema intranasal após esse tipo de reconstrução. O retalho aqui descrito é simples, de fácil execução e com bom resultado estético – ou seja, uma técnica de reconstrução cutânea de primeira linha para o reparo de defeitos pequenos e médios da asa nasal, sendo uma excelente opção a ser considerada.

Referências

1 . Humphreys TR. Use of the “spiral” flap for closure of small defects of the nasal ala. Dermatol Surg. 2001;27(4):409-10.

2 . Complications after nasal skin repair with local flaps and full-thickness skin grafts and implications of patients’ contentment.. Rustemeyer J, Günther L, Bremerich A. Oral Maxillofac Surg. 2008.

3 . Reynolds MB, Gourdin FW. Nasal valve dysfunction after Mohs surgery for skin cancer of the nose. Dermatol Surg. 1998; 24:1011–7.

4 . Neltner SA, Papa CA, Ramsey ML, Marks VJ. Alar rotation flap for small defects of the ala. Dermatol Surg. 2000; 26(6): 543-6.


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