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Relato de casos

Comparação histológica da ação do laser de CO2 e plasma na pele abdominal

Ana Gabriella Bandeira Freire Andrade; Rossana Cantanhe de Farias de Vasconcelos; João Guilherme Finizola de Vasconcelos; Ana Maria Bertelli Antonio Gallotti; Caroline Costa de Mendonça

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.2025170348

Fonte de financiamento: Nenhuma.
Conflito de interesses: Nenhum.
Data de Submissão: 16/02/2024
Decisão final: 02/03/2024
Como citar este artigo: Andrade AGBF, Vasconcelos RCF, Vasconcelos JGF, Gallotti AMBA, Mendonça CC. Comparação histológica da ação do laser de CO2 e plasma na pele abdominal. Surg Cosmet Dermatol. 2024;16:e20240348.


Abstract

Dados histológicos das zonas de tratamento microscópico são importantes para estudar a segurança do procedimento e a eficácia do tratamento. Ainda não existem estudos envolvendo o plasma com outras técnicas. Selecionamos duas áreas no abdome de um paciente, denominada área A e área B, aplicando o plasma de baixa temperatura e o laser de CO2 fracionado. Logo após, foram realizadas biopsias. Quando utilizada em regiões mais finas de pele, a tecnologia de plasma garantiria menos complicações durante o período de aplicação, recuperação mais rápida e menos efeitos colaterais. No entanto, mais estudos são necessários para confirmar nossos achados.


Keywords: Terapia a Laser; Histologia Comparada; Regeneração da Pele por Plasma; Lasers de Gás.


INTRODUÇÃO

Um dos tratamentos mais utilizados na prática dermatológica é o laser de CO2 (CO2L). Devido a complicações associadas ao seu uso, surgiram os lasers fracionados não ablativos (LFNAs).1,2 Após os LFNAs, foram desenvolvidos os lasers fracionados ablativos (LFAs). Os LFAs emitem feixes estreitos e de alta energia que destroem colunas de tecido e, ao redor dessas colunas ablacionadas, forma-se um anel adjacente de dano térmico, também chamado de zonas microscópicas de tratamento (ZMTs).3 Entre as ZMTs, encontram-se colunas de tecido não lesionado, que contribuem para a resposta clínica ao procedimento.

A retração da pele e a neocolagênese observadas no LFA resultam de dois efeitos: ablação e lesão.3,4 Os LFAs permitem maior controle sobre a profundidade de ação, danos térmicos mais seletivos e, consequentemente, uma redução significativa dos efeitos colaterais.1

Além disso, na última década, desenvolveu-se o plasma medicinal, cujo principal componente é o uso do plasma de baixa temperatura (PBT), abaixo de 40 °C, como uma poderosa ferramenta para aplicações biomédicas, sendo adequado principalmente para a terapia de tecidos delicados.5 O PBT tem sido avaliado no tratamento de condições com indicação de retração tecidual, como a síndrome da blefaroquíase, flacidez tecidual e cicatrizes, além de mostrar eficácia no tratamento de neoplasias cutâneas e infecções virais e relacionadas a biofilmes.5

Sabemos que as informações histológicas sobre as dimensões das ZMTs em termos de profundidade e diâmetro da ablação, coagulação e necrose causadas pela ação do método são muito importantes para estudar a segurança do procedimento e sua eficácia no tratamento, bem como para saber combinar diferentes tipos de procedimentos de acordo com a necessidade de intervenção de cada paciente.6 Ainda não há estudos envolvendo o PBT, nessa proposta de comparação histológica, com outras técnicas. Para Baroni, em comparação com os tratamentos convencionais de radiofrequência e ablativos, o uso de PBT predispõe a uma melhor cicatrização e resultados estéticos finais.

 

MÉTODOS

O objeto de estudo é uma paciente que consentiu em participar do estudo e foi programada a realização de uma abdominoplastia em 3 meses. Foram selecionadas duas áreas quadradas no abdome, medindo aproximadamente 4 cm2, denominadas área A e área B, que receberam, respectivamente, aplicação de PBT e CO2L fracionado.

Na área A, o PBT foi aplicado com um aparelho Surgical Derm da plataforma SOLON® (LMG - Laser; Medical Group Ltda.; Guaxupé, MG, Brasil). Na área B, foi aplicado o CO2L fracionado Dual Deep® (Lutronics, Gyeonggi-do, Coreia do Sul) com os seguintes parâmetros: comprimento de onda de 10.600 nm, energia de pulso de 50 mJ, modo estático.

Imediatamente após a aplicação das tecnologias, foi realizada uma biopsia com uma punção de 4 mm. Os dois fragmentos foram fixados por imersão em uma solução de formaldeído a 10% antes de serem processados para microscopia de luz por desidratação, embebidos em parafina e seccionados. Utilizaram-se colorações de hematoxilina e eosina para visualização e análise da profundidade e do diâmetro do canal de coagulação. Os cortes histológicos foram analisados por microscopia de luz com aumento de 100 vezes e fonte de luz polarizada, usando um microscópio trinocular Olympus Bx41 acoplado a uma câmera Olympus C-35DA-2.

