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Relato de casos

Eletrocirurgia em rinofima: relato de dois casos

Rogerio Nabor Kondo; Carlos Borges Junior; Laís Gonzalez Leugi; Marina Gubert; Fabiana De Mari Scalone

DOI: https://doi.org/10.5935/scd1984-8773.2024160312

Data de Submissão: 20/10/2023
Decisão final: 08/01/2024
Fonte de Financiamento: Nenhuma.
Conflito de Interesses: Nenhum.
Como citar este artigo: Kondo RN, Borges Junior C, Leugi LG, Gubert M, Scalone FM. Eletrocirurgia em rinofima: relato de dois casos. Surg Cosmet Dermatol. 2024;16:e20240312.


Abstract

O rinofima é caracterizado por inflamação crônica dos tecidos do nariz, resultando em crescimento exofítico e telangiectasias. A doença progride com hiperplasia e hipertrofia das glândulas sebáceas nasais, associadas à fibrose e dilatação dos vasos sanguíneos locais e do tecido conjuntivo. Essas alterações podem levar à deformidade completa do nariz e comprometer a qualidade de vida dos pacientes. Existem diferentes métodos de tratamento, como laser, microdermoabrasão, esfoliação química, criocirurgia, cirurgia com enxerto de pele e eletrocirurgia, com resultados e custos variados. Relatamos dois casos de rinofima tratado com eletrocirurgia com resultados muito satisfatórios.


Keywords: Rinofima; Eletrocirurgia; Relatos de Casos; Deformidades Nasais Adquiridas.


INTRODUÇÃO

Rinofima, também chamada de nariz de alcoólatra, elefantíase nasal, entre outros, caracteriza-se por inflamação crônica dos tecidos do nariz com alteração da textura, cor e vascularização, resultando em crescimento exofítico irregular e presença de telangiectasias.1,2 Tal condição clínica tem forte associação com o alcoolismo e a rosácea, sendo considerada por alguns autores o estágio final desta última.2 Pode ser classificada como hipertrófica simples, quando evolui com hiperplasia e hipertrofia das glândulas sebáceas nasais, ou fibroangiectásica, quando associada à fibrose e à dilatação dos vasos sanguíneos e do tecido conjuntivo locais.1 Essas alterações são responsáveis por conferir o aspecto tuberoso e a coloração mais escurecida da região e podem levar à deformidade completa do nariz.1

A prevalência de rinofima é de 5 a 10% na população geral, sendo mais comumente observada em homens de meia-idade e idosos.3,4 Alguns estudos demonstraram proporções de 12 homens para uma mulher.2 Outros fatores associados incluem história familiar positiva para rinofima, excesso de exposição ao sol, consumo elevado de alimentos condimentados e cafeína - todos esses causadores de rubor facial e rosácea, fatores predisponentes ao surgimento da lesão.1,2

Além ser um problema estético por localizar-se na região central da face, o crescimento exofítico pode ocultar um carcinoma basocelular (CBC).5,6 Há vários tipos de tratamentos citados na literatura, todos com resultados e custos variados.4,5 Relatamos dois casos de rinofima sem associação com neoplasias cutâneas, tratados com eletrocirurgia, um método de baixo custo e com resultados bastante satisfatórios.

 

MÉTODO

Dois pacientes com rinofima fibroangiectásica foram submetidos aos procedimentos cirúrgicos:

PACIENTE 1: Masculino, 46 anos, foi encaminhado ao Serviço de Dermatologia para tratamento de tumoração no nariz, de crescimento progressivo há quatro anos. O paciente apresentava diagnóstico de hepatite B, sem tratamento na época, hipertensão arterial sistêmica, história de tabagismo e de exposição solar diária, sem fotoproteção. Fazia uso de ramipril 10mg ao dia. Ao exame, observavam-se aumento do volume nasal, eritema, telangiectasias, nodulações e espessamento cutâneo, compatíveis com rinofima. Paciente negava tratamento prévio para o quadro. Indicada abordagem cirúrgica (Figura 1).

PACIENTE 2: Masculino, 71 anos, compareceu ao Serviço de Dermatologia devido à queixa de aumento de volume nasal há 20 anos, com piora importante há três anos. Apresentava hipertensão arterial sistêmica como comorbidade e negava etilismo e tabagismo. Fazia uso de atenolol 25mg ao dia. Ao exame dermatológico, observavam-se nariz com espessamento cutâneo, nodulações e eritema. Indicado tratamento cirúrgico (Figura 2).

Descrição da técnica:

Paciente em decúbito dorsal horizontal;

Antissepsia com polivinil-iodina 10% tópico;

Colocação de campos cirúrgicos;

Anestesia infiltrativa com lidocaína 2% com vasoconstritor. Aguardam-se dois minutos para o procedimento;

Seleciona-se o eletrocoagulador no modo corte e potência 20 (Wavetronic® 5000 Digital) e introduz-se o eletrodo de alça (Figura 3A), cortando a pele na profundidade de 2 a 3mm, esculpindo as partes sobressalentes;

Seleciona-se o eletrocoagulador no modo coagular e realiza-se a hemostasia local. Conforme a necessidade de remodelar o nariz, volta-se ao modo corte para excisão do excesso cutâneo e completa-se novamente a hemostasia no modo coagular;

Com a uniformização do tecido nasal eletrocoagulado e a hemostasia completa, realiza-se a limpeza local com soro fisiológico (Figura 3B e 3C);

Conclui-se o procedimento com curativo oclusivo com gaze e pomada de neomicina. Fixa-se o curativo com fita hipoalergênica.

