Técnica terapêutica com laser de CO₂ em siringoma vulvar: relato de caso

Data de Submissão: 23/06/2023
Decisão final: 04/10/2023
Fonte de financiamento: Nenhuma.
Conflito de interesses: Nenhum.
Como citar este artigo: Gerbasi GJ, Albuquerque PRC, Cavalheiro DAPH, Chuery ACS, Speck NMG. Técnica terapêutica com laser de CO₂ em siringoma vulvar: relato de caso. Surg Cosmet Dermatol. 2024;16:e20240269.

Abstract

O siringoma é um tumor benigno raro do ducto sudoríparo écrino intraepidérmico, sem etiologia definida, caracterizado por pápulas geralmente múltiplas, bilaterais e amarelo-acastanhadas ou cor da pele, de 1-5mm. A face é a área mais acometida, mas também é encontrado em tórax, regiões glútea, pubiana ou vulvar. Nesse trabalho, foram acompanhadas duas pacientes com lesões papulosas em vulva, com diagnóstico histopatológico de siringoma, que apresentaram boa resposta ao tratamento com laser de dióxido de carbono (CO₂). O tratamento escolhido foi fácil de implementar e demonstrou boa resposta clínica, incluindo melhora do prurido já após a primeira sessão.

Keywords: Siringoma; Doenças da vulva; Prurido vulvar; Adenoma de glândula sudorípara; Lasers

INTRODUÇÃO

O siringoma é um tumor anexial benigno raro do ducto sudoríparo écrino intraepidérmico (adenoma). Caracteriza-se por pápulas amarelo-acastanhadas ou cor da pele, de 1 a 5mm, em geral múltiplas, com distribuição bilateral e simétrica e, às vezes, isoladas. Comumente, trata-se de lesões assintomáticas, mas podem ser associadas a prurido.^1-4 Tem ocorrência mais frequente em mulheres de pele branca durante a puberdade.^5,6 O siringoma ocorre esporadicamente, mas existem formas familiares, com herança autossômica dominante, que afetam igualmente os dois sexos e parecem representar uma forma de mosaicismo.^7-9

A área mais acometida é a face, em particular as pálpebras e as regiões periorbitárias. Outras localizações relatadas são: tórax, pescoço, regiões glútea, pubiana e vulvar. Na região vulvar, pode ser um diagnóstico diferencial de prurido.^1,2,10

O diagnóstico clínico é de difícil identificação, já que pode ser confundido com diversas dermatites ou alergias. Sendo assim, o diagnóstico definitivo é feito por meio do exame histopatológico.¹³ Em secções coradas por hematoxilina e eosina, observa-se, em meio a tecido conjuntivo fibroso, a presença de múltiplos canais pequenos e cordões epiteliais constituídos por dupla camada de células cuboidais achatadas, sem atipias.¹²

Na literatura, são descritas diversas técnicas terapêuticas, tais como excisão,^13,14 eletrocauterização ou eletrodissecção,^15,16 uso oral de isotretinoína, uso tópico de ácido retinoico,¹³ aplicação de laser^4,17-19 ou técnicas que combinam o uso do ácido tricloroacético e o laser de CO₂.^20,21 No entanto, nenhum desses tratamentos elimina o risco de recorrência do siringoma, tornando o tratamento muitas vezes frustrante.²⁰

O laser tem sido utilizado para tratar diversos tipos de tumores cutâneos, como verrugas, adenomas sebáceos e carcinomas de célula basal superficiais.¹⁵ A energia gerada é absorvida pela água, o que leva a pouca condução de calor e pouco dano térmico ao tecido adjacente, permitindo mais precisão, com pouco dano ao tecido saudável e pouca formação de cicatriz.²⁰

Nesse contexto, este trabalho propõe-se a relatar o diagnóstico, o tratamento e a evolução de siringomas vulvares, lesões raras, por meio do laser de CO₂, modalidade que, devido às suas vantagens, deveria ser mais amplamente difundida e utilizada.

RELATO DO CASO

Caso 1

Mulher com 56 anos, menopausa aos 53 anos, queixando-se de prurido vulvar intenso, principalmente após o banho, sem melhora com dexametasona. Exames de colpocitologia e mamografia negativos e atuais. Ao exame físico, observaram-se múltiplas pápulas amarelo-acastanhadas perioculares. Presença de placa hipocrômica e descamativa, em raiz de coxa direita, sugestiva de infecção fúngica, e de múltiplas pápulas amarelo-acastanhadas de 1mm em região de grandes lábios bilaterais, sugestivas de siringoma. Apresentava também uma úlcera de fundo limpo, em região de grande lábio direito, de aproximadamente 0,5cm (Figura 1).

A infecção fúngica foi tratada com cetoconazol por via oral. Também foi realizada biópsia de pápula de grande lábio esquerdo, cujo laudo anatomopatológico confirmou o diagnóstico de siringoma. Assim, frente ao diagnóstico optou-se por realização de vaporização com laser de CO₂. Utilizou-se o aparelho Smartxide (Deka, Florença, Itália) no modo contínuo, na potência de 12W.