 

RESULTADOS

A análise histopatológica da área A (Figura 1), que foi submetida a PBT, apresentou um trecho central de figuração com 0,6 mm de diâmetro e profundidade de 0,15 a 0,25 mm. A profundidade foi medida sem considerar a epiderme. A derme papilar ao redor da área descrita apresenta edema com redução da quantidade de tecido elástico, o que foi confirmado pela coloração de Verhoeff. A coloração de Tricrômio de Masson não levou a achados específicos.

Na área B (Figura 2), observou-se a presença de duas pequenas áreas de figuração de dimensões semelhantes. Uma delas, em localização excêntrica, foi mais bem observada, medindo de 0,13 a 0,15 mm de diâmetro e 0,5 mm de profundidade, sem considerar a epiderme. Na derme papilar circundante, há uma leve redução na quantidade de tecido elástico.

 

DISCUSSÃO

Desde a primeira descrição, o CO2L ganhou notoriedade considerável no campo estético, estimulando a neocolagênese dependendo da quantidade de calor fornecida e da profundidade de sua penetração dérmica e epidérmica.7,8 Além disso, quanto mais longa a coluna de ablação, maior o estímulo à remodelação dérmica nas regiões mais profundas da cicatriz, resultando em melhores resultados no tratamento de linhas finas, cicatrizes de acne e pele fotodanificada.9,10 A energia de pulso fracionada do CO2L tem sido proposta como um fator crítico na determinação da extensão e profundidade da ablação, do dano térmico e da remodelação do colágeno.11,12 Baumann et al. concluíram que as diferenças nas propriedades das zonas ablativas não são diretamente proporcionais à quantidade total de energia aplicada.12

Assim, são interessantes os estudos que avaliam as colunas de ablação resultantes de diferentes métodos terapêuticos. Arisa & Ortiz et al.2 demonstraram maiores colunas de ablação após o tratamento com CO2L fracionado quando comparado ao método cirúrgico. A maior profundidade de ablação resultou em maior retração da pele, com melhores resultados estéticos finais nas cicatrizes.4 Em contrapartida, a tecnologia PBT tem ganhado grande visibilidade, principalmente na blefaroplastia não invasiva. Sua ação é induzir a expressão de genes relevantes, como o colágeno tipo I, os fatores de crescimento transformadores (TGF beta 1 e 2) e a alfa actina do músculo liso (alfa-SMA). O tratamento com PBT desencadeia uma ação coordenada de fatores de transcrição conhecidos por serem importantes na cicatrização de feridas, estimulando a reepitelização, a angiogênese e a oxidação da camada lipídica.13

A faísca de PBT resultante sublima as camadas superficiais da pele sem causar danos térmicos elevados por meio da coagulação dos vasos dérmicos, aquecendo de forma controlada. A energia é concentrada em pequenas áreas (1 mm de diâmetro), agindo com cuidado e precisão nos tecidos, evitando danos às camadas mais profundas.14

Com base em nossas descobertas, observamos uma variação nas medidas das colunas de coagulação, em que o diâmetro alcançado pelo PBT foi aproximadamente quatro vezes maior do que o alcançado com o CO2L. No entanto, o CO2L atingiu uma profundidade de ablação duas vezes maior que a do PBT. Considerando regiões de baixa espessura dérmica, como a pálpebra, acreditamos que essa profundidade menor e a maior cobertura da superfície em diâmetro tenham contribuído para a popularização do uso do PBT na blefaroplastia não cirúrgica. Isso nos leva a pensar que as diferenças histológicas são fatores que contribuem para que essas tecnologias apresentem possibilidades individualizadas e complementares na indicação terapêutica.

Segundo Baroni, as vantagens do PBT são a alta precisão, o curto tempo de operação, a ausência de sangramento, o menor dano a outros tecidos, a rápida formação da camada de proteção pós-operatória, a rápida cicatrização da superfície da ferida, o retorno imediato à atividade normal, com ausência de efeitos indesejáveis.14 Observamos que, quando utilizada em regiões de pele mais fina, por proteger as camadas mais profundas e promover um aquecimento mais preciso e controlado, o PBT garantiria menos complicações durante o período de aplicação, uma recuperação mais rápida e com menos efeitos colaterais quando comparado ao CO2L.

No entanto, para a confirmação de nossos achados, são necessários mais estudos que promovam a comparação histológica entre as ZMTs dessas técnicas associadas aos seus resultados.

 

CONCLUSÃO

Estudos que comparam camadas de ablação de CO2L associam maior profundidade a melhores resultados. Entretanto, faltam estudos que comparem essas camadas com o PBT. Inferimos que o maior diâmetro associado à menor profundidade da coluna de ablação são características que justificam o uso do PBT, principalmente em regiões de pele mais delicada, garantindo menos intercorrências no intra e pós-procedimento, recuperação mais rápida e excelentes resultados estéticos. No entanto, são necessários mais estudos para comprovar essa relação.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Ana Gabriella Bandeira Freire Andrade
ORCID:
0000-0002-8023-0134
Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Rossana Cantanhe de Farias de Vasconcelos
ORCID:
0000-0002-6185-1840
Análise estatística; aprovação da versão final do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica do manuscrito.
João Guilherme Finizola de Vasconcelos
ORCID:
0000-0003-1588-4083
Análise estatística; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados.
Ana Maria Bertelli Antonio Gallotti
ORCID:
0000-0003-3113-0564
Concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica do manuscrito.
Caroline Costa de Mendonça
ORCID:
0000-0003-3308-6093
Análise estatística; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura.

 

REFERÊNCIAS:

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