O retorno é feito após 24 horas para retirada do primeiro curativo, com orientações de curativos oclusivos diários (uma vez ao dia) com pomada de colagenase 0,6U/g com cloranfenicol 0,01g/g e reavaliação em sete dias. A partir desse retorno, orienta-se apenas pomada de colagenase (sem cloranfenicol), mantendo ferida operatória sem oclusão, e retornos semanais até completar um mês.

 

RESULTADOS

Ambos os pacientes evoluíram sem hemorragia no pós-operatório imediato, apresentaram epitelização total da superfície do nariz, sem cicatrizes inestéticas, preservando o formato nasal de cada um (Figuras 4 e 5). Os pacientes relataram grande satisfação com o resultado.

 

DISCUSSÃO

As denominações como nariz em "couve-flor" ou nariz do "alcoólatra" foram substituídas por Hebrea, em 1845, pelo termo rinofima. Essa nomenclatura é aceita mundialmente até os dias atuais, derivada do grego, rhino (nariz) e phyma (crescimento). É uma doença não só desfigurante, mas que também pode impactar negativamente na função respiratória, causando obstrução nasal.1

El-Azhary et al. (1991) classificaram a rinofima em três formas: minor (menor), moderado ou major (maior). A forma minor é quando o paciente apresenta telangiectasias acompanhadas de pequeno espessamento da pele. A moderada, quando o espessamento da pele for acompanhado de lóbulos. A major, quando há nódulos proeminentes e hipertrofia nasal.7

Há diversas formas de abordagens, que variam de acordo com a classificação do rinofima. Os métodos mais citados são: laser de YAG/CO2, microdermoabrasão cirúrgica, eletrocirurgia (eletrocoagulação), criocirurgia, equipamento de alta frequência (radiofrequência) e a excisão total com lâmina a frio com enxertia. Não há um método de escolha na literatura, já que os custos e resultados são variados e existe o fator cirurgião-dependente.3

O laser de YAG/CO2 apresenta boa resposta, mas tem alto custo. A microdermoabrasão pode exigir várias sessões. A criocirurgia pode deixar uma hipocromia pós-inflamatória residual principalmente em pacientes de fototipos mais elevados. O resultado estético com enxertia é geralmente insatisfatório, mas pode ser utilizado para reconstrução quando houver CBC associado.3,5

Já a eletrocirurgia (ELC) possui a simplicidade da técnica e o baixo custo dos materiais. As desvantagens são a dificuldade da delimitação do tecido a ser excisionado (cirurgião-dependente) e os riscos de deixar cicatriz ao aprofundar-se demais na pele a ser retirada.5

Em relação à outra complicação da ELC, o sangramento, este pode ser reduzido com o uso de vasoconstritor associado ao anestésico e por compressão manual ou utilizar-se o modo blend (mistura de 50% de corte e 50% de coagulação) no momento do corte.

Nossos casos descritos estão em concordância com a literatura e corroboram os bons resultados obtidos com a técnica.4,5

 

CONCLUSÃO

O tratamento da rinofima pode ser realizado por várias modalidades, com seus riscos e fator cirurgião-dependente. A eletrocirurgia está entre os métodos disponíveis, apresentando um baixo custo e mostrando também resultados satisfatórios, como nos casos apresentados.

 

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:

Rogerio Nabor Kondo
ORCID:
0000-0003-1848-3314
Aprovação da versão final do manuscrito; concepção e planejamento do estudo; elaboração e redação do manuscrito; obtenção, análise e interpretação dos dados; participação efetiva na orientação da pesquisa; participação intelectual em conduta propedêutica e/ou terapêutica de casos estudados; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.
Carlos Borges Junior
ORCID: 0009-0005-2561-3879
Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
Laís Gonzalez Leugi
ORCID: 0009-0009-2586-8141
Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
Marina Gubert
ORCID:
0000-0002-9293-5019
Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
Fabiana De Mari Scalone
ORCID:
0000-0002-5050-8246
Aprovação da versão final do manuscrito; elaboração e redação do manuscrito; revisão crítica da literatura; revisão crítica do manuscrito.

 

REFERÊNCIAS:

1. Daoud M, Ullas G, Kumar R, Raghavan U. Rhinophyma: combined surgical treatment and quality of life. Facial Plast Surg. 2021;37(1):122-131.

2. Chauhan R, Loewenstein SN, Hassanein AH. Rhinophyma: prevalence, severity, impact and management. Clin Cosmet Investig Dermatol. 2020;13:537-551.

3. Dugourd PM, Guillot P, Beylot-Barry M, Cogrel O. Surgical treatment of rhinophyma: retrospective monocentric study and literature review. Ann Dermatol Venereol. 2021;148(3):172-176.

4. Dornelas MT, Correa MPD, Dornelas MC, Dornelas GV, Correa LD, Dornelas LV, et al. Rinofima: análise da técnica cirúrgica por Shave Excision. Rev Bras Cir Plast. 2017;32(3):328-331.

5. Caiado BC, Neto BRC, Caiado LC, Hakme F. Rinofima: aspectos importantes da patologia e tratamento cirúrgico com eletrocautério. Arq Cat Med.2015;44(Supl 1):S180-82.

6. Vasconcelos BN, Vasconcellos JB, Fonseca JCM, Fonseca CR. Dermoquimioabrasão: um tratamento eficaz e seguro para o rinofima. Surg Cosmet Dermatol. 2016;8(1):28- 31.

7. Kassirer SS, Gotkin RH, Sarnoff DS. Treatment of Rhinophyma with fractional CO2 laser resurfacing in a woman of color: case report and review of the literature. J Drugs Dermatol. 2021;20(7):772-775.


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