Na primeira sessão de laser, optou-se por exérese cirúrgica da úlcera e vaporização das lesões em grande lábio esquerdo (Figura 2).

Após 15 dias, paciente referiu melhora importante do prurido geral, porém mantinha queixa em grande lábio direito. Optou-se por nova sessão de laser para tratar lesões remanescentes. No retorno, após 15 dias da segunda sessão (Figura 3, paciente 1 após 30 dias da 1º sessão), a paciente queixava-se de hipocromia local e leve prurido, porém apresentando grande melhora dessa queixa. Recebeu alta com orientação de seguimento na Dermatologia para as lesões faciais.

Caso 2

Paciente de 46 anos, hipertensa e portadora do vírus da imunodeficiência humana desde 1998, apresentava queixa de prurido vulvar desde setembro de 2020, com diagnóstico clínico de líquen escleroso e diagnóstico clínico-histológico de siringoma vulvar (biópsia realizada em dezembro de 2019). Inicialmente, foi prescrito tratamento tópico com pomada de furoato de mometasona a 0,1% e controle clínico. Paciente retornou 30 dias após o início do tratamento com piora do prurido. Ao exame físico, observou-se presença de placa hipocrômica nos grandes lábios e pequena área hipocrômica em região perianal à esquerda (adquirindo aspecto em “oito”). Presença de lesões múltiplas do tipo siringoma (Figura 4). Optou-se, portanto, pelo tratamento das lesões de siringoma com laser de CO₂.

Foi realizada infiltração anestésica com lidocaína a 2% com adrenalina no local das lesões, seguida de vaporização das pápulas. Repetiram-se os parâmetros do aparelho do caso anterior. No retorno, 30 dias após o laser (Figura 5), a paciente referiu, no pós-operatório, ardência para urinar e manutenção do prurido. Optou-se por nova sessão de laser nas lesões remanescentes nessa mesma consulta (Figura 6). Não houve intercorrências no procedimento. Paciente retornou sem queixas, com melhora do prurido.

DISCUSSÃO

Siringomas são adenomas de glândulas sudoríparas capazes de ocorrer em diversos locais, mais comumente em face, sendo raros na região vulvar.^1-3,17 Geralmente, são lesões assintomáticas, sendo identificadas em exames de rotina.^17,22,23 Nos casos expostos, ambas as pacientes apresentavam lesões vulvares, enquanto uma também apresentava lesões em face. A queixa de prurido intenso estava presente, sendo este o motivo que as trouxe à consulta. A indicação de tratamento é geralmente estética, quando em áreas visíveis, por tratar-se de lesões benignas, não progressivas e geralmente assintomáticas.^19,20,24

Apesar dessas lesões comumente se desenvolverem a partir da puberdade,^5,6 nos casos descritos o diagnóstico de siringoma foi realizado apenas na fase adulta, sendo que uma das mulheres já se encontrava no período de pós-menopausa.

Trata-se de um desafio diagnóstico para o ginecologista e dermatologista, devendo ser considerado nos diagnósticos diferenciais de lesões papulares de vulva, prurido e dor vulvar, sendo o diagnóstico histopatológico essencial.^16,22 E como apresentado, pode estar associado a outras causas de prurido vulvar, como líquen.

O tratamento medicamentoso é pouco eficaz, necessitando de algum tratamento cirúrgico.^22,25 Eles são comumente acompanhados de hiperpigmentação, formação de cicatrizes e recorrência^17,19; contudo, o laser apresenta melhores resultados estéticos²⁰, como evidenciado nesses casos, em que houve apenas uma discreta hipopigmentação na área tratada em uma das pacientes.

O laser ainda é um método de maior custo em relação aos demais¹⁵, estando indisponível em muitos Serviços públicos pelo país. Entretanto, traz como vantagem a realização ambulatorial, apenas com anestesia local, em poucas sessões. A disponibilidade do equipamento no Serviço facilitou o início rápido do tratamento.

CONCLUSÃO

Existem diversos tratamentos para siringomas, como medicamentos tópicos, cirurgia e laser, porém há poucos relatos envolvendo o uso do laser na vulva e seguimento dessas pacientes no pós-operatório. Neste estudo, observou-se que a vaporização com laser de CO₂ foi uma boa opção de tratamento nos casos relatados devido à facilidade de execução em ambiente ambulatorial, satisfação das pacientes em relação ao resultado estético, melhora do prurido e a não necessidade de múltiplas sessões. As pacientes tiveram boa tolerância à dor, sendo que o laser foi realizado apenas com anestésico local, e sem nenhuma complicação grave consequente ao tratamento.

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Giovana Junqueira Gerbasi
ORCID: 0009-0005-7887-1919
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Panny Rushaster Cordeiro de Albuquerque
ORCID: 0009-0008-8631-2019
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Dayane de Assis Pereira Hansen Cavalheiro
ORCID: 0009-0008-8164-1964
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; participação efetiva na orientação da pesquisa; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Ana Carolina Silva Chuery
ORCID: 0000-0002-6645-0392
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Neila Maria de Góis Speck
ORCID: 0000-0002-3713-5393
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